O globo, n. 31061, 22/08/2018. País, p. 4

 

O DNA DOS ELEITORES SEM CANDIDATO

Marco Grillo

Bernardo Mello

Daniel Salgado

22/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Brancos, nulos e indecisos são mais numerosos entre os de baixa escolaridade; Há quatro anos, neste período, o índice de brancos, nulos e indecisos era de 15%

A possível ausência do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da disputa eleitoral deixa, neste momento da campanha, uma parcela expressiva da população sem optar por nenhum candidato. A soma de brancos e nulos com os indecisos ainda maior em alguns recortes específicos de eleitores. Metade do eleitorado brasileiro menos escolarizado — que cursou, no máximo, até a 4ª série do Ensino Fundamental — não apoia nenhum dos postulantes à Presidência no cenário sem Lula, cujo registro da candidatura já foi contestado na Justiça Eleitoral. Os sem candidatos também aparecem de forma expressiva entre as mulheres, na faixa mais pobre da população e no Nordeste.

Os números foram levantados na mais recente pesquisa do Ibope contratada pela TV Globo e O Estado de S. Paulo, divulgada anteontem. Foi o primeiro levantamento após o início oficial da campanha eleitoral. Entre os eleitores que chegaram, no máximo, à 4ª série, 34% pretendem anular ou votar em branco, enquanto 15% não souberam ou não responderam — na soma, 49% deste eleitorado não optou por nenhum dos concorrentes ao Palácio do Planalto.

O resultado é parecido no recorte por gênero (44% das mulheres), entre os que têm renda familiar mensal de até um salário mínimo (43% desta parcela da população) e no Nordeste (41% dos eleitores da região).

Neste mesmo cenário pesquisado pelo Ibope, o perfil de quem não tem candidato é mais forte no eleitorado mais velho: 44% entre os eleitores acima de 55 anos e 43% na faixa que vai de 45 a 54 anos.

Os números gerais da pesquisa mostram que, sem Lula, 38% dos eleitores não escolheram nenhum candidato — 29% afirmam que vão votar em branco ou anular, enquanto 9% estão indecisos. Há quatro anos, neste mesmo período, este índice era de 15%: 7% de brancos ou nulos e 8% de eleitores que não responderam ou não opinaram. Na ocasião, o Ibope divulgou uma pesquisa em 27 de agosto, o primeiro levantamento depois da entrada de Marina Silva na campanha. Ela, então no PSB, substituiu Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo.

POSSÍVEL MIGRAÇÃO

O índice elevado de eleitores sem candidato na ausência de Lula abre um campo a ser explorado por outras candidaturas. Segundo o Ibope, 13% do total do eleitorado afirma que “com certeza” votaria em Haddad se o ex-presidente não estiver na disputa. Outros 14% dizem que “poderiam” votar nele. Por outro lado, 60% sustentam que não votariam em Haddad de “jeito nenhum”. Os dados indicam que a possível substituição traz um benefício claro —alçam o ex-prefeito de São Paulo a um patamar mais elevado de votos já na largada da disputa — e um prejuízo — a contaminação pela rejeição ao nome de Lula, a segunda maior entre os candidatos (30%), atrás apenas do candidato do PSL, Jair Bolsonaro (37%).

—Quando, já em setembro, Lula aparecer ao lado de

Haddad, abraçado a ele, em imagens anteriores à prisão, essa massa de brancos e nulos indecisos que é incorporada sem o Lula deve ir para o Haddad. Isso por uma soma de fatores: uma pesquisa recente, por exemplo, mostra que 46% da população brasileira considera o impeachment errado — avalia o cientista político Michael Mohallem, professor da FGV-Rio.

Mohallem alerta para outro fenômeno que pode acontecer no eleitorado mais alinhado à esquerda: o voto útil.

— Caso o Haddad, ou outro candidato, aparecer com chances reais às vésperas da votação, é possível que outras candidaturas derretam e haja uma união em torno do nome com mais chances de ir ao segundo turno.

PERFIS DIFERENTES NO RIO

Lula foi condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, o que o enquadra na Lei da Ficha Limpa. O PT solicitou o registro de candidatura, mas o pedido foi contestado pela Procuradoria-Geral Eleitoral — a questão será decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na eleição para o governo do Rio, o perfil de eleitores que não optou por nenhum candidato tem diferenças em relação à disputa nacional.

