O globo, n. 31055, 16/08/2018. País, p. 8

 

Romário tem casa na Barra penhorada para pagar dívida

Marco Grillo

Thiago Prado

16/08/2018

 

 

A Justiça determinou a penhora de uma casa do candidato do Podemos ao governo do Rio, Romário, como garantia do pagamento do montante devido a um credor. O imóvel, comprado por R$ 6,4 milhões, fica em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Também foram penhorados R$ 4,8 milhões que Zoraidi de Souza Faria, irmã do senador e também ré no processo, mantém em um plano de previdência privada no Banco do Brasil.

Procurado na segunda-feira, via assessoria, Romário não respondeu. Ele tem negado irregularidades. No início do mês, ao se lançar candidato ao governo, ele citou as suspeitas de ocultar patrimônio:

— O dinheiro é meu, consegui com meu suor. O meu dinheiro dou para quem quiser. Dou para minha irmã, para minha mãe, para o meu irmão. Não tem R$ 1 de dinheiro público aí. Está tudo declarado no Imposto de Renda da minha mãe e da minha irmã — afirmou.

A casa não aparece na lista de bens entregue pelo senador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foi declarada por Zoraidi à Receita Federal. Quando a existência do imóvel foi divulgada pelo GLOBO, em fevereiro, a antiga proprietária, a advogada Adriana Sorrentino, contou que tinha feito a venda para Romário. Um vizinho também relatou que o imóvel, que foi reformado, pertence ao candidato.

O dinheiro foi transferido a Adriana por meio de uma conta de Zoraidi em uma agência do Banco do Brasil em Brasília — Romário tem uma procuração para movimentar a conta. As cotas do IPTU também vêm sendo pagas da mesma maneira. Um relatório de maio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, identificou indícios de lavagem de dinheiro em operações financeiras do senador. O documento