O globo, n. 31012, 04/07/2018. País, p. 6

 

CGU apura indicações de Moura em estatal

Vinicius Sassine

04/07/2018

 

 

Primo e advogado de líder do governo foram nomeados na Dataprev

-BRASÍLIA- O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) vai investigar as indicações políticas do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), para cargos comissionados na Dataprev, estatal com perfil técnico, responsável por fornecer soluções de tecnologia a órgãos federais e por processar os pagamentos dos aposentados brasileiros. As indicações do parlamentar, que incluem o primo e um advogado que o defende no Supremo Tribunal Federal (STF), foram reveladas pelo GLOBO na segunda-feira.

Os salários dos indicados por Moura chegam a R$ 18,9 mil. Ele apadrinhou o presidente da empresa, André Leandro Magalhães, e o diretor de Relacionamento, Desenvolvimento e Informações, Antônio Ricardo de Oliveira Junqueira. Depois, o líder do governo Temer no Congresso indicou a cargos de confiança um grupo de pessoas próximas: três advogados de seu entorno e de seus aliados em Sergipe (um deles o defende em processo no STF); um primo; a ex-dona de um salão de beleza; e o irmão do secretário-executivo da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Henrique Menezes Sobral.

Boa parte foi lotada no pequeno escritório da Dataprev em Sergipe. Dois advogados, Rafael Resende de Andrade e Rodrigo Castelli, mesmo depois de formalmente transferidos para Brasília, pouco comparecem à capital. Eles permanecem em Aracaju, assessorando de lá o presidente da estatal. O cabide de empregos na Dataprev inclui ainda um exmotorista de Uber, um exmecânico e um irmão do diretor de Relacionamento.

As revelações feitas na reportagem serão apuradas pela CGU. O ministério informou ao GLOBO que a apuração ocorrerá dentro de auditoria anual de contas relativa a 2017. “O escopo dessa auditoria inclui avaliação da adequação das contratações de livre provimento frente aos normativos internos e às orientações da SEST (Secretaria de Governança das Empresas Estatais)”, disse a CGU por meio da assessoria de imprensa.

 

ANÁLISE DE CADA CASO

Segundo a área técnica do órgão, as informações mostradas na reportagem serão consideradas na auditoria. “Será analisado caso a caso. Caso identificados elementos que comprovem ato ilícito, farão parte do escopo da auditoria”, informou a CGU.

O mapeamento identificou digitais de indicações políticas em pelo menos 16 dos cerca de 60 cargos de confiança existentes na estrutura da Dataprev. A maior parte das nomeações partiu do líder do governo no Congresso, que é pré-candidato ao Senado por Sergipe. Na reportagem, ele defendeu as indicações, dizendo que elas não infringem a lei e que são de “cunho político e pessoal”. A Dataprev também defendeu as contratações.