Correio braziliense, n. 20212, 22/09/2018. Política, p. 5

 

Maranhão, o estado esquecido

Renato Souza

22/09/2018

 

 

Passado mais de um mês do início da campanha eleitoral, nenhum candidato à Presidência da República pisou em terras maranhenses. Apesar da força do ex-presidente Lula na região, Jair Bolsonaro, do PSL, avança

Com 4,5 milhões de eleitores, o estado do Maranhão caiu no esquecimento dos candidatos à Presidência da República. Nenhum dos 13 postulantes ao cargo de chefe do Executivo visitou o estado até agora, com mais de um mês de campanha. Ciro Gomes (PDT) chegou a ir à região, mas acabou cancelando a agenda por conta do ataque contra o deputado Jair Bolsonaro, que concorre no pleito pelo PSL. Assim como em outros estados do Nordeste, no Maranhão, Lula mantém a força, apesar do crescimento do número de eleitores que optam por candidatos de outros partidos.


O petista Fernando Haddad foi ao estado em 24 do mês passado. No entanto, na ocasião, ainda concorria como vice-presidente e não chegou a detalhar propostas para o estado em um eventual governo do PT. A coordenação da campanha “O Povo Feliz de Novo”, que inclui PT, PCdoB e Pros, informou que as “próximas agendas da campanha estão em formatação” e não confirmou a pretensão de visitar a região nas próximas duas semanas, tempo que falta para o dia da votação em primeiro turno.

A pesquisadora Ananda Marques, mestre em ciências políticas pela Universidade Federal do Piauí, que há três anos acompanha a política maranhense, destaca que o estado registra pouca disputa, por conta da fidelidade dos eleitores aos governos petistas. “Vivemos um período de transição no Maranhão. A família Sarney, que por muitos anos manteve o poder no estado, é uma força política em decadência. Agora quem lidera as pesquisas de intenções de voto é o atual governador, Flávio Dino (PCdoB), que tem o apoio do PT. Eu acredito que esse cenário, de certa forma definido, afasta os demais candidatos”, afirmou.

Ananda destaca, no entanto, que apesar da influência de Lula sobre os eleitores maranhenses, Jair Bolsonaro tem angariado fatia considerável da população. “Temos um fenômeno curioso aqui no estado. Tem uma quantidade considerável de eleitores que vota no Flávio Dino, que tem uma agenda de esquerda, e, para presidente, pretende votar no Bolsonaro. Ou seja, existe uma perspectiva de pensamentos diferentes para os governo local e nacional”, completou.

Cancelamento

O candidato Ciro Gomes havia marcado passeata no bairro do Anjo da Guarda, em São Luís, em 7 de setembro. No entanto, acabou cancelando os compromissos após o atentado à faca contra Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG). Ele seria o único candidato a visitar o estado.

Procurada pela reportagem, a coordenação da campanha do pedetista informou que ele visitará o Maranhão amanhã. Ele deve cumprir agenda na cidade de Timon, a partir das 11h.

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Barroso prega compromisso democrático

22/09/2018

 

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, avaliou ontem que a democracia brasileira vive um momento sombrio, pediu que — independentemente das preferências políticas e do resultado das eleições — o país reafirme compromissos democráticos e disse ver na polarização do quadro eleitoral um desdobramento do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.


Ao identificar, durante evento, em São Paulo, fatores que influenciam a eleição ao Planalto, o magistrado considerou que, embora tenha observado ritos constitucionais, o impeachment de Dilma despertou, nas pessoas que não aceitaram o processo, um ressentimento que se aprofundou a partir das denúncias contra seu sucessor, o presidente Michel Temer, e aliados. “O quadro de polarização decorre do processo de impeachment.”

Em paralelo, observou Barroso, os escândalos de corrupção que alcançaram praticamente todos os quadros da política tradicional provocou desconfiança na classe política, levando à sociedade a aspirar por um “outsider”.

Por fim, emendou o ministro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve grande influência política por causa da memória positiva sobre os sucessos nas áreas econômica e social de seus dois mandatos, bem como a dissociação da crise mais recente aos erros cometidos por seu governo. “Isso não foi abalado pelas condenações penais”, assinalou.

Por causa da independência exigida pelo cargo, Barroso ressalvou que os comentários não representam um julgamento político ou uma revelação de preferência partidária. Evitou, assim, citar nomes de candidatos à sucessão presidencial

Porém, após argumentar que, como juiz, é seu dever zelar pelas instituições, defendeu a reafirmação dos compromissos democráticos colocando duas proposições: quem perder as eleições deve respeitar a vontade de maioria; e quem vencer deve governar sempre com respeito às regras constitucionais e direitos fundamentais de todos.

Por outro lado, cobrou que o próximo presidente, para que seu governo tenha legitimidade, terá que se pautar pelas regras do jogo democrático e respeito aos direitos de todos. Ainda que tenha abordado “complexidades” do momento político, Barroso, durante a maior parte de sua apresentação, fez uma avaliação positiva do futuro democrático, bem como das conquistas acumuladas em três décadas de democracia no país.