O globo, n. 31010, 02/07/2018. País, p. 4

 

Inquérito sobre Eunício está há um ano na PGR

Jailton Carvalho

02/07/2018

 

 

Polícia Federal espera para fazer apurações complementares, e Raquel Dodge nega demora

Se depender do ritmo das investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), um dos investigados na Operação Lava-Jato, deverá passar pelas eleições de outubro sem maiores problemas. O principal inquérito aberto contra o senador foi enviado para a PGR, em junho de 2017 e, um ano depois, ainda não retornou à Polícia Federal (PF) para apurações complementares.

Sem os autos, a polícia não tem como analisar documentos ou interrogar investigados. A PGR nega que as investigações estejam paradas. O presidente do Senado, terceiro na linha sucessória, é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro. O inquérito foi aberto pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a partir da delação premiada do ex-diretor de Relações Institucionais da Hypera Pharma (ex-Hypermarcas) Nelson Mello.

Ele disse que repassou R$ 30 milhões para políticos do MDB em transações intermediadas pelo lobista Milton Lyra. Uma parte do dinheiro, R$ 5 milhões, teria sido direcionada a Eunício durante a campanha de 2014 quando ele disputou, sem sucesso, o governo do Ceará.

As acusações sobre movimentação ilegal de recursos foram reforçadas por Ricardo Saud, ex-diretor de Relações Institucionais da J&F. Num dos depoimentos formais ao MP, Saud disse que repassou R$ 5 milhões para Eunício em troca da alteração de uma medida provisória.

O inquérito foi aberto em abril de 2017; em 29 de junho Fachin abriu vista à PGR, e o inquérito não retornou à PF.

Raquel Dodge, que assumiu a PGR em setembro de 2017, negou, via assessoria de imprensa, haver problemas na investigação. Segundo ela, o inquérito chegou “incompleto” à PGR em junho do ano passado e, desde então, “foram realizadas várias diligências e solicitadas diversas providências, a mais recente em 11 de junho”.

Dodge afirma ainda que “a investigação não está e nunca esteve parada”. Diz que “todo o material produzido em decorrência de medidas cautelares e de outras providências está sendo analisado”.

O advogado Aristides Junqueira, que defende Eunício, afirma que o senador já enviou respostas às questões endereçadas a ele pela procuradora-geral e aguarda a autorização para incluir novos documentos aos autos.