O globo, n. 31066, 27/08/2018. Rio, p. 11

 

A cada 15 minutos, uma mulher é agredida no Rio

Pedro Zuazo

Marcelle Carvalho

27/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Polícia registrou 39.646 casos de lesão corporal no ano passado; a maior parte dos crimes foi cometida dentro de casa e pelo companheiro da vítima. Delegada responsável por investigações ressalta que subnotificação ainda é alta no estado

Uma mulher foi agredida a cada 15 minutos, em média, no ano passado, no Estado do Rio. Dados do Instituto de Segurança Pública, obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostram que, de janeiro a dezembro, foram registrados 39.646 casos de lesão corporal dolosa e lesão corporal seguida de morte. Na maioria das vezes, o crime foi cometido pelo companheiro dentro de casa.

Apesar do grande número de notificações, a quantidade real de casos pode ser ainda maior, dizem especialistas. Segundo a delegada titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher ( Deam), Débora Rodrigues, seis anos após a criação da Lei Maria da Penha, a subnotificação continua sendo um desafio:

— Cada mulher que vai à delegacia denunciar agressão alega que sofre violência há cinco, dez, às vezes, 15 anos, e que nunca fez o registro. Num primeiro momento, existe vergonha em denunciar. Depois, em muitos casos, o casal faz as pazes, e a vítima volta para tentar retirar a queixa, o que não é permitido. Assim funciona o ciclo da violência.

Uma advogada, de 39 anos, contou ao GLOBO ter sido agredida dentro de casa pelo marido, com quem foi casada por quase dez anos. Após o episódio, a vítima se separou, mas, para preservar a família, nunca denunciou o agressor, com quem teve dois filhos:

— Ele era muito apegado a bens materiais e, depois de perder o emprego, as coisas foram piorando. Um dia eu o confrontei. Ele segurou meu braço, me sacudiu e me jogou contra a parede.

Nos últimos anos, no entanto, os registros de agressões contra a mulher estão em queda. Em 2014, foram 56.039 casos. Nos anos seguintes, caíram para 49.287 (2015) e 44.701 (2016). Apesar da redução, essa trajetória pode ser um reflexo do sucateamento de políticas públicas para mulheres, como diz a coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher, da Defensoria Pública estadual, Flávia Brasil Barbosa:

—A partir de 2014, a União reduziu os recursos para o combate à violência contra a mulher. Isso afeta diretamente os centros de atendimento, que são fundamentais. Sem acolhida, a mulher deixa de buscar a Justiça.