O globo, n. 31061, 22/08/2018. Artigos, p. 8
Twitter, a notícia direto da fonte
Pedro Doria
22/08/2018
O Twitter chegou à conclusão de que, afinal, seu forte é a qualidade da conversa, não os números altos de participantes
OTwitter tinha, ao final do primeiro trimestre, 335 milhões de usuários ativos. O Facebook passa dos dois bilhões. Eram pouco mais de dez milhões no Twitter brasileiro —contra 120 milhões do WhatsApp. É uma rede miúda quando comparada às outras. Mas de influência fora do comum no debate político e, por isso mesmo, crucial em tempos de eleição.
Do primeiro dia do ano até ontem, os candidatos mais citados em tweets, por ordem, foram Lula (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Corrupção foi o assunto preponderante, seguido de segurança pública, educação e economia. É uma medida das preferências do eleitor.
Há um motivo para o Twitter ter influência e não é à toa que se tornou a plataforma favorita do presidente americano. Embora pouco propensa a “textões”, a rede tem uma concentração desproporcional de políticos, acadêmicos da área e jornalistas. Todos seguem todos, numa contínua troca de informação e observações. É a rede onde saem notícias frescas direto da fonte ou, logo após os sites noticiosos, em primeira mão a partir de quem apura. É também o lugar com vocação para servir à conversa em eventos ao vivo. Como um debate presidencial.
Diferentemente do Facebook, é uma rede aberta e boa parte dessas conversas ocorre em público. Sua força não está em números, mas na influência. Na qualidade da conversa. E na capacidade de tratar logo de temas que se tornarão importantes.
Na semana passada, uma série de contas foram congeladas, e quem acusou o golpe foi, principalmente, a direita. Há suspeitas de censura. O Twitter não suspende, ele congela perfis. Quando seus algoritmos desconfiam que uma conta é na verdade um robô, um programa que serve para forjar o aumento da influência de uma pessoa ou uma causa, aquele usuário perde a capacidade de escrever na rede até que prove ser humano. Quando o faz, e os testes não são difíceis, a conta volta a ser liberada.
Três anos atrás, 75% das contas congeladas eram identificadas por pessoas. Hoje, 95% são detectadas por inteligência artificial. O sistema que busca estes falsários não roda de país em país. Roda simultaneamente em todo o mundo e vigia comportamento, não conteúdo.
Este combate aos bots é prioridade por um motivo estratégico. O Twitter chegou à conclusão de que, afinal, seu forte é a qualidade da conversa, não os números altos de participantes.
O assunto mais relacionado aos nomes de Lula e Alckmin é corrupção. A Bolsonaro e Marina, violência e segurança. Não há valor, aí. Pode ser positivo ou negativo. Mas é isto que a rede oferece: um retrato da conversa política brasileira.
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Marina e Ciro criticam PT por insistir em Lula
Dimitrius Dantas
Maria Lima
22/08/2018
Presidenciáveis da Rede e do PDT afirmam que, ao manter o ex-presidente na disputa para o Palácio do Planalto mesmo com condenação em segunda instância, o partido cria situação de incerteza e comete ‘fraude’ ao explorar a boa fé do eleitorado
Os candidatos à Presidência da República Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) criticaram ontem o PT por manter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida eleitoral ao Planalto, e consequentemente nas pesquisas de intenções de voto. O líder petista foi condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, e deve ter sua candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
Para Marina, o PT cria uma “situação de incerteza", prejudicando o pleito e confundindo os eleitores. Já segundo Ciro, o partido de Lula está cometendo uma fraude ao confundir o eleitor de Lula afirmando que o ex-presidente será o candidato do partido.
— Nós estamos em processo eleitoral, faltando poucos dias para sua finalização, e ainda temos uma situação que fragiliza muito o processo de decisão dos eleitores — afirmou Marina, em seu segundo dia de caravana pelo Nordeste, após visita, em Pernambuco, ao Porto Social, organização que financia e dá suporte de gestão a projetos sociais.
Ciro Gomes, em campanha em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, subiu o tom contra a estratégia:
— A cúpula do PT está projetando uma fraude, usando a boa fé do nosso povo, gente boa que é grata ao Lula. Mas todos estão cansados de saber que o Lula não é candidato. E ficam agitando o nome do Lula para depois, quando ele for declarado inelegível, tentarem eleger uma pessoa que a população não conhece. Isso não é justo para um país como o nosso.