O globo, n. 31068, 29/08/2018. Colunas, p. 10

 

Sem Romário, debate vira todos contra Paes

Bernardo Mello Franco

29/08/2018

 

 

Nos tempos de jogador, ele era craque nisso. Às vésperas de uma partida difícil, Romário fazia cara de dor e levava a mão à virilha. Era a senha para driblar o compromisso e garantir uma folga no fim de semana.

O Baixinho repetiu a jogada ontem, fugindo do debate promovido por O GLOBO, Extra e Época. Na ausência dele, Eduardo Paes virou o principal alvo dos adversários. Foi cobrado pelos gastos coma Olimpíada, pelo desabamento da ciclovia Tim Maia e, principalmente, pela proximidade com Sérgio Cabral.

“Vários dos seus aliados estão na cadeia”, atacou Indio da Costa. “Vocês construíram uma ciclovia e botaram a culpa por ela ter caído na onda”, disparou Tarcísio Motta. “Você apagou empenhos com uma senha falsa”, emendou Anthony Garotinho, acusando Paes de esconder um rombo nas contas municipais.

O ex-prefeito apanhou, mas também bateu .“Vo-cê é o típico político que quer sempre um carguinho no governo”, disse para Indio, que foi seu secretário de Esporte e Lazer. “Não precisamos de política para empregar todo mundo, ao contrário da sua família”, arrematou, numa resposta a Garotinho.

Nos intervalos, o clima foi mais amistoso. Os candidatos cochicharam, trocaram risos e brincaram com os convidados na plateia. Mesmo assim, houve espaço para encaixar provocações.

Torcedor do Vasco, Tarcísio quis saber os times de Garotinho (Flamengo) e Indio (Fluminense). “Preciso provar que tem vascaíno que não é igual a Cabral e Paes”, explicou. O ex-prefeito não reclamou. Apenas sorriu e fez um coraçãozinho com as mãos.

O bombardeio de ontem não foi coincidência. Apoiado por uma dúzia de partidos, Paes contará com a campanha mais rica e com o maior tempo de TV. Pela lógica da política tradicional, será o adversário a ser batido na corrida ao Palácio Guanabara.

A ausência de Romário também não foi por acaso. No debate da Band, ele demonstrou nervosismo e se enrolou com temas econômicos. Agora parece ter concluído que é mais seguro se esconder no vestiário do que se expor a novas caneladas.

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Frente a frente, a vida de candidato como ela é

Bernardo Mello Franco

Fernanda Krakovics

Jeferson Ribeiro

Juliana Castro

Marco Grillo

Luiz Ernesto

29/08/2018

 

 

Adversários na corrida pelo governo vivem situações inusitadas como a narrativa da morte de uma pessoa que está viva, o nervosismo da equipe em busca do político que havia sumido e tiques nervosos em momentos mais tensos

Situações pitorescas, atitudes inusitadas e acusações bem-humoradas foram ingredientes que marcaram o debate promovido por O GLOBO, Extra e Época, em parceria com a universidade Estácio, com os candidatos ao governo do Rio. Confira a seguir momentos curiosos ou marcantes, cada um a seu estilo.

O erro de Garotinho

Ex-secretário está vivo

Anthony Garotinho (PRP) rebateu uma declaração de Tarcísio Motta (PSOL) sobre o ex-secretário de Saúde Gilson Cantarino e exagerou: disse que o antigo aliado “morreu pobre, em cima de uma cama em Niterói”. O ex-secretário está vivo e enfrenta sequelas de um AVC, segundo informações de sua filha ao GLOBO.

Indio onipresente

Secretário de (quase) todos

Indio da Costa (PSD), que fala em rompimento com a velha política, teve de aguentar piadas sobre sua presença nos governos de Cesar Maia, Sérgio Cabral, Pezão, Marcelo Crivella e do próprio Eduardo Paes (DEM). “Você não resiste a pleitear um carguinho”, zombou Paes. No fim, Tarcísio foi à forra: “O Indio não será meu secretário”. Arrancou risadas até do próprio Indio.

O grupo de WhatsApp

Conversas indiscretas

Tarcísio também ironizou as afinidades políticas que seus adversários já tiveram no passado. “Devem ter um grupo no zap”, disse, provocando risadas. Em outro momento, o candidato do PSOL cobrou Paes por mensagens trocadas com o empresário Jacob Barata Filho, o “Rei do Ônibus”. Indio também entrou no assunto: no fim do debate, deu um número de telefone para os eleitores mandarem mensagens.

