O Estado de São Paulo, n.45553 , 07/07/2018. Política, p.A9

MP investigará reunião de Crivella com pastores

Constança Rezende

Roberta Jansen

 

 

 

Segundo reportagem, prefeito ofereceu facilidades a líderes de sua igreja no atendimento do SUS; prefeitura diz que ‘prestou contas à sociedade’

 

O Ministério Público do Rio de Janeiro vai investigar uma reunião no Palácio da Cidade, sede do Executivo municipal, em que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) ofereceu facilidades a pastores e líderes de sua igreja no atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e no pagamento de impostos. PSOL e PSDB pediram à Mesa Diretora da Câmara dos Vereadores para convocar os parlamentares, que estão em recesso, para votar um pedido de impeachment do prefeito.

A reunião – que não estava na agenda oficial e ocorreu na tarde da quarta-feira passada – foi revelada ontem pelo jornal O Globo. A reportagem relata que Crivella afirmou que ajudaria fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus a fazer cirurgia de catarata e varizes pelo SUS e que daria auxílio a pastores que estivessem com problemas de IPTU em seus templos. Além disso, o prefeito exaltou o précandidato a deputado federal pelo PRB Rubens Teixeira.

O MP informou que a Promotoria de Justiça da Cidadania analisará se houve “inobservância da laicidade do Estado” por tratamento privilegiado a fiéis de um determinado segmento religioso – o que é proibido pela Constituição e poderia configurar improbidade administrativa. As falas do prefeito carioca também serão analisadas pela Coordenação de Saúde do MP para fiscalização da política de regulação do SUS.

De acordo com O Globo, os pastores foram convidados para a reunião, chamada de “Café da Comunhão”, por meio de mensagem no WhatsApp. No início da reunião, os organizadores chegaram a pedir para que os participantes desligassem os celulares, para que não houvesse registro do encontro.

A reportagem divulgou áudios da reunião. Em um deles, Crivella diz que se “os irmãos” tiverem alguém na igreja com problema de catarata, era só procurar uma assessora sua: “É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar e, daqui a uma semana ou duas, eles estão operando”, disse o prefeito. Atualmente, a fila de espera para a cirurgia de catarata no Rio tem 7.507 pacientes – com pessoas esperando há mais de dois anos pela operação.

 

Defesa. Em nota, a prefeitura do Rio disse que a reunião “teve como objetivo prestar contas e divulgar serviços importantes para a sociedade, entre eles o mutirão de cirurgias de catarata e o programa sem varizes”. “Desde o início de sua gestão, o prefeito Marcelo Crivella já recebeu os mais diversos representantes da sociedade civil para tratar dos mais variados assuntos, tanto em seu gabinete quanto no Palácio da Cidade”, afirma a nota.

 

Encontro

Crivella se reuniu com pastores na prefeitura