O globo, n. 31057, 18/08/2018. País, p. 8
Vidraça eleitoral, MDB já reuniu 'estilingues' que hoje o atacam
Juliana Castro
18/08/2018
Paes tenta se afastar do partido de Cabral e adversários citam a aliança, mas quase todos já estiveram ligados à legenda
No comando do governo do estado há 15 anos, contando as gestões de Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, o MDB foi um dos alvos preferidos dos candidatos no primeiro debate, realizado anteontem, na Band. Cinco dos oito postulantes ao Palácio Guanabara que compareceram ao encontro já estiveram, de alguma forma, de mãos dadas com a sigla. A artilharia mais pesada veio de Garotinho, também ex-integrante do partido, que, em 2006, indicou Pezão para concorrer como vice-governador, mesmo a contragosto de Cabral, que preferia outros nomes para parceiro de chapa. Ainda na campanha daquele ano, começaram os estranhamentos, para logo em seguida vir o rompimento que dura até hoje. Desde então, Garotinho virou o principal inimigo político dos emedebistas. Em diversos momentos do debate, o ex-governador se referiu aos filiados ao MDB, como Cabral e o deputado afastado Jorge Picciani, como quadrilha. Lembrou ainda que o ex-prefeito Eduardo Paes foi do partido até migrar este ano para o DEM, tendo sido companheiro por uma década de de políticos que hoje estão atrás das grades. As prisões de Cabral e de alguns de seus principais exsecretários, sob acusação de corrupção, a partir de novembro de 2016, debilitou profundamente o MDB fluminense, situação agravada pelo estado de calamidade das contas do Rio de Janeiro. Mas foi a prisão de Picciani, em novembro do ano passado, a responsável pelo golpe mais sentido. O presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) era o principal articulador da sigla no estado. Sem ele na costura das alianças, o MDB ficou à deriva e não teve força sequer para indicar o candidato a vice-prefeito ou postulantes ao Senado na chapa de Paes. A última vez em que o MDB não teve candidato próprio ao governo do estado foi em 2002.
As críticas vieram também por parte de Tarcísio Motta (PSOL), que não esteve aliado ou em governos do MDB, e no debate se referia ao grupo como “turma do Cabral” ou “turma do PMDB”. Sem lembrar que foi secretário nas gestões de Cabral e de Paes, Indio da Costa (PSD) tratou do MDB ao afirmar que o Ministério Público Federal (MPF) apontou que o modelo de cobrança de propina encontrado no governo do estado foi replicado na prefeitura. Indio disse que, quando foi secretário de Marcelo Crivella (PRB), encontrou a pasta de Urbanismo com uma fila de empresários pedindo para receber dados que foram apagados do sistema pela gestão anterior. Também se referiu à situação em que a prefeitura como “terra arrasada”. Desde que deixou a prefeitura, Paes tem tido embates públicos com Crivella, negando que tenha legado a seu sucessor uma administração com os cofres vazios.
ROMÁRIO CITA CORRUPÇÃO
Com críticas à situação do estado durante o debate, Romário (Podemos) apoiou Pezão no segundo turno da eleição de 2014. E, em 2016, indicou um aliado para ser secretário de Paes. No embate de anteontem, no entanto, o senador puxou o tema de corrupção ao dizer, durante uma pergunta ao juiz Wilson Witzel (PSC), que ela assola o Brasil e o estado. E perguntou ao candidato o que ele acha do que “ex-governadores, deputados e outros políticos fizeram com o nosso estado” e qual era a solução. Recém-saído do MDB, Pedro Fernandes migrou para o PDT para concorrer. Exsecretário de Cabral e também de Pezão, adotou tom ameno sem estocar diretamente o ex-partido. Paes teve seu nome ligado ao MDB, como uma estratégia dos adversários para desgastá-lo. Além de ligá-lo a Cabral, os concorrentes lembraram da prisão de Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras de Paes, que, à Justiça, admitiu recebimento de propina. Quando Pinto foi preso, Paes declarou que o ex-secretário era um servidor de carreira da prefeitura e que “será uma grande decepção” se as acusações se confirmarem.
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O 'posto Ipiranga' de Romário
Jeferson Ribeiro
18/08/2018
Assim como Jair Bolsonaro, candidato do Podemos tem um guru econômico
O candidato ao governo do Rio, Romário (Podemos), admitiu na quintafeira no debate da TV Bandeirantes que não entende de economia e apresentou o nome do ex-economistachefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Guilherme Mercês, como seu assessor principal na área. A atitude se assemelha a do presidenciável Jair Bolsonaro, que fez o mesmo com o economista Paulo Guedes, a quem apelidou de ‘Posto Ipiranga’, em entrevista ao GLOBO.
Ao ser perguntado ontem sobre ao comentário de Romário, que era uma resposta a pergunta feita no debate pelo candidato do DEM ao governo, Eduardo Paes, Mercês disse que o senador demonstra apenas que ele está preocupado em montar uma equipe técnica. —Mostra a preocupação dele em formar uma equipe técnica e em definir logo o nome na fazenda, pois sabe que só ajustando as contas vamos conseguir avançar nas áreas sociais. Em entrevista no começo da semana, ele rejeitou a comparação com o economista do presidenciável. —Não é o caso de comparar —afirmou. Mercês tem 35 anos e se formou em economia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde fez mestrado na área de finanças públicas. Foi dele a ideia de pautar um programa de governo “pé no chão” e sem grandes promessas de obras, anunciado por Romário. Ele afirma que Rio está em estado de “falência” e é preciso falar a verdade para as pessoas. Mercês atuou por cerca de dez anos na Firjan e foi um dos responsáveis pela elaboração e produção do Índice Gestão Fiscal (IGF), que traça um diagnóstico das contas dos municípios do Brasil e do estado. —Já estou há muito tempo estudando as finanças do Rio e dos municípios, e tenho uma visão mais ampla do desenvolvimento das regiões. Conheço todas elas e suas oportunidades — disse o economista. Segundo Mercês, o convite de Romário foi o primeiro que recebeu para ingres- sar na administração pública. Ele conta que conheceu o candidato há cerca de dois meses, durante uma apresentação sobre economia do estado na Firjan. E, desde então, os dois passaram a se falar até ele ser convidado para elaborar o programa econômico e, num eventual governo, comandar a secretaria de Fazenda. —Quando o conheci pessoalmente, me impressionei com a visão realista que ele tem das questões do Rio, de como antes de prometer qualquer coisa entende que é preciso colocar a casa em ordem. E o que mais me agrada é a disposição dele em montar uma equipe técnica, não só com nomeações políticas —contou.
Na avaliação do economista, o Rio precisa renegociar a dívida do estado com a União, porque o atual indexador, baseado principalmente na taxa básica de juros, a Selic, é elevado. Outra medida sugerida, que precisará ser negociada com o atual governo, é política de incentivos fiscais.
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Justiça apreende Porsche de R$ 350 mil do senador
Marco Grillo
Thiago Prado
18/08/2018
Carro de luxo está em nome da irmã de Romário, mas foi encontrado no condomínio onde ele mora
A Justiça apreendeu um Porsche Macan do candidato do Podemos ao governo do Rio, Romário. O carro, avaliado em R$ 350 mil, segundo a tabela Fipe, foi encontrado no condomínio onde o senador mora, na orla da Barra da Tijuca. A apreensão aconteceu na terça-feira. O veículo está registrado em nome de Zoraidi de Souza Faria, irmã do senador. A Justiça, no entanto, entende que o Porsche pertence de fato a Romário e que a documentação em nome da irmã é apenas uma maneira de o candidato evitar perder bens para pagar dívidas com credores. No mês passado, outros dois carros já haviam sido apreendidos: um Audi RS6 Avant e um Peugeot Allure, avaliados em R$ 500 mil. A Justiça ainda busca um Hyundai Elantra, em nome de Zoraidi, e um Range Rover, registrado pela mãe do senador. Todos os veículos já estão penhorados, e a tendência é que os carros que já foram apreendidos sejam leiloados para amortizar o passivo com um credor do senador —esta dívida gira em torno de R$ 20 milhões, de acordo com documentos do processo. Desde dezembro de 2014, o Porsche já acumulou 68 multas—amais recente há vinte dias —, a maioria por excesso de velocidade. Uma consulta no site do Detran mostra que 166 infrações foram registradas em nome de Zoraidi nos últimos cinco anos, em um total de 795 pontos na carteira de habilitação.
Além dos carros, uma casa que Romário comprou por R$ 6,4 milhões, na Barra, também foi penhorada, como O GLOBO revelou na quinta-feira. Neste mesmo processo, a Justiça também já penhorou uma lancha elevou dois apartamentos a leilão. Os imóveis foram comprados por R $2,8 milhões, e os recursos foram usados para abatera dívida do senador. Procurado, Romário não se manifestou. Em fevereiro, ele afirmou que usava o carro “emprestado” da irmã. “Não há nada que impeça ou proíba andar ou dirigir carro de terceiros”, disse. O advogado de Zoraidi, Carlos André Ribas de Mel lo, informou que tomará as medidas cabíveis para revertera apreensão e disse que os bens são da sua própria cliente e não do senador.