O globo, n. 31067, 28/08/2018. País, p. 8
Jucá deixa liderança do governo no Senado
Leticia Fernandes
Karla Gamba
28/08/2018
Candidato à reeleição por Roraima, senador defende fechamento de fronteira, ao contrário do Planalto
Quase seis meses depois de assumir a liderança do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR) anunciou que resolveu deixar o cargo por desentendimentos com o Palácio do Planalto por conta do posicionamento do governo em relação aos imigrantes venezuelanos em Roraima, seu berço político. Ele esteve ontem com o presidente Michel Temer para comunicar sua decisão, conforme escreveu no Twitter.
O senador chegou a propor a Temer, na semana passada, o fechamento temporário da fronteira com a Venezuela, especialmente na cidade de Pacaraima, logo depois de a cidade ter sido palco de cenas de violência contra imigrantes, em que brasileiros atacaram acampamentos e expulsaram venezuelanos do país. O Planalto pediu um estudo técnico, mas descartou a hipótese do fechamento.
Candidato à reeleição para o Senado, Jucá é adversário da governadora de Roraima, Suely Campos (PP), e vinha reclamando que ela estaria do uso fazendo político da questão no estado. Na busca pela reeleição, a governadora pediu por duas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) o fechamento da fronteira com a Venezuela e tenta imputar ao governo federal a responsabilidade pela crise.
Ao sair da reunião, Jucá afirmou que não estava rompendo como governo, mas ressaltou que, nas questões que envolvem acrise em Roraima, era adversário. O senador disse que entre o governo federal e o estado de Roraima, escolhia estar coma população:
—O governo teve uma semana para estudara proposta e entendeu que não pode fazer o que estou propondo. Por discordar dessa posição é que entreguei o cargo.
Segundo Jucá, o governo tem“boa vontade ”, mas precisa“se mover para resolvera questão ”. Em um acarta entreguea Temer, o senador classificou como“paliativas” as medidas implementadas na região.
TRADIÇÃO DE ACOLHIMENTO
A decisão sobre o novo líder do governo no Senado ainda não foi anunciada, mas Jucá sinalizou que o vice-líder Fernando Bezerra Coelho (MDB) poderia substituí-lo. Após o comunicado de Jucá, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, se pronunciou em nome do Planalto reiterando a posição contrária ao fechamento da fronteira:
— O senador nos sugeriu o fechamento da fronteira, mesmo que temporário, mas o governo entendeu que era impossível, pelos compromissos internacionais e pela tradição de acolhimento do Brasil.