Correio braziliense, n. 20215, 25/09/2018. Opinião, p. 11

 

Inteligência digital nas campanhas eleitorais

Luiz Alberto Ferla

25/09/2018

 

 

A internet revolucionou a comunicação política. Com tantos recursos tecnológicos, a integração digital é vertical e horizontal. Foi-se o tempo em que a sociedade consumia informação top down. O relacionamento é o foco da comunicação: o eleitor, em uma campanha, quer ser visto e ouvido. Uma campanha eleitoral digital não pode mais se valer apenas de redes sociais e websites. Com tecnologias de Big Data, podem-se cruzar informações das pessoas com seus desejos, ligando o eleitor e a demanda, detectar comportamentos recorrentes e adaptar o conteúdo e a linguagem para trabalhar na compreensão da informação, evitar desperdícios de recursos e prejuízos de imagem.

A comunicação digital obtém sucesso ao conseguir, por meio do cruzamento de informações, determinar não só os desejos das pessoas, mas também as necessidades individuais. A informação segmentada facilita a tomada de decisão e a personalização do discurso. É isso que torna a comunicação capaz de romper a bolha das redes sociais, em que cada candidato costuma falar apenas para aqueles que já o conhecem bem. É preciso se posicionar diante de um público mais amplo.

Posicionamento é a tática que ganha batalhas. A construção do discurso de posicionamento é a estratégia que gera empatia. Entregar o discurso para o público certo, de forma ágil e personalizada, é a inteligência. Essa inteligência digital contém cinco premissas: 1) integridade dos dados minerados e sinceridade da mensagem; 2) autopercepção sobre identidade, objetivos, mensagem e finalidade, para determinar parâmetros de segmentação que vão além da demografia; 3) inteligência emocional sobre o comportamento dos internautas para mapear a convergência de ideias e vácuos na presença; 4) planejamento de estratégia com um analista político capaz de mapear a conjuntura e antecipar cenários, inclusive possíveis crises; e 5) a estratégia se retroalimenta da operação e deve ser sempre reajustada mediante avaliação dos resultados.

Medir e classificar o que as pessoas falam nas redes sociais é parte da operação. O sentimento expressado pelos internautas tem impacto direto na imagem dos políticos e o monitoramento permite a antecipação de crises, tão comuns em campanhas eleitorais.

Medir e classificar o que as pessoas falam nas redes sociais é parte da operação. O que não pode ser medido e quantificado não pode ser analisado: isso é o monitoramento. O sentimento expressado pelos internautas tem impacto direto na imagem dos políticos e na avaliação de sua presença, e sua mensuração permite a antecipação de crises, tão comuns em campanhas eleitorais. Essa é uma das razões pela qual não é possível ignorar os relatórios de inteligência. Na política, uma coisa pode ser pior do que não ter um serviço de Inteligência: é ter e não usar.

Para o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor de Sapiens e Homo Deus, os dados serão os principais produtos da economia no próximo século e os que fundamentam a informação e o conhecimento são e serão os mais importantes ativos do mundo. Eleição é voto, e voto é confiança. O eleitor “paga” adiantado por algo que acredita que vai receber. Confiança é tão somente trocar o presente pelo futuro, portanto, eleição é tratar do futuro. Nada mais coerente, então, que usar, por meio de estratégias de inteligência digital, o grande ativo do futuro, os dados, para ser eleito no presente e tornar-se um bom representante no futuro.