O globo, n. 31068, 29/08/2018. País, p. 6

 

Bolsonaro: policial que mata deve ser condecorado

Jussara Soares

29/08/2018

 

 

Em entrevista ao Jornal Nacional, candidato do PSL diz que direitos para as mulheres já estão previstos na lei e que é diferente de outros políticos tradicionais por pertencer ao ‘baixo clero’; e diz que sua família, embora esteja na política, não é inves

O candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse ao Jornal Nacional que a violência deve ser combatida com mais violência. - O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, voltou a defender ontem, em entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que a violência nas comunidades deve ser combatida com o uso da força. O presidenciável, capitão da reserva do Exército, afirmou que policiais que matarem com “dez ou trinta tiros cada (bandido)”, devem ser condecorados e não processados.

— Ele entra, resolve o problema, se matar dez, 15 ou 20, com dez ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado e não processado —afirmou.

Bolsonaro citou a atuação da missão brasileira no Haiti como um exemplo:

—Qualquer elemento com arma de guerra, os militares atiravam dez, 20, 50 tiros e depois iam ver o que aconteceu. Resolveu o problema rapidamente. Você vê bonde aqui na Praça Seca, no Rio de Janeiro, com 20 homens com fuzil, como é que tem que tratar essas pessoas? Pedindo para levantar as mãos, atirar uma florzinha para eles, ou atirar? Tem que atirar. Se não atirar não vai resolver nunca.

O presidenciável também foi questionado por se apresentar como novo, embora tenha uma longa trajetória de 27 anos como parlamentar, com filhos também políticos, e disse que se diferencia dos colegas por ter sempre pertencido ao chamado ‘baixo clero’.

—Se tivesse, na forma de fazerpolítica, ocupado altos postos, com toda certeza estaria envolvido na Lava-Jato hoje em dia. Então, mantive a minha linha em Brasília — afirmou o candidato, que tinha uma “cola” na mão esquerda, a exemplo do que já havia ocorrido no debate da RedeTV!.

Bolsonaro disse que questões como a desigualdade de salários entre homens e mulheres, que chega a 25%, segundo o IBGE, não precisam de ações afirmativas para serem resolvidas, que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) já contempla regras e que eventuais distorções devem ser resolvidas pelo Ministério Público do Trabalho.

O candidato sugeriu que haveria diferença salarial entre os entrevistadores, os jornalistas Renata Vasconcellos e William Bonner. E foi interrompido pela jornalista.

— O meu salário não diz respeito a ninguém. E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que jamais aceitaria receber um salário menor que um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu.

CARTILHA APRESENTADA

Questionado por seu histórico de declarações sobre homossexuais, o candidato chegou a exibir o livro do projeto Escola Sem Homofobia, e pediu aos telespectadores que tirassem as crianças da frente da TV. Os jornalistas pediram, então, que ele não mostrasse o exemplar, conforme regras da entrevista.

Ao final, o presidenciável foi lembrado de declaração de seu vice, o General Hamilton Mourão (PRTB), que, no ano passado, defendeu que os militares teriam que “impor uma solução” à crise no país.

— As palavras dele estão em consonância como que a sociedade fala. Ele teve a coragem de externar.

O candidato citou então um editorial do jornalista Roberto Marinho, em 1984, no GLOBO.

— Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata? É História.

Em nota, o Grupo Globo respondeu: "O candidato Jair Bolsonaro disse há pouco que Roberto Marinho, identificado com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, apoiou editorialmente o que chamava, então, de revolução de 1964. É fato. Não somente O GLOBO, mas todos os grandes jornais da época. O candidato esqueceu-se, porém, de dizer que, em 31 de agosto de 2013, O GLOBO publicou editorial em que reconheceu que o apoio editorial ao golpe de 1964 foi um erro. Nele, o jornal diz não ter dúvidas de que o apoio pareceu, aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento, a atitude certa visando ao bem do país. E finalizava com estas palavras: 'À luz da história, contudo, não há porque não reconhecer hoje explicitamente que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editorias do período que decorreram deste desacerto original. A democracia é um valor absoluto e quando em risco ela só pode ser salva por si mesma'.”

Ontem, no STF, o julgamento da denúncia por racismo contra Bolsonaro foi interrompido.Até o momento, dois ministros votaram pelo recebimento da denúncia, e dois foram contra. Alexandre de Moraes pediu vista.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Após atacar ex-capitão, Alckmin mir em Temer e Dilma

Silvia Amorim

Cristiane Jungblut

29/08/2018

 

 

Primeira gravação da campanha do tucano para redes sociais mostra o trio enquanto música de fundo diz ‘não dá pra errar de novo’

O candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, decidiu atacar de uma vez só o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, o presidente Michel Temer (MDB) e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no primeiro vídeo oficial da sua campanha para as redes sociais. A propaganda começou a ser divulgada ontem e tem uma linguagem voltada para o público da internet.

O vídeo feito para o jingle do candidato mostra imagens do trio de políticos em sequência enquanto a música diz “não dá pra olhar pra trás, não dá pra errar de novo”. É o ataque mais contundente não só a Bolsonaro, mas também a Temer.