N acorrida estadual, o não voto está concentrado na parcela do eleitorado que cursou o Ensino Médio (54%) e tem entre 25 e 34 anos (50%). No quesito escolaridade, a diferença em relação ao pleito nacional, em que a maior indefinição está entre os que cursaram até a 4ª série, pode ser explicada pela presença do ex-governador Anthony Garotinho (PRP): é na parcela menos escolarizada que ele tem seu melhor resultado(21%, contra 12% no total do eleitorado).

Os perfis são semelhantes, no entanto, na renda (53% daqueles inseridos em uma família que recebe até um salário mínimo por mês) e gênero (52% das mulheres).

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Líder, Bolsonaro é rejeitado por 41% das mulheres

Eduardo Bresciani

22/08/2018

 

 

Candidato do PSL também tem elevada resistência entre jovens e no Nordeste, de acordo com a pesquisa Ibope mais recente

Líder no cenário mais provável para a eleição, sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) é mais rejeitado entre as mulheres. Também enfrenta maior resistência entre jovens eleitores e na região Nordeste. Os dados são da pesquisa Ibope, contratada pela TV Globo e pelo jornal O Estado de S.Paulo.

O candidato do PSL tem 37% de rejeição no total. De acordo com o levantamento, 41% das mulheres afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum, taxa que ficou em 33% entre os homens. A dificuldade do candidato entre as mulheres vem sendo explorada por adversários. Recentemente, o ex-capitão foi confrontado por Marina Silva (Rede) sobre a falta de propostas para o público feminino.

Na região Nordeste, onde Lula historicamente apresenta seus melhores números, a resistência a Bolsonaro alcança 46%, taxa que cai nas demais regiões. No Norte e no Centro Oeste é de 30%, enquanto no Sudeste é de 34%, e no Sul, 39%.

O presidenciável do PSL enfrenta maior resistência também entre os que têm ensino superior, com 45% de rejeição. Entre os eleitores com 16 a 24 anos, 45% descartaram o deputado do PSL como opção de voto, percentual que cai para 31% entre os que têm mais de 55 anos. Bolsonaro é mais rejeitado por pretos e pardos (39%) do que por brancos (34%) e tem mais resistência de católicos (38%) do que de evangélicos (30%).

Geraldo Alckmin (PSDB), por sua vez, é mais rejeitado por homens (28%) do que por mulheres (22%). A dificuldade que o tucano tem para entrar no Nordeste também fica expressa no levantamento. Sua taxa de rejeição é de 28% no região, caindo para 20% no Sul. Fica praticamente estável entre os eleitores acima de 24 anos, oscilando entre 26% e 27%, sendo mais baixa (20%) entre os mais jovens. Ele é descartado por 28% dos que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos, taxa que cai a 24% entre os que recebem até um salário mínimo.

No caso de Marina Silva (Rede), a variação entre a taxa de rejeição é pequena nos diferentes extratos. A resistência é maior entre homens (25%) do que entre as mulheres (22%). Em relação a faixas etárias, ela é mais rejeitada entre os que têm mais de 55 anos, com 25%.

Em relação à renda familiar, a maior rejeição está entre os que recebem entre 1 e 2 salários mínimos (28%). Marina tem a mesma rejeição entre católicos e evangélicos, de 23%, e é refutada mais por brancos (25%) do que por pretos e pardos (22%). A rejeição a seu nome varia pouco entre as regiões, sendo pouco maior no Sul e Sudeste, com 24%, e um pouco menor em Norte e Centro-Oeste, 21%.

Já Ciro Gomes (PDT) é mais rejeitado na sua região de origem, o Nordeste. Sua taxa é de 23% na área, com o percentual indo para 19% nas regiões Norte e Centro-Oeste. Ele é mais rejeitado entre homens (25%) do que entre mulheres (17%). Dos que têm de 45 a 54 anos, 27% descartam o pedetista como opção de voto, número que é de 15% entre os que tem até 24 anos. A rejeição dele é maior entre os que ganham mais de cinco salários mínimos (24%), caindo para 19% entre os que recebem até um salário mínimo.

REJEIÇÃO DE HADDAD

Atualmente vice de Lula, mas provável candidato do PT, Fernando Haddad é mais rejeitado por homens (19%) do que por mulheres (13%). Tem mais resistência entre os que eleitores acima de 55 anos (21%) que entre os mais jovens (10%). A maior resistência ao petista está no Sudeste (21%), com o menor índice sendo registrado nas regiões Norte e Centro-Oeste (11%).