Título: Apenas reformas garantem avanços
Autor: de tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2012, Economia, p. 11

O Brasil precisa aproveitar o momento na economia para fazer as mudanças estruturais que vão garantir a manutenção de seu crescimento ao longo dos próximos anos. Esta é a opinião do ex-diretor do FMI e atual professor da Universidade Harvard, Keneth Roggoff. Para ele, o país conseguiu manter um crescimento equilibrado por conta das ações tomadas nos últimos anos, apesar de ainda manter-se extremamente dependente da exportação de commodities. "Mas o Brasil precisa promover investimentos em infraestrutura e educação para manter esse cenário", disse ele ao Correio.

Roggoff participou ontem de um café da manhã com empresários e representantes do mercado financeiro brasileiro, na University Club, em Nova York. Nesse encontrou, avaliou-se que a crise grega, apesar de séria, não é suficiente para provocar um risco sistêmico, já que o país europeu tem uma economia relativamente pequena diante do mundo.

O risco maior é a China, que já anunciou uma redução de seu crescimento para algo em torno de 8% neste ano. "Na China, todo o dinheiro está nas mãos do governo, o que deixa uma interrogação no ar. Essa desaceleração será gradual ou a queda será abrupta, o que trará transtornos para todos?", questionou um dos participantes do evento.

A análise consensual é de que não há condições, a curto prazo, para que a Europa retome o nível de crescimento verificado nos anos anteriores à crise. Ela se aproximaria da chamada "década perdida" vivida pelo Japão, que passou anos com crescimentos pífios, recessão e até mesmo deflação.

Para os economistas, nem a Alemanha está a salvo desse cenário sombrio. O país tem um mercado forte, mas precisa de outros parceiros na União Europeia, especialmente a França, para não afundar na crise internacional. A avaliação assemelha-se ao pensamento do atual presidente francês, François Hollande, que tenta uma aproximação com a chanceler alemã, Angela Merkel, para que ambos tenham condições de discutir saídas conjuntas para a crise.

Trunfo Essa capacidade de interação com o mundo, na opinião de Roggoff, é o grande trunfo do Brasil. O país, em nenhum momento, pensou em abandonar a economia globalizada, mesmo nos períodos em que a crise se apresentava de maneira mais intensa. Para o novo diretor do Centro de Economia Mundial da FGV Projetos, Carlos Langoni, o Brasil deve resistir à onda populista e nacionalista que tem varrido a América do Sul nos últimos meses. Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela têm reestatizado empresas, provocando a ira do mercado mundial.

Langoni, no entanto, ressalta que, se intervenções pontuais, como as feitas pelos governos brasileiros continuarem, o crescimento será mantido, mas a percentuais baixos: 3,5% a 4%. "Precisamos investir em capital humano, unir a imensa quantidade de recursos naturais de que dispomos com investimentos em tecnologia e pesquisa. O Brasil precisa entrar na sociedade do conhecimento, como fizeram os Estados Unidos", lembra.

Ex-presidente do Banco Central durante o governo João Figueiredo, Langoni acrescentou que a experiência de crescimento sustentado da economia brasileira é algo recente. Iniciou-se em 2004, já que, antes, os ciclos eram interrompidos constantemente. "Conseguimos ter uma política fiscal equilibrada nos últimos anos. Mas com uma qualidade ainda inferior à necessária. Precisamos ter medidas menos protecionistas, melhorar a qualidade do crédito e implementar reformas para aprimorar a mão de obra e o nível de emprego no país", disse Langoni ao Correio.

O repórter viajou a convite da FGV projetos

"O Brasil precisa promover investimentos em infraestrutura e educação para manter um crescimen