Legado olímpico

Sucesso ou fracasso?

Tarcísio Motta acusou o exprefeito Eduardo Paes de ter deixado um legado de dívidas e de promessas não cumpridas nos Jogos Olímpicos, além de citar a queda da ciclovia Tim Maia. “O que o senhor tem a dizer para o eleitor que foi enganado com o mito dos megaeventos que viraram mega fracassos?”, questionou Tarcísio. Paes defendeu o legado olímpico, citando corredores de transporte públicos como a Transcarioca e negou que o evento esportivo tenha deixado dívidas.

Liga para mim

Telefonema revelado

Condenado em segunda instância por improbidade administrativa, em ação que o acusa de participar do desvio R$ 234,4 milhões da Secretaria estadual de Saúde entre 2005 e 2006. Garotinho teve a candidatura contestada pelo Ministério Público. Indio citou as prisões do ex-governador entre 2016 e 2017 —relacionadas a outros casos — e ouviu uma ironia como resposta. “Aliás, você (Indio) me ligou para dizer que a Lei da Ficha limpa não cabe no meu caso, porque não fui condenado por enriquecimento ilícito. Você mesmo me disse”. Garotinho ainda tentou minimizar suas prisões e reagiu mirando Eduardo Paes. “A população sabe que a minha prisão não tem nada a ver com a Lava-Jato. Foi um processo eleitoral em Campos. Lava-Jato é a praia do Eduardo Paes e da turma do MDB”, disse o exgovernador Garotinho.

Dos pés à cabeça

Cada um com sua mania

Os candidatos mostraram comportamentos peculiares ao longo do debate. Quando não era sua vez de falar, Garotinho balançava constantemente os dois pés. Indio da Costa não parava de fazer anotações. Tarcísio e Paes passavam boa parte do tempo consultando documentos. Durante a fala de adversários, as posturas também foram distintas. Geralmente, Garotinho, Tarcísio e Indio se viravam em direção ao adversário, prestando atenção no que era dito. Tarcísio também chamava a atenção por ser o que mais gesticulava. Paes costumava olhar para frente e às vezes sorria quando era atacado. “Eu olhava em direção às câmeras. O objetivo era me voltar para o espectador que estava acompanhando o debate”, justificou o candidato do DEM.

Casos de família

Os gritos de Clarissa

Garotinho foi o único que teve torcida desrespeitando as determinações para que o público no auditório não se manifestasse em favor dos candidatos. Os incidentes aconteceram já no fim do debate, envolvendo sua filha, a deputada Clarissa Garotinho (PROS) e a presidente do PRP, Eliane Cunha, que estavam sentadas bem próximas. Após ouvir Eduardo Paes acusar Garotinho de usar a política para empregar a família, Clarissa não se conteve. Aproveitou que o candidato do DEM elogiava o próprio pai, advogado, e disparou: “Pena que você não é bem-sucedido como ele. É só bacharel”.

Ajudinha

O ‘marqueteiro’ Freixo

Tarcísio Motta foi o único que, nos intervalos, teve o reforço de um parlamentar para assessorá-lo. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que tenta uma cadeira na Câmara Federal, faz parte do grupo político que orienta Tarcísio na campanha. Foi dele, por exemplo, a sugestão de que Tarcísio falasse ironicamente que na troca de acusações feitas entre Garotinho e Paes “os dois tinham razão”. Durante o debate, Freixo também gesticulava cobrando o cumprimento dos minutos destinados a cada candidato e, quando havia um atraso, fazia questão de reclamar.

Aperto

No fundo, à esquerda

Uma assessora de Indio da Costa viveu momentos de tensão entre o primeiro e o segunda blocos do debate. O candidato foi o único a aproveitar um dos intervalos para ir ao banheiro. Nervosa, temendo que Indio não voltasse a tempo, ela se postou na frente de um dos sanitários. De fora, tentou chamar o candidato: “Indio, já começou!”, tentava avisar. Detalhe: Indio não estava lá, já havia voltado para o palco e estava pronto para o debate.

Escanteado

Fora da rodinha

A relação entre os candidatos foi cordial nos intervalos. No entanto, o exgovernador Anthony Garotinho ficou mais isolado do que os outros. Raramente participava das conversas descontraídas entre os demais. Ao fim do encontro, ainda no auditório, ele foi cumprimentado apenas pelo candidato Tarcísio Motta.