Título: A Grécia, com um pé fora do euro
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Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2012, Internacional, p. 9

Bruxelas e Atenas — Os ministros de Finanças da Zona do Euro se reúnem hoje para discutir a incapacidade da Grécia para formar um governo de coalizão, que reacendeu o temor de que o país não terá alternativa senão deixar o bloco monetário, provocando na região um terremoto de consequências difíceis de avaliar. Ontem, após uma reunião com os líderes dos três partidos mais votados nas eleições de 6 de maio, o presidente grego, Karolos Papoulias, fracassou em mais uma tentativa de formar um governo que tenha maioria no parlamento.

O encontro, que reuniu os representantes do grupo conservador Nova Democracia, Antonis Samaras, da Esquerda Radical (Syriza), Alexis Tsipras, e do grupo socialista Pasok, Evangelos Venizelos, ruiu depois de menos duas horas de negociações. Uma nova e desacreditada tentativa de acordo será feita ainda entre hoje e amanhã, prazo fatal para um entendimento. Diante do cenário político fragmentado, a convocação de novas eleições para junho parece ser uma possibilidade cada vez mais concreta.

Nesse caso, os analistas consideram que o Syriza, radicalmente contrário às medidas de austeridade exigidas pelos credores e sócios europeus para manter a Grécia no euro, poderia, desta vez, ocupar o primeiro lugar. E é esse justamente o receio dos mercados, que têm reagido negativamente à incerteza gerada pelo ambiente político em Atenas.

Retorno ao dracma

A crise política agrava ainda mais a situação da Grécia, que atravessa uma recessão e uma crise financeira sem precedentes. Mesmo assim, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não abrem mão dos planos de austeridade para garantir a presença do país na comunidade do euro — hipótese, porém, cada dia mais difícil. “Estamos à beira do retorno ao dracma (antiga moeda nacional) e do desastre”, afirmou o jornal liberal Kathimerini, que classificou a situação de “muito perigosa”.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, afirmou na sexta-feira em Roma que a Grécia deverá sair do bloco se não respeitar seus compromissos orçamentários em troca do plano de resgate aprovado pelos 17 membros da UE que compartilham o euro.

A Alemanha, maior economia europeia, fez novos alertas neste fim de semana enquanto as urnas refletiram nas eleições regionais a insatisfação dos alemães com o socorro da UE à Grécia. “Se Atenas não respeitar sua palavra, será uma opção democrática, mas a consequência será que a base para novas ajudas desaparecerá”, declarou o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann. Na sexta-feira, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, afirmou que a “Zona do Euro pode suportar uma saída da Grécia”.

Além da questão grega, os ministros europeus terão hoje seus olhos voltados também para a Espanha, quarta maior economia da região. O ministro de Finanças espanhol, Luis de Guindos, terá que explicar o plano de reformas no setor bancário anunciado na sexta-feira e suas consequências. Ele também terá de justificar a nacionalização parcial do Bankia, o quarto maior banco do país.