O Estado de São Paulo, n.45551 , 05/07/2018. ARTIGO, p.A4

PRESIDENCIÁVEIS PROPÕEM CORTAR IR E CONTROLAR JURO

 

 

 

Eleições. Propostas são apresentadas durante evento em Brasília com a presença de dois mil empresários; possibilidade de alteração da reforma trabalhista é criticada

 

BRASÍLIA

 

Em um encontro ontem com cerca de 2 mil empresários, em Brasília, pré-candidatos à Presidência apresentaram propostas econômicas como o controle do câmbio e dos juros e a redução de impostos para as empresas. A primeira medida foi defendida pelo presidenciável do PDT, Ciro Gomes, que também prometeu usar bancos públicos do País para baratear o crédito. Ainda no evento, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), enquanto o tucano Geraldo Alckmin falou em diminuir o Imposto de Renda das companhias, Marina Silva (Rede) gerou reação negativa da plateia ao prometer rever pontos “draconianos” da reforma trabalhista. Ciro também disse que pretende mudar o texto aprovado pelo Congresso.

Ao prometer reduzir o imposto das empresas, o presidenciável tucano citou como exemplo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Veja que nos Estados Unidos o presidente Donald Trump reduziu o imposto. Temos de estimular novos investimentos e fazer com que venham para cá”, afirmou Alckmin. Após a palestra, porém, coube ao assessor econômico de Alckmin, Persio Arida, explicar que a queda de arrecadação seria compensada com a adoção de um novo imposto. Ele incidiria sobre os dividendos pagos pelas empresas a seus acionistas – uma pauta polêmica e defendida, historicamente, pela esquerda.

Presente na plateia, o industrial do ramo cerâmico Francisco Xavier de Andrade afirmou que a redução de impostos poderia ter efeito positivo sobre as contas públicas, ao estimular o aumento de empregos formais. “Com alíquota menor, a informalidade diminui, o que aumenta a arrecadação.”

 

Câmbio. Ciro Gomes, do PDT, também escolheu para sua fala dois temas caros aos empresários – câmbio e juros. “Vou agir nos dois preços centrais que estão desindustrializando o Brasil”, disse ele. Sem citar valores, defendeu um patamar para o dólar que estimule as exportações. No caso da taxa de juro, disse que pretende usar o Banco do Brasil e a Caixa para baratear o crédito, citando na sequência uma das operações mais comuns na contabilidade das empresas – o desconto de duplicata. Segundo ele, o juro nessa operação poderia cair pela metade, para 0,75% ao mês. O uso dos bancos públicos também foi um dos instrumentos adotados pela presidente cassada Dilma Rousseff para forçar as instituições privadas a cortar suas taxas.

José Luis Korman, empresário do ramo de tecnologia do Rio Grande do Sul, viu colegas aplaudindo a proposta, mas demonstrou contrariedade. “É um canto de sereia de curto prazo. A experiência já mostrou que o controle de preços é o pior cenário”, disse.

O custo do crédito também foi citado por Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB, e por Marina Silva, da Rede, que prometeram adotar medidas para baratear o custo dos empréstimos, mas sem interferência de bancos públicos.

 

‘Selvagem’. A promessa de rever pontos da reforma trabalhista, ao contrário, gerou reação negativa dos empresários. Marina prometeu rever pontos “draconianos”, enquanto Ciro disse que a mudança foi “selvagem”, o que provocou vaias de alguns presentes. “Fui vaiado por uma pequena fração, mas não estou preocupado.”

O deputado Jair Bolsonaro defendeu a ampliação do espaço da iniciativa privada na economia e a redução do Estado, com corte no número de ministérios. Ele voltou a dizer que pretende indicar mais militares para cargos-chave da sua administração. Mas o pré-candidato do PSL foi criticado por alguns participantes por não ter detalhado nenhuma proposta de maior interesse dos empresários, como a reforma da Previdência. / FERNANDO NAKAGAWA, FELIPE FRAZÃO, LEONENCIO NOSSA e RENAN TRUFFI

 

PRESIDENCIÁVEIS

● Pré-candidatos ao Palácio do Planalto anunciam propostas econômicas em encontro com industriais

 

Geraldo Alckmin (PSDB)

●  Reduzir imposto de renda das empresas

● Imposto sobre dividendos

● Substituir IPI, PIS/Cofins, ISS e ICMS por único imposto

“Vou reduzir o imposto de renda da pessoa jurídica. Temos de estimular novos investimentos. Venha para cá. Para investir.”

 

 

 

Marina Silva (Rede)

● Câmbio flutuante, superávit primário e meta de inflação

● Reverter reforma trabalhista

● Agências reguladoras independentes

“A reforma trabalhista carece de mudanças. Não acho que deve ser revogada, mas revisitada para rever injustiças.”

 

Jair Bolsonaro (PSL)

● Rediscutir a reforma da Previdência

● Reduzir ministérios para 15

● Reduzir prazo para emissão de licenças ambientais

“Dá para manter a inflação, diminuir a taxa de juros, um dólar que não atrapalhe quem quer importar sem aumentar impostos? Dá.”

 

Henrique Meirelles (MDB)

● Reforma tributária

● Ampliar concorrência bancária por meio de fintechs

● Melhorar produtividade com práticas internacionais

“Vou basear minha campanha no que fiz nos governos Lula e Temer. As pessoas vão saber que o responsável por aquela época fui eu.”

 

 

 

Ciro Gomes (PDT)

●Controlar preço do dólar e juros para ajudar indústria

●Recriar Taxa de Juro de Longo Prazo

● Nova reforma trabalhista

“Não tenho poder de revogar a reforma trabalhista no 1.º dia. Precisamos substituir essa selvageria por uma verdadeira reforma.”

 

Alvaro Dias (Podemos)

● Rediscutir a proposta de reforma da Previdência

● Nova reforma trabalhista

● ‘Competição’ na exploração e distribuição de combustível

“Há necessidade de reestudar a proposta de reforma da Previdência. Não há como evitar a idade mínima.”