O globo, n. 31056, 17/08/2018. País, p. 12

 

Cunha quer pagar multa com dinheiro de contas na Suiça

Gustavo Schmitt

17/08/2018

 

 

Pedido dos advogados foi feito ao juiz Sergio Moro. Procuradores da Lava-Jato são contra, afirmando que são valores fruto de corrupção

O ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) quer pagar a multa de US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 6 milhões) a que foi condenado na Lava-Jato com dinheiro depositado em contas na Suíça que já foram bloqueadas pela Justiça. Segundo a acusação, o ex-presidente da Câmara recebeu nessas contas no exterior propina do negócio que a Petrobras fez com um campo de petróleo em Benin, na África.

A negociação levou Cunha a ser condenado a 14 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

A defesa de Cunha disse que já está em andamento a repatriação de cerca de 2,3 milhões de francos, o equivalente a R$ 9,1 milhões, encontrados na contas Netherton Investments e Kopek pelas autoridades suíças. Os advogados pediram ao juiz Sergio Moro que faça a transferência dos valores a uma conta judicial para quitar a multa.

O pedido dos advogados do ex-deputado causou perplexidade na Lava-Jato. Para os procuradores, os valores da repatriação de Cunha devem ser perdidos, por se tratar de produto de crime.

— Seria algo como o ladrão de banco usar o dinheiro roubado para pagar a multa — disse ao GLOBO uma fonte que acompanha o processo de Cunha.

“O montante vinculado à conta Netherton – superior ao próprio valor fixado para reparação – já se encontra em poder das autoridades públicas, notadamente a 13ª Vara Federal da Seção Judiciária do Paraná, considerando o bloqueio dos ativos já efetivado. Assim sendo, estão à disposição daquele juízo federal valores superiores ao montante devido em sede de reparação do dano", escreveram os advogados de Cunha, em petição protocolada na última terça-feira.

Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, além da conta Netherton, uma outra, chamada Kopek, também foi abastecida com propina.

A Kopek seria destinada a pagar as contas do cartão de crédito da jornalista Cláudia Cruz, mulher do ex-deputado, que usou os valores para bancar gastos em lojas de grife e em viagens. Embora tenha sido absolvida por Moro, Cláudia acabou condenada nesse caso pela segunda instância a dois anos e seis meses de prisão.

A Suíça normalmente só repatria valores após o trânsito em julgado de um processo, ou seja, quando não há mais recursos à disposição. Caso a repatriação ocorra antes do fim do processo, os valores ficam depositados em conta judicial.

O GLOBO noticiou ontem que Cunha conseguiu reduzir em oito meses sua pena com cursos à distância, trabalho dentro da penitenciária e resenhas de livros. Ele está preso no Complexo Médico Penal, no Paraná. Somando a remissão da pena aos quase dois anos que Cunha já passou na cadeia, a defesa entende que o ex-deputado já cumpriu um sexto dos 14 anos e seis meses de prisão da sentença e pediu a progressão para o regime semiaberto.