O globo, n. 31066, 27/08/2018. País, p. 4

 

CRIMES IMPUNES

Carolina Heringuer

27/08/2018

 

 

 Recorte capturado

De 13 mortes de políticos, só 3 foram solucionadas

Entre 2015 e 2016, o Estado do Rio registrou uma série de assassinatos de vereadores e pré- candidatos na Baixada Fluminense. Foram 13 homicídios em nove meses. De Lá Para Cá, somente três foram esclarecidos pela polícia. Assim como o caso da vereadora do PSOL Marielle Franco, assassinada há cinco meses, outros dez homicídios permanecem sem solução. Ao todo, foram mortos três vereadores, nove pré- candidatos e um assessor. O medo de testemunhas, que temem represálias e não confiam no programa de proteção do estado, é uma das principais dificuldades relatadas por investigadores.

A violência nas urnas preocupa as autoridades. O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, Carlos Eduardo da Fonseca Passos, já destacou que a ação de grupos criminosos será combatida inclusive com cassação de registros eleitorais. Também foi criada uma coalizão envolvendo a intervenção federal no Rio para coibir os crimes.

A execução da pré- candidata a vereadora Aga Pinheiro Lopes, à época filiada ao DEM, no dia 12 de julho de 2016, foi um dos casos solucionados pela Polícia Civil e revela o poder de quadrilhas, mesmo em cidades mais distantes da Região Metropolitana.

De acordo com as investigações, a vítima foi assassinada a tiros por traficantes em um bar na localidade da Barbuda, em Magé, a 60 quilômetros do Centro do Rio. Aga, que era presidente da associação de moradores do bairro, combatia o tráfico de drogas local e queria acabar com alguns pontos de vendas de entorpecentes. A vítima também atendia a várias reclamações e pedidos de moradores. Seu trabalho como líder comunitária a levou para a política local.

De acordo com testemunhas, a atuação de Aga incomodou os criminosos da Barbuda. O traficante Douglas Campos dos Santos Lopes, acusado de ser o chefe do tráfico na região, foi apontado pela polícia como um dos executores de Aga. Em abril deste ano, ele foi condenado a 13 anos e quatro meses de prisão por homicídio duplamente qualificado, no caso de Aga.

Para especialistas, anão solução para esses homicídios é um fato eleitoral grave.

—A falta De elucidação é o sinal da incapacidade de manter o Estado de Direito e a democracia com a dignidade que a população merece. A impunidade acaba por incentivar mais crimes — avalia o ex-chefe do Estado Maior da PM e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ, coronel Robson Rodrigues.

Outro caso na mesma região foi o de Geraldo Cardoso Gerpe (PSB), o Geraldão. Ele foi executado com dois tiros no estacionamento da Câmara de Vereadores de Magé, na noite do dia 13 de janeiro de 2016. Esse é um dos casos cuja motivação política é mais evidente. Apesar do local do crime, o homicídio ainda não foi esclarecido.

A principal linha de investigação da polícia aponta que uma disputa política no município estaria por trás do crime. O vereador, que havia sido secretário de Ordem Pública na gestão do prefeito Nestor Vidal (MDB), estava à frente de uma comissão que investigava irregularidades relativas à gestão do antigo aliado.

Em outros casos, há linhas de investigação diferentes, como crime passional e briga de trânsito.

MEDO DIFICULTA APURAÇÃO

Para o titular da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), Daniel Rosa, parte da dificuldade nas investigações está relacionada ao receio de testemunhas. Ele cita problemas no programa de proteção do estado para essas pessoas:

— As testemunhas têm muito medo de colaborar por causa da ineficácia do programa. Sentem-se inseguras e ficam desguarnecidas. Todas essas investigações se tornam extremamente difíceis por isso.

Já em Duque de Caxias, as investigações apontam uma conexão entre três das 13 mortes. As vítimas — Leandro da Silva Lopes, o Leandrinho; Sérgio da Conceição de Almeida Junior, o Berém do Pilar; e Denivaldo Meireles da Silva — se conheciam e atuavam juntas. Os dois primeiros eram pré candidatos a vereador, e o terceiro, contador, auxiliava ambos em suas pretensões políticas.

Os inquéritos ainda não foram concluídos, mas a linha mais forte da DHBF é a de que os crimes estejam ligados ao furto de combustível de dutos da Petrobras.