O globo, n. 31016, 08/07/2018. País, p. 4

 

Nas telas, a tática de uma campanha que já começou

Juliana Dal Piva

08/07/2018

 

 

Entre estruturas amadoras e profissionais, políticos gravam vídeos na internet e testam seus discursos

A campanha presidencial de 2018 começa oficialmente em 16 de agosto e vai ser a primeira disputa para a Presidência com um novo cenário: a reforma eleitoral proibiu o financiamento de empresas e encurtou o tempo da propaganda eleitoral de 90 para 52 dias. Sobretudo no rádio e na televisão, o tempo decisivo para os candidatos se apresentarem ao eleitor diminuiu de 45 para 35 dias. Agora, na pré-campanha, os políticos não podem pedir voto. Para compensar o tempo curto, políticos investem pesado nas redes sociais, especialmente no Facebook e numa forma específica de espalhar suas mensagens: os vídeos.

Em contato com integrantes das campanhas dos pré-candidatos mais bem colocados nas pesquisas, O GLOBO verificou que eles ainda aguardam a definição das chapas para saber o quanto vão investir na produção audiovisual. A maioria ainda trabalha com equipes pequenas e que já atuavam com os políticos mesmo antes da pré-campanha. Por enquanto, a rotina são os vídeos caseiros e muito uso de celular para transmissão ao vivo de eventos, as lives. Muitos deles também mantêm em suas páginas os típicos vídeos biográficos, apresentando suas trajetórias na vida pública.

O pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, publica diariamente vídeos produzidos com celular por seus cinco assessores mais próximos, que se revezam para estar com ele durante suas viagens. Após a produção, as imagens são editadas, alimentam suas redes oficiais e são distribuídas em grupos no WhatsApp administrados por páginas de defesa de pautas conservadoras, que replicam o conteúdo. Na página de Bolsonaro, também é comum vê-lo em momentos de intimidade, como em 14 de abril, quando ele gravou vídeo correndo na praia com a filha.

Pelo menos desde a viagem à Paraíba em junho, Bolsonaro já estava acompanhado de uma equipe de três profissionais de vídeo com uma câmera profissional. O resultado foi perceptível dias depois em um esboço do que pode vir a ser um slogan ou mesmo até músicas para um jingle. Em 1º de julho, um vídeo sobre sua visita a Fortaleza foi exibido na rede com o mote “#Jair para mudar”. Imagens são acompanhadas de uma música na qual se ouve “muda Brasil, muda Brasil, muda de Verdade, Bolsonaro com amor e com coragem”. Na semana que vem, para combater acusações de racismo, ele vai gravar novos vídeos em um quilombo no Pará.

 

VÍDEOS DE LULA ADIANTADOS

Com mais experiência em campanhas, o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) demonstram já contar com uma produção de imagens com acabamento de vídeo e qualidade técnica profissional e uma quantidade menor de vídeos improvisados com celular, comuns da rede. Uma porção considerável desses vídeos também reproduz semelhanças claras com o que é conhecido nas campanhas eleitorais para a televisão.

Embora Lula esteja condenado em segunda instância e cumpra os requisitos para estar inelegível, o PT pretende insistir no registro da sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No início de junho, o partido divulgou o jingle “O Brasil feliz de novo”. Além disso, Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, produziu, nos meses que antecederam a prisão, muitas horas de gravação que permanecem inéditas. O PT diz que são suficientes para ser usadas em toda a campanha mesmo que Lula não possa gravar novos vídeos. Esse material tem sido divulgado a conta gotas. O último foi publicado em 1º de julho. O PT ainda aguarda autorização do Judiciário para gravar Lula na sua cela na Polícia Federal, em Curitiba.

Nos vídeos de Alckmin, também está presente um preparo e uma qualidade técnica que, em geral, é demonstrada na propaganda eleitoral da televisão. O tucano publica em seu Facebook, por exemplo, uma série chamada “Café com Alckmin”, num formato clássico de encontro com eleitores, no qual discute problemas e fala sobre seu trabalho como governador de São Paulo.

Nas últimas semanas, o tucano também começou a fazer animações virtuais para rivalizar com Bolsonaro. Também patrocinou um depoimento de apoio do apresentador de TV José Luiz Datena, que estuda se lançar ao Senado pelo DEM de São Paulo.

A pré-candidata da Rede, Marina Silva, por sua vez, usa apenas uma “produção caseira” de vídeos feitos com celular por assessores. Por ora, sua pauta é a apresentação da trajetória pessoal, ressaltando prêmios, a infância humilde e trechos de seus discursos. No dia do orgulho LGBT, em 28 de junho, ela publicou e patrocinou um vídeo com um discurso no qual dizia que “aprendeu o direito à diversidade na prática e não na teoria” — maneira de enfrentar parte da artilharia contra ela.

´O pedetista Ciro Gomes também está utilizando as redes para se reapresentar ao público, enfatizando sua trajetória e replicando trechos de entrevistas. Também é possível vê-lo respondendo a perguntas de potenciais eleitores. Como os outros, ele também está usando seu perfil para pontuar sua defesa em temas considerados sensíveis. Em 20 de junho, por exemplo, seu perfil exibiu um vídeo da Mídia Ninja no qual ele e o cantor Caetano Veloso falam sobre sua visão em relação às mulheres na política.

O pesquisador de Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Serpa considera as iniciativas dos pré-candidatos importantes para tentar quebrar a barreira de desconhecimento. Para ele, a semelhança com o antigo horário eleitoral na TV é importante para facilitar a compreensão:

— Claramente os objetivos dos pré-candidatos são diferentes. Em um dos filmes, o Alckmin, por exemplo, explica quem é e por que um médico entrou para a política. Já o Ciro volta com a polêmica sobre o papel da Patricia Pillar na sua campanha. É um pedido de desculpas. Ele identifica que precisa afastar a acusação (Em 2002, Ciro disse que o papel dela era dormir com ele).