O aparecimento de cada um dos três adversários é seguido por “emojis”, símbolos usados frequentemente em aplicativos de trocas de mensagem na internet. Embaixo da foto de Bolsonaro, a equipe de Alckmin incluiu uma série de carinhas que simulam um vômito. A foto de Temer vem acompanhada de “emojis” raivosos. Já no caso de Dilma, a opção foi por desenhos que aparecem chorando.

O presidenciável está em quarto lugar nas pesquisas de intenções de voto e deposita todas as suas fichas no horário eleitoral, que começa sexta-feira, para ir ao segundo turno. A escolha dos três alvos do filme que começou a ser divulgado ontem está ligada a essa estratégia.

Em São Paulo, o tucano precisa atrair votos de Bolsonaro. Ele também tem sido associado a Temer pela participação do PSDB no governo do emedebista. Por fim, Alckmin tenta se colocar como o anti-PT ao mencionar Dilma. O jingle aposta na mensagem de que é preciso votar com a razão: “O Brasil é Geraldo, é cabeça e coração”.

Na semana passada, a campanha trocou o comando do time da publicidade de Alckmin nas redes sociais. O jornalista Alexandre Inagaki assumiu o cargo para afinar a propaganda do tucano na internet ao trabalho do publicitário responsável pelo programa na TV, Lula Guimarães.

Em outro capítulo da briga por eleitores com Bolsonaro, o PSDB começou uma caça a políticos filiados ao partido que estão declarando voto a adversários de Alckmin. A primeira suspensão foi aplicada anteontem a um vereador do interior do estado que, durante visita de Bolsonaro a Presidente Prudente (SP), na semana passada, afirmou que faria um voto “Bolsodoria” — Bolsonaro para presidente e João Doria (PSDB) para governador do estado.

A sigla enviou uma carta ao vereador de Presidente Prudente Mauro Neves, que é tenente da Polícia Militar, dando prazo de cinco dias para que ele apresente sua defesa ou uma retratação. Desde então, o tucano está coma filiação suspensa. Ao GLOBO, o vereador informou que não havia recebido até ontem a carta. Ele não se manifestou sobre a suspensão da filiação.

Ontem, em Esteio (RS), Alckmin esteve na Expointer —feira agropecuária que receberáquatro candidatos— e defendeu o porte de armas na área rural. No evento, o tucano preferiu o passeio de carrinho, em vez da caminhada. Ainda ouviu gritos de apoio a Bolsonaro. Ana Amélia, candidata a vice, recebeu mais apoio do que o próprio presidenciável.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Haddad é alvo de ação de improbidade em São Paulo

29/08/2018

 

 

Promotoria acusa candidato a vice na chapa do PT de ter conhecimento de pagamento de dívida de campanha com caixa dois

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) ingressou na segunda-feira com uma ação de improbidade administrativa contra Fernando Haddad, candidato a vice na chapa liderada pelo ex-presidente Lula, que está preso em Curitiba. Na ação do MP-SP, Haddad é acusado de saber do pagamento, com recursos de caixa 2, de uma dívida da campanha à prefeitura, em 2012 com uma gráfica. O dinheiro, R$ 2,6 milhões, teria sido repassado pela construtora UTC, segundo a denúncia.

O mesmo fato já gerou uma denúncia na Justiça Eleitoral, que também apura caixa 2 na campanha do petista. Ontem, a Executiva Nacional do PT saiu em defesa de Haddad e afirmou que a denúncia do MP-SP é “falsa, irresponsável e facciosa”.

Os promotores pedem condenação por enriquecimento ilícito e a suspensão de seus direitos políticos. O teor da denúncia é semelhante ao apresentado à Justiça Eleitoral, em maio passado.

Delator da Lava-Jato, o empresário Ricardo Pessoa falou sobre repasses de propina ao PT. O promotor Wilson Tafne, autor da denúncia, afirma que Haddad chegou a participar de um almoço com o empresário, no qual foram discutidas futuras obras na cidade de São Paulo. A aproximação teria sido feita por José de Fillippi Júnior, que foi tesoureiro do PT e prefeito de Diadema.

No almoço, segundo o depoimento do empresário, não foram discutidos valores de doações. A campanha de Haddad registrou doação oficial de R$ 1 milhão da UTC. O promotor argumentou na denúncia que, em geral, não é o candidato que faz o pedido de valores, apenas um representante dele ou o tesoureiro da campanha. O pedido para pagamento da dívida com a gráfica teria ocorrido em 2013, depois que Haddad já havia sido empossado na prefeitura.

A Executiva do PT informou que vai ingressar com representação no Conselho Nacional do Ministério Público contra os autores da ação, considerada partidária e política. E afirma que a denúncia foi feita porque “as últimas pesquisas que mostram a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno”.

“Incapazes de convencer pelas propostas e de vencer através do voto, os adversários da chapa Lula-Haddad e do povo brasileiro apelam mais uma vez para o tapetão judicial, com acusações sem provas para fazer escândalo na mídia", diz a nota.

A assessoria de Haddad também se manifestou, afirmando que já foi demonstrado que o material gráfico produzido na campanha foi declarado e que não havia motivo para receber da UTC por meio de caixa 2.