Título: Violência avança 14%
Autor: Araújo, Saulo
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2012, Cidades, p. 21
Os índices de criminalidade estão em alta no Distrito Federal. Balanço divulgado ontem pela Secretaria de Segurança Pública revela um aumento de 14,7% no total de delitos, a partir da comparação dos primeiros trimestres de 2011 e 2012. Do total de 25 indicadores, 21 registraram alta. Roubo de veículo, assalto a comércio e tentativas de latrocínio (assalto com morte) tiveram crescimento significativo entre janeiro e março de 2012 (leia arte). As polícias Civil e Militar diminuíram as estatísticas de apenas quatro crimes avaliados. Entre eles, o latrocínio, que despencou 22,2%. A quantidade de casos caiu de 18 para 14 no período.
Um dos crimes que mais apavora os brasilienses, o sequestro relâmpago, também se manteve em patamar elevado. As estatísticas revelam que 204 pessoas tiveram a liberdade restringida ao serem abordadas em portas de bancos, perto de residências ou em estacionamentos públicos. Houve quase dois casos a cada 24 horas. Em janeiro, fevereiro e março de 2011, ocorreram 71 casos a menos do que no mesmo período de 2012. Em 19 de março, uma tentativa de roubo com restrição de liberdade terminou com a morte de um adolescente na 716 Norte. Dois jovens de 17 anos surpreenderam um policial civil aposentado assim que ele se aproximou do carro. Depois de entregar a carteira e o celular, a dupla exigiu que o agente entrasse no porta-malas. A vítima reagiu, sacou uma arma e disparou. Um dos garotos morreu na hora; o outro, ficou paraplégico.
Policiamento ostensivo
A violência sexual é outro crime que apresentou considerável crescimento, de 31,7%. Duzentos e dezesseis adolescentes, mulheres e até crianças foram estuprados no primeiro trimestre de 2012, frente a 164 no mesmo período do ano anterior. No último 26 de março, uma adolescente de 16 anos foi obrigada a fazer sexo com um criminoso, em plena luz do dia, na 405 Sul. O bandido, de 27 anos, acabou preso horas depois.
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em segurança pública Roberto Aguiar, a falta de planejamento no patrulhamento explica os números elevados. "Ainda sentimos a falta de um policiamento inteligente. É preciso que o policiamento seja dinâmico e mutável, mesmo que, naturalmente, ele mude de direção às vezes. É algo que faz parte da natureza do trabalho", destacou.
Aguiar cobrou ainda que projetos visando trazer de volta a paz aos moradores de Brasília sejam levados a sério. "No papel, tudo é lindo, mas a execução é ineficiente. É necessário que alguém assuma de vez as rédeas do cavalo e faça as coisas fluírem. Hoje, temos muita gente fazendo longas dissertações sobre o animal, mas ninguém quer montá-lo", criticou o secretário de Segurança Pública durante o governo Cristovam Buarque.
Ação pela vida
Para o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, a Operação Tartaruga deflagrada por policiais militares contribuiu para a escalada da violência. O protesto de praças e oficiais durou 55 dias entre fevereiro e março. O ato consistia em atrasar o atendimento à população. Avelar ainda explicou que a greve da Polícia Civil do DF, no primeiro trimestre de 2011, refletiu na alta de hoje, pois, à época, os agentes registravam apenas delitos de alto potencial ofensivo, como os crimes contra a vida.
Segundo ele, o deficit de boletins lançados no sistema em 2011 fez realçar a diferença na comparação dos números. "Obviamente, a Operação Tartaruga influenciou para esse resultado, mas esses dados são atípicos porque, no primeiro trimestre do ano passado, a Polícia Civil fez uma paralisação e não registrava todos os crimes. Este ano, a Polícia Civil registrou todos os delitos. Isso contribuiu para essa diferença nos dados", frisou.
Apesar do retrato negativo, Avelar acredita que o Plano Ação pela Vida, lançado há um mês, trará a paz para a população do Distrito Federal. "Existe uma grande expectativa porque, pela primeira vez, um plano prevê um trabalho integrado entre as polícias Civil e Militar. Temos pessoas que pensam da mesma forma e, com certeza, vai repercutir em bons resultados para a comunidade", complementou.
Colaborou Thaís Paranhos
"Existe uma grande expectativa porque, pela primeira vez, um plano prevê um trabalho integrado entre as polícias Civil e Militar. Temos pessoas que pensam da mesma forma e, com certeza, vai repercutir em bons resultados para a comunidade" Sandro Avelar, secretário de Segurança Pública do DF
"Ainda sentimos a falta de um policiamento inteligente. É preciso que o policiamento seja dinâmico e mutável, mesmo que, naturalmente, ele mude de direção às vezes. É algo que faz parte da natureza do trabalho" Roberto Aguiar, especialista em segurança pública e professor da UnB
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