Correio braziliense, n. 20215, 25/09/2018. Política, p. 3

 

Campanha em suspense

Leonardo Cavalcanti e Murilo Fagundes

25/09/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Levantamento do instituto Ibope revela que o eleitor se afastou do centro, buscando os polos representados por Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Enquanto o capitão reformado mantém percentuais, petista sobe além da margem de erro

O resultado da pesquisa Ibope divulgada na noite de ontem reforça a polarização da campanha a menos de duas semanas das eleições. O levantamento apresenta dois pelotões na corrida. O primeiro, formado por Jair Bolsonaro, do PSL, com 28% das intenções de voto, e o segundo por Fernando Haddad, do PT, com 22%, que estão a mais de dez pontos, no mínimo, dos terceiro, quarto e quinto colocados: Ciro Gomes (PDT), 11%, Geraldo Alckmin (PSDB), 8%, e Marina (Rede), 5%.

A pesquisa confirma a tendência de que o eleitor se afastou do centro, indo em direção aos polos representados pelos candidatos do PSL e do PT. Enquanto Bolsonaro parece não subiu, Fernando Haddad, a partir da conquista de eleitores do sexo feminino e da classe de menor renda, que até então eram os mais indecisos, cresceu três pontos percentuais. Na rabeira, aparecem João Amoêdo, do Novo, com 3%, Alvaro Dias, do Podemos, e Henrique Meirelles, do MDB, com 2%, e Guilherme Boulos, do PSol, com 1%. Cabo Daciolo, Vera Lúcia, João Goulart Filho e Eymael não pontuaram.

Em relação aos levantamentos anteriores do Ibope, Bolsonaro ganha rejeição — 42% a 46% — e perde intenção de voto nos cenários de segundo turno. O deputado, que está internado desde o início de setembro no Hospital Albert Einstein, sairia derrotado se fosse confrontado por Ciro (46% a 35%), Haddad (43% a 37%) e Alckmin (41% a 36%) na segunda etapa. O líder das pesquisas empataria somente com a ex-senadora Marina Silva (39% a 39%), que despenca nos levantamentos.

Para o cientista político David Fleischer, especialista em eleições, as propagandas negativas em cima de Bolsonaro influenciaram para a estagnação do militar. “Além das várias críticas em propagandas na televisão e no rádio, a ausência física, apesar de toda a cobertura gratuita feita pela imprensa, fez Bolsonaro estacionar”, sustenta. Segundo Fleischer, a tendência de crescimento de Haddad e a migração de votos do centro podem mudar o cenário. “Em duas semanas, muita coisa pode acontecer. Os partidos do centrão estão desanimados com o Alckmin. Então, resta saber para onde vão esses votos se ele não reagir”, avalia.

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Alckmin redefine estratégia

Leonardo Cavalcanti

25/09/2018

 

 

A 13 dias das eleições e no quarto lugar nas pesquisas de intenção de votos, o ex-governador Geraldo Alckmin redefiniu a estratégia de ataque. Os alvos são os mesmos — Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) —, o que mudou foi o conteúdo da munição. Na disputa direta com Ciro Gomes (PDT), o tucano vai centrar fogo na inexperiência do capitão reformado do Exército e no envolvimento de petistas com atos de corrupção.

A lógica é não avançar para cima de Ciro diretamente, pois os assessores de Alckmin acreditam que os percentuais apresentados pelo pedetista não valem o risco dos ataques. No caso de Bolsonaro, a pancada será dada na falta de história e de projetos. Mesmo assim, a campanha trabalha com um percentual de apoios do capitão reformado que não será alterado até o primeiro turno, pois trata-se de votos consolidados, sem chances de mudança.

A percepção sobre o voto médio de Bolsonaro divide os tucanos mais próximos de Alckmin. Um grupo defende que o ataque deve mirar na figura pesada do deputado federal em relação às mulheres, por exemplo, e minorias. De certa forma, essa tônica pode ser vista nos programas de rádio e televisão. A questão é que tal estratégia foi posta em prática desde o início da campanha e até o momento deu pouco resultado, pelo menos em relação a obter votos de Bolsonaro.

Os tucanos, por outra linha de ação, acreditam que a forma de minar o deputado deve expor as contradições nos projetos, principalmente defendidos pelo economista Paulo Guedes, guru de Bolsonaro. É o caso da recriação da CPMF, um imposto para as transações financeiras. Tal ação é priorizada principalmente nas redes sociais por Alckmin. No caso de Haddad, o plano é bater nas denúncias de corrupção do PT, vinculando o ex-prefeito aos escândalos.

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Urnas são lacradas no Distrito Federal

Lucas Valença

25/09/2018

 

 

As urnas eletrônicas que serão usadas pelos eleitores nas 19 zonas eleitorais do Distrito Federal começaram a ser lacradas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF). Durante os próximos dias, as máquinas receberão as informações dos candidatos e dos eleitores, além de serem carregadas. O procedimento ocorre diariamente até a próxima quarta. O DF estará de posse de aproximadamente oito mil urnas, no entanto, cerca de mil são de “contingência”, em caso de problemas operacionais. A atividade de ontem foi vistoriada por membros do Ministério Público (MP) e por juízes das respectivas regiões eleitorais, além da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF).

Cerca de 120 técnicos, funcionários da empresa Inova, ajudam o TRE-DF na instalação dos dados e dispositivos de segurança. Segundo o secretário de Tecnologia da Informação e Comunicação do TRE-DF, Ricardo Negrão, a empresa foi contratada por meio de de licitação. “(Os técnicos) foram treinados nos últimos 60 dias para efetuar o procedimento de abastecimento das urnas e para ajudar no dia da eleição no caso de substituição da urna ou reparo do equipamento”, explica.

Os representantes dos cartórios, também presentes, confirmavam se os registros colocados pela empresa estavam corretos. A montagem das urnas serve para abastecer os objetos com dados dos eleitores e dos candidatos. O secretário lembra que a segurança dos dispositivos é vistoriada por autoridades públicas e entes da sociedade. “O lacre ocorre com a presença do juiz eleitoral, do MP e da OAB”, diz Negrão. Para o promotor de Justiça Marcelo da Silva Oliveira, que checava as urnas que vão ser utilizadas pela 17ª região (do Gama), apesar de a votação eletrônica ser feita há anos, ainda há questionamentos. “Então, todas essas entidades representam mais uma área de controle desse procedimento”, conta.

Para o chefe da Seção de Apoio às Eleições do TRE-DF, Andrey Bernardes, as afirmações de que as urnas não são seguras não fazem sentido. Ele ressalta que existe uma quantidade expressiva de procedimentos que garantem a lisura da eleição. “A urna eletrônica é segura, assim como o processo eleitoral”, enfatiza. Ricardo Negrão lembra que o TRE tem desenvolvido novos mecanismos de auditorias, além de fortalecer os existentes. O primeiro ocorre no próprio galpão, ao final de cada dia. No dia da eleição, realiza-se a segunda auditoria: de votação paralela. Nela, se confronta os dados vindos de uma urna eletrônica com os dados de uma urna de lona. Na manhã da eleição, se vota na urna eletrônica e na urna de papel. No fim, é emitido o boletim de urna, então, o juiz compara os votos de papel com o resultado eletrônico.

Três zonas eleitorais — a 4ª, a 13ª e a 17ª — foram as primeiras a terem os dispositivos instalados. O número de aparelhos de votação varia com relação à quantidade de sessões de cada localidade, mas Andrey Bernardes explica que há uma média de 300 a 400 urnas para cada região, o que totaliza aproximadamente 1.000 equipamentos por dia. Segundo Antônio Esio Marcondes, um dos criadores da urna eletrônica em 1996, as máquinas possuem validade adequada de 10 anos. No entanto, as que serão utilizadas pelo Distrito Federal são datadas de 2013 em diante.

O Distrito Federal estará de posse de 8 mil urnas eletrônicas, mas não tem previsão de utilizar todas. A assessoria de imprensa do TRE-DF informou que 7 mil dispositivos eletrônicos serão utilizados para votação. Uma parcela desses instrumentos também vai registrar o voto justificado e o voto em trânsito.