O globo, n. 31057, 18/08/2018. País, p. 4

 

EM BUSCA DOS VOTOS DO NORDESTE

Catarina Alencastro

Daniel Gullino

Eduardo Bresciani

Gustavo Schimitt

Maria Lima

Sérgio Roxo

Silvia Amorim

18/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Candidatos vão atrás dos 10 milhões de eleitores indecisos com Lula ausente da disputa

Com o indeferimento da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestes a ser analisado pela Justiça Eleitoral, os principais candidatos à Presidência da República já se mobilizam para tentar conquistar o eleitorado lulista no mais tradicional curral eleitoral petista. O Nordeste tem 39,2 milhões de eleitores, 26% dos votos do país, e as pesquisas mostram que cerca de 10 milhões deles passam a se definir como indecisos ou declarar voto branco ou nulo no cenário em que Lula fica ausente da disputa.

Único nordestino entre os principais candidatos e um dos maiores beneficiários da ausência de Lula no pleito, o candidato do PDT, Ciro Gomes, estará hoje em seu estado, o Ceará, para o lançamento da candidatura ao Senado do seu irmão, o exgovernador cearense Cid Gomes. O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, acredita que há espaço para crescimento do cearense e que o “plano B” do PT, o exprefeito de São Paulo Fernando Haddad, que deve herdar a candidatura de Lula, terá dificuldades para conquistar os nordestinos. — O eleitor do Nordeste nunca nem ouviu falar de Haddad. É um nome difícil de falar —ironiza Lupi. Ex-ministra de Lula, a candidata da Rede, Marina Silva, que também angaria votos nas pesquisas sem o petista, vai concentrar suas agendas na região a partir de segunda-feira. Marina tem eventos em Fortaleza e Recife. De olho nos votos dos milhões de beneficiários do Bolsa Família na região, Marina centrará o discurso na ampliação de programas de transferência de renda.

O PT, que ainda insiste no discurso da candidatura de Lula, foca pesado em agendas de campanha com Haddad. Ainda no papel de vice, ele visitará cinco estados nordestinos só na semana que vem.

HADDAD EM CINCO ESTADOS

Ontem, Haddad foi ao Piauí e fez campanha ao lado do governador petista Wellington Dias, que busca a reeleição. A partir de terça-feira da semana que vem, ele fará um giro de cinco dias pelos estados da Bahia, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Maranhão.

Para ficar mais conhecido, Haddad buscará pegar carona em sete governadores que buscam a reeleição no Nordeste.

O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, vai tentar criar um vínculo com a região visitando Crateús, a cidade natal de seu sogro no interior do Ceará. Ele diz que as recepções obtidas nos aeroportos nordestinos provam seu potencial. A ideia de ir a Crateús, a 350 quilômetros de Fortaleza, deve ser implementada nas próximas semanas. Ele prevê ainda visitar Recife, terra do presidente licenciado do PSL, Luciano Bivar. Para os apoiadores do capitão da reserva, a piora nos indicadores de segurança pública nas principais cidades da região fortalecem seu nome. Para Geraldo Alckmin (PSDB), a busca por votos no Nordeste ainda não é uma prioridade. O tucano vai concentrar forças no Centro-Sul do país, onde é mais conhecido e tem perdido eleitores para outros concorrentes, como Bolsonaro. Isso não significa, entretanto, que Alckmin ficará ausente do Nordeste. O candidato deverá visitar alguns estados onde não esteve durante a pré-campanha, como Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte. O discurso para a região será na segurança. Uma das propostas é implantar no Nordeste o primeiro batalhão da Guarda Nacional que ele promete criar para substituir a Força Nacional de Segurança. Alvaro Dias também concentra, até agora, seu eleitorado no Centro-Sul do país. Embora não tenha viagens agendadas para a região nos próximos dias, o senador aproveitou a pré-campanha para visitar o Nordeste e destinou um trecho do seu programa de governo para os problemas locais, onde a “crise social é muito mais grave e aguda”. Como faz a defesa da Lava-Jato e elogios ao juiz Sergio Moro, que pretende chamar para ser seu ministro, Dias sabe que dificilmente atrairá o eleitor de Lula, mas aposta no voto contra o PT.

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Barroso vai concentrar pedidos para barrar candidatura de petista

André de Souza

Maria Lima

Dimitrius Dantas

Elisa Martins

18/08/2018

 

 

Os pedidos para barrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devem se concentrar no gabinete do ministro Luís Roberto Barroso. Das sete contestações apresentadas, três já estavam com ele e outras quatro com o ministro Admar Gonzaga. Dessas últimas, duas já foram encaminhadas para Barroso e outras duas foram remetidas à presidente da Corte, ministra Rosa Weber, para que ela tome uma decisão a respeito. Admar indicou que esses casos também deverão ir para Barroso. Em despacho, ele elogiou a decisão de Rosa Weber de manter o registro de candidatura com Barroso, negando pedido do PT para que o próprio Admar fosse o relator. “Registro o louvável acerto da decisão proferida pela ministra Rosa Weber”, escreveu Admar. Ontem, Barroso notificou a defesa do ex-presidente sobre a decisão da presidente do tribunal, proferida na quinta-feira à noite, de que ele é o relator. O registro da candidatura de Lula à Presidência pelo PT foi publicada ontem no Diário da Justiça Eletrônico. Assim, começa a contar hoje o prazo de cinco dias corridos para contestações. Depois disso, o candidato será notificado e terá sete dias para se manifestar antes de o TSE julgar os requerimentos.

Antes mesmo do início do prazo para pedidos de impugnação, a candidatura de Lula já tinha sido questionada pela procuradora-geral da República e procuradora-geral eleitoral, Raquel Dodge. Ela solicitou ao tribunal que o registro do expresidente fosse negado. Na Lava-Jato, Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Por isso, pode ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. Ontem, o Comitê de Direitos Humanos da ONU acolheu, em caráter liminar, o pedido da defesa do ex-presidente Lula para que ele possa disputar as eleições presidenciais deste ano. Em nota, o Itamaraty informou que o documento do comitê “tem caráter de recomendação e não possui efeito juridicamente vinculante”.