Correio braziliense, n. 20161, 02/08/2018. Economia, p. 6

 

Estoque de imóveis cai no Distrito Federal

Hamilton Ferrari

02/08/2018

 

 

CONJUNTURA » Número de apartamentos e casas à venda no DF recua de 16 mil para 3,8 mil em três anos. Empresários do setor consideram positivas mudanças no financiamento imobiliário anunciadas pelo governo, mas afirmam que é preciso reduzir os juros

As empresas do setor imobiliário aprovaram as mudanças no crédito para o segmento, anunciadas pelo governo na terça-feira. Segundo entidades do ramo, no Distrito Federal, o mercado não está superaquecido, mas o estoque de residências está baixo. Nos últimos três anos, o número de casas e apartamentos postos à venda saiu de 16 mil para 3.858 unidades. Em regiões como Águas Claras, por exemplo, não há mais imóveis de três quartos para serem vendidos. Guará, Taguatinga e Plano Piloto também estão com baixa oferta.

O último índice de velocidade de venda (IVV), medido pela Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), com dados de maio, estava em 6,6%, considerado um patamar favorável para o mercado. O indicador mede a proporção de imóveis vendidos em relação aos ofertados.

A retomada das vendas começou no início de 2017, impulsionada pela diminuição dos preços, a melhora da renda do consumidor e as condições de crédito, apesar de os juros ainda serem altos. “Nossa oferta caiu bastante. São mais de 3,8 mil unidades agora. Estamos 50% abaixo da média histórica”, afirmou o presidente da Ademi-DF, Paulo Muniz. “O resultado é reflexo da conjuntura. Ainda há muita insegurança jurídica e a crise enxugou a oferta. O índice de vendas, pelo menos, mostra que o mercado está ativo”, completou.

Em maio, segundo ele, as vendas também apresentaram “bom desempenho”. As empresas pesquisadas informaram que 244 unidades foram vendidas, total superior ao de janeiro, fevereiro e março de 2018. O movimento também é sentido no restante do Brasil, apesar de a recuperação ainda ser heterogênea. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) e do Bradesco mostram que, no primeiro trimestre, as vendas de imóveis subiram 22,3%, e o estoque caiu 14,8% no país, em comparação com o mesmo período de 2017.

Limitação

O diretor comercial da PaulOOctávio, Pedro Ávila, afirmou que, apesar da melhora, os juros ainda limitam a ampliação dos negócios. “Os bancos precisavam oferecer taxas mais atrativas que as atuais, que estão entre em 9%, 10% ou 11% ao ano. A redução permitiria que mais pessoas tivessem acesso ao financiamento”, avaliou. Apesar da queda da Selic, em 2018, os juros do crédito imobiliário permaneceram no patamar médio de 8% — 7,8% no segmento regulado e 10,1% no livre, segundo o último relatório do Banco Central, com dados de junho. Houve queda de 1,2 ponto percentual em 12 meses.

A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) afirmou que é preciso uma reforma no ambiente de crédito, possibilitando a redução dos custos da inadimplência, dos impostos e outros gastos regulatórios.

Para fomentar o mercado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) elevou de R$ 950 mil para R$ 1,5 milhão o valor máximo dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que possibilita o uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O CMN também acabou com a obrigatoriedade dos bancos destinarem 52% do montante da poupança para o sistema. Na avaliação do governo, as medidas poderão injetar R$ 80 bilhões no setor em seis anos.

Para o corretor de imóveis Alex Braz, a ampliação do teto vai aquecer o mercado. “O movimento será sentido a partir de 2019, quando as medidas entram em vigor. Passadas as eleições, é provável que mais pessoas se disponham a fazer as operações de crédito”, disse.

Apesar disso, relatório feito pela equipe técnica do Bradesco apontou que há vetores “claros” para a diminuição do ritmo do mercado imobiliário. “A taxa de desemprego parou de cair, de forma mais evidente, desde novembro de 2017; a criação de vagas no mercado de trabalho formal (com carteira assinada) tem surpreendido negativamente nos últimos meses; e a renda real desacelerou neste ano, comparativamente à velocidade de expansão observada no ano passado”, diz o documento. “Além disso, a trajetória de melhora da confiança dos consumidores foi interrompida em maio e junho deste ano, apresentando ligeira recuperação em julho, mas ainda em nível bem inferior ao observado no primeiro trimestre.”

________________________________________________________________________________________________________________________________________________

OAS barrada em licitações

Simone Kafruni

02/08/2018

 

 

O Tribunal de Contas da União (TCU) aplicou à construtora OAS uma sanção que a impede de firmar contratos com a administração pública federal pelos próximos cinco anos. A empreiteira é acusada de formação de cartel e fraude em licitação de obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. As irregularidades foram apuradas na Operação Lava-Jato. Cabe recurso ao próprio TCU.

Em recuperação judicial, a empresa também não poderá participar de licitações de governos estaduais e municipais que tiverem recursos federais envolvidos. Os contratos em vigência serão executados normalmente. O relator do processo, ministro Benjamin Zymler, informou que a empreiteira não forneceu informações para que o tribunal calculasse o sobrepreço das obras.

A OAS observou que a declaração de inidoneidade não tem caráter definitivo e que vai recorrer. “É importante que clientes, fornecedores, credores, colaboradores e a opinião pública em geral saibam que a decisão do TCU, neste momento, não afeta o andamento dos negócios da companhia. Os contratos que a construtora mantém com órgãos públicos seguem em vigor”, afirmou a construtora, em nota.

O grupo ressaltou que continua a negociar com autoridades federais o acordo de leniência para honrar dívidas com o patrimônio público. “Entre os itens em negociação estão os contratos que fazem parte da declaração de inidoneidade do TCU”, acrescentou.