Título: Espionagem sob investigação
Autor: Marcos, Almiro
Fonte: Correio Braziliense, 16/05/2012, Cidades, p. 25

Polícia Civil abre inquérito para apurar quebra de sigilo, feita sem autorização da Justiça, de 300 aparelhos celulares de membros do GDF, incluindo o primeiro escalão. Segundo porta-voz do governo, um suspeito foi identificado » ALMIRO MARCOS

A Polícia Civil investiga a quebra de sigilo telefônico de 300 aparelhos celulares de integrantes e servidores do Governo do Distrito Federal (GDF), ocorrida entre novembro do ano passado e o último dia 11. Durante mais de seis meses, pelo menos uma pessoa teve acesso a todas as informações das contas, como números para os quais os aparelhos ligaram, dia, hora e tempo que durou cada telefonema. Ainda não se sabe se parte das linhas foi grampeada com o intuito de gravar o teor das conversas.

O inquérito sobre o caso foi aberto oficialmente pela Delegacia de Investigação de Crimes contra a Administração Pública (Decap) na quinta-feira da semana passada. O porta-voz do GDF, Ugo Braga, disse ontem, durante entrega de cadeiras de rodas morotizadas (leia reportagem abaixo), que uma pessoa já teria sido identificada. No entanto, o diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Xavier, não confirma essa informação. "Não podemos dizer nada para não atrapalhar o andamento do nosso trabalho. Mas o fato é que estamos investigando essa quebra de sigilo dos números utilizados pelo GDF", confirmou.

O chefe da Casa Militar do DF, coronel Rogério Leão, suspeita que a intenção dos responsáveis pela quebra do sigilo telefônico era intimidar a equipe do Executivo. "Mas ninguém vai conseguir isso. Posso garantir", explicou o oficial. As contas que foram vigiadas vão desde telefones de membros do primeiro escalão, como governador, vice e secretários, até servidores. "Todas as contas dos telefones do contrato do GDF com a empresa de telefonia foram controladas durante meses por essa pessoa ou por algumas pessoas. É preciso saber a quem interessa fazer isso. É um fato preocupante", diz uma fonte ligada ao Palácio do Buriti.

Arapongagem

A abertura do inquérito não tem relação alguma com os fatos que motivaram a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Arapongagem na Câmara Legislativa do DF (CLDF). O fato que os deputados pretendem investigar está relacionado à vigilância — inclusive por meio de escutas telefônicas — a autoridades e jornalistas no Distrito Federal. A CPI foi instalada para investigar a existência de grampos na capital federal desde 2002. A comissão teve os nomes dos componentes indicados, mas ainda não iniciou os trabalhos oficialmente. Existe até a possibilidade de que ela não funcione efetivamente, já que, dos cinco integrantes, apenas Celina Leão (PSD) é de oposição.

"Não podemos dizer nada para não atrapalhar o andamento do nosso trabalho. Mas o fato é que estamos investigando essa quebra de sigilo dos números utilizados pelo GDF" Jorge Xavier, diretor da Polícia Civil do DF