Correio braziliense, n. 20161, 02/08/2018. Política, p. 2

 

PT e PSB fecham acordo e isolam Ciro

Gabriela Vinhal, Rodolfo Costa e Murilo Fagundes

02/08/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Ao barrar candidatura de petista ao governo de Pernambuco, as duas legendas se aliam em pelo menos 11 estados. Pessebistas se comprometem em se manter neutros na corrida ao Palácio do Planalto, o que desmonta estratégia do ex-governador cearense

A novela protagonizada pelos caciques do PSB em torno de definir apoio a um candidato à Presidência chegou ao fim. Ontem, o partido decidiu manter a neutralidade em âmbito nacional em prol de um acordo firmado com o PT, de Gleisi Hoffmann. Uma resolução foi divulgada para anunciar a aliança das siglas nos estados, principalmente em Pernambuco, diretório que travava a coligação. Com isso, sai de cena a candidata petista ao governo pernambucano Marília Arraes, para que Paulo Câmara (PSB-PE) conquiste a reeleição. Agora, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT), que ensaiava coalizão com os pessebistas, segue isolado na corrida ao Planalto.

Entre os estados que o PT vai apoiar a sigla do presidente Carlos Siqueira estão Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco. Ambos já tendiam a apoiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em vez de Ciro. No texto, o PT afirmou ainda que pretende formalizar o convite ao Pros para integrar a coligação nacional. O objetivo, segundo a resolução petista, é dar prioridade absoluta à candidatura de Lula e construir uma aliança progressista para o país em 2019.

O senador Humberto Costa, líder do PT no Senado, disse que, com o cancelamento da candidatura de Arraes, a Executiva Nacional vai enviar dois dirigentes ao Recife, a fim de tentar amenizar a situação. A ex-vereadora foi comunicada ontem,  por Gleisi, após conversa de Lula e Fernando Haddad, que tem atuado como advogado do petista. Apesar da decisão oficial, Arraes negou, ainda ontem, que deixaria de concorrer como governadora. “A Executiva quer mandar umas duas pessoas pra lá (Recife) para conversar com Marília”, disse o senador. Questionado se, agora, a petista poderia tentar se candidatar a deputada federal pelo estado, o senador afirmou que não sabe do futuro, mas que a decisão “só depende dela”. Arraes espera um recurso que pede ao PT para reconsiderar a decisão.

No Distrito Federal, por sua vez, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que sempre manifestou apoio ao pedetista, tem de rever os planos. Ele contava com a aliança entre os socialistas e Ciro para ganhar musculatura na corrida ao Buriti com tempo de TV. Ontem, disse que manterá o apoio ao pedetista (leia mais na página 17).

Para o socialista Júlio Delgado (PSB-MG), vice-líder da sigla na Câmara, a neutralidade em âmbito nacional evita a rachadura do partido, embora não seja “o melhor dos mundos”. Entre os diretórios que defendiam deixar o partido livre está o de São Paulo, com o governador Márcio França, que declarou apoio a Geraldo Alckmin desde a pré-campanha ao Planalto. A aliança com o PT ou com o PSB, explica Delgado, “não encontrava respaldo de França e outros líderes”.

Além de Carlos Siqueira, Hoffmann negociou acordo também com o PCdoB, de Luciana Santos. O PT apoiará a sigla no Maranhão, na candidatura de Flávio Dino. Enquanto o PSB decidiu seguir neutro, a candidatura de Manuela D’Ávila, 36 anos, à Presidência, foi confirmada ontem durante a convenção nacional do partido, em Brasília. Aprovada por unanimidade, Manuela criticou as reformas do governo Temer e defendeu a liberdade de Lula, preso desde abril em Curitiba.

Após acordo divulgado pelo PSB e o PT, Manuela reforçou diversas vezes a vontade de unir os partidos progressistas em uma só chapa. A candidata assumiu ainda a possibilidade de abrir mão da candidatura para ver a aliança concretizada. “Acreditamos que, no nosso campo, temos diferenças pequenas diante do que representa a crise do país. Somos quatro candidaturas, e não sou óbice para que duas ou três delas se entendam”, afirmou sobre Ciro, Guilherme Boulos (PSOL) e Lula (PT).

Podemos

Além da chapa PT e PSB, a corrida eleitoral ganhou mais uma coligação ontem. O Podemos, do senador Álvaro Dias, e o PSC, de Paulo Rabello de Castro, firmaram união para o pleito. O parlamentar encabeçará a aliança e o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será o vice. A coligação conta também com o PRP, que sinalizou ontem embarque na aliança. A tendência é que outros partidos do chamado centrinho entrem na aliança, como o Pros, que mandou representante ontem à reunião que sacramentou o acordo.

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Pressão por julgamento

Renato Souza

02/08/2018

 

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem papel decisivo na disputa para presidente nas eleições deste ano. Tramita na Corte um recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitando que ele seja posto em liberdade. Nessa ação, o órgão deve avaliar se ele pode ou não se candidatar. No que depender do ministro Edson Fachin, a decisão será rápida em relação ao caso do petista. No primeiro dia após a volta do recesso, que durou um mês, o magistrado defendeu que a situação do ex-presidente seja avaliada antes do dia 15 de agosto — prazo final para o registro de candidatura no Tribunal Superior Eleitoral.

Ao ser questionado se o recurso do ex-presidente deveria ser julgado antes do prazo final para a formalização das candidaturas, Fachin respondeu de forma positiva. “Eu acho que sim.” O magistrado ressaltou a importância de que as ações relacionadas ao pleito sejam julgadas rapidamente. “Toda celeridade em matéria eleitoral é importante para não deixar dúvida no procedimento.”

Edson Fachin foi eleito ontem para o cargo de membro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A eleição ocorreu de forma simbólica, já que ele ocupou uma das vagas reservadas a integrantes do STF. Ele assume a vaga do atual presidente, Luiz Fux, que encerra seu mandato em 14 de setembro. A ministra Rosa Weber será a nova presidente da Corte Eleitoral.