O globo, n. 31063, 24/08/2018. País, p. 4

 

TEMPO DE TV DETERMINA ESTRATÉGIAS

Dimitrius Dantas

Jussara Soares

Luís Lima

Sérgio Roxo

Silvia Amorim

24/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Alckmin terá espaço de sobra; Bolsonaro vai focar em vídeos na web

A uma semana do início do horário eleitoral gratuito, a preparação dos principais candidatos à Presidência para os programas em rádio e TV revela o quanto o tempo nos programas vai ditar a estratégia para alcançar o eleitor. Ao mesmo tempo em que avaliam a melhor forma para apresentar propostas, os candidatos se concentram para tentar diminuir o potencial de crescimento dos adversários nas pesquisas de intenções de voto.

Dados divulgados ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram grande diferença do tempo de exposição. Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas no cenário sem o nome do ex-presidente Lula, terá direito a 11 inserções em 35 dias de campanha, enquanto o tucano Geraldo Alckmin, quarto colocado nas sondagens sem Lula, terá, no mesmo período, direito a 434 inserções. Do PDT, Ciro Gomes contará com 51 programas de 30 segundos até o fim da campanha. Já Marina Silva (Rede) contará com 29 inserções.

Com o maior tempo, a campanha de Alckmin estuda qual a melhor forma para roubar votos de Jair Bolsonaro usando a TV. Inserções já foram gravadas e estão sendo testadas para analisar o impacto, principalmente no público feminino. Este é o segmento em que o desempenho de Bolsonaro é o mais baixo segundo as pesquisas eleitorais.

No início da próxima semana, Alckmin e sua equipe têm reunião marcada de alinhamento de estratégias para a estreia no rádio e TV. Para alguns aliados, no entanto, o tucano deveria se apresentar desde o início mais ofensivo. A dúvida é se a estratégia agressiva na TV renderá benefícios ao candidato.

Empacado num quatro lugar nas pesquisas há meses, Alckmin tem pedido a aliados paciência porque ele acredita que começará a crescer a partir da veiculação do horário eleitoral. Como será uma campanha curta, apoiadores do tucano consideram razoável esperar até duas semanas de horário eleitoral para o candidato mostrar esse crescimento. Depois disso, suas chances deverão ser colocadas em dúvida.

Já a campanha de Bolsonaro vai usar o tempo para chamar eleitores para a internet. Será pelas redes que ele responderá também às críticas. De acordo com a coordenação da campanha, o planejamento é que, durante a exibição do horário eleitoral, o candidato faça uma transmissão ao vivo nas redes sociais. O bate-papo com os eleitores só não ocorrerá se ele tiver alguma agenda de campanha que impossibilite a transmissão.

—Já que não temos tempo na TV, vamos falar com eleitor pela internet — disse Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo.

LULA E HADDAD

O programa de TV deverá usar vídeos de internet feitos por apoiadores e imagens que têm sido captadas por uma equipe de cinegrafistas que o acompanha nas agendas. Diferentemente de outras campanhas, Bolsonaro não dedica tempo para gravar programa.

Com pouco tempo à disposição, Marina pretende usar o horário eleitoral para reforçar a identificação do seu discurso ambientalista com o de seu vice, Eduardo Jorge. Além das tomadas feitas sem ensaio de atos e discursos de campanha, a candidata da Rede gravará em São Paulo uma passagem de seu programa eleitoral.

A candidata costuma criticar os investimentos dos outros candidatos em marqueteiros, principalmente em relação à campanha de 2014.

Preocupado com as críticas a respeito de seu temperamento, Ciro Gomes pretende evitar no rádio e na TV ataques aos adversários. Focado em propostas nas áreas de segurança pública e economia, as críticas aos demais candidatos têm sido feitas em declarações durante suas agendas de campanha.

Uma equipe de vídeo viaja com o pedetista há algumas semanas, e o candidato já gravou partes de seu programa em estúdio. Na estrada, alguns trechos foram filmados no centro de Guarulhos, com Ciro interagindo com a população. Segundo a comunicação de sua campanha, além do jingle, que tem como mote a palavra “mude”, os primeiros programas vão apresentar sua biografia e propostas, sobretudo econômicas e de segurança.

Caso decida utilizar todo o prazo a que tem direito para apresentar sua defesa às 16 impugnações protocoladas contra sua candidatura, o ex-presidente Lula deverá aparecer na propaganda eleitoral antes de ter o registro de sua candidatura julgado pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De qualquer forma, o PT se prepara para usar o início da propaganda na TV para popularizar o nome de Fernando Haddad, inicialmente aparecendo como candidato a vice. Pesquisas do Ibope e da Datafolha mostraram que o ex-prefeito de São Paulo ainda é desconhecido de boa parte do eleitorado brasileiro.

Na abertura do horário eleitoral, o partido exibirá um vídeo sobre o registro da candidatura de Lula no (TSE). Haddad aparece como uma espécie de apresentador. (Dimitrius Dantas, Jussara Soares, Luís Lima, Sérgio Roxo e Silvia Amorim)

35

Será a duração do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV durante o primeiro turno

28

De 30 segundos acontecerão todos os dias da semana ao longo das programações

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Legislação pode limitar uso da imagem de Lula por Haddad

André de Souza

Renata Mariz

24/08/2018

 

 

A estratégia do PT de explorar ao máximo a imagem de Lula na propaganda eleitoral pode esbarrar na interpretação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre limites dessa aparição enquanto o candidato não tiver sua situação definida.

A minirreforma eleitoral estabeleceu que um candidato em eleição proporcional pode aparecer na campanha de um candidato majoritário para pedir voto para seu companheiro de partido, ocupando no máximo 25% do tempo de propaganda.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula deve ter o registro de candidatura negado pela Justiça Eleitoral por ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de políticos condenados por um colegiado de segunda instância. Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.

O petista, no entanto, é considerado o principal cabo eleitoral do PT, que tentará eleger o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, hoje formalmente seu vice na chapa presidencial. E o objetivo é explorar a imagem do ex-presidente na propaganda de rádio e TV.

A legislação eleitoral não proíbe, mas na eleição municipal de 2016, alguns tribunais regionais eleitorais interpretaram que as manifestações de apoio ao candidato devem ser limitadas a 25% do tempo de propaganda. Agora é a primeira eleição geral sob a vigência da norma e não há clareza sobre como o TSE se posicionará.

Em 2016, ao julgar um caso, o tribunal de Santa Catarina entendeu que o limite de 25% se aplica também a “apoiadores com relevo político, social ou artístico, capazes de influenciar na vontade do eleitor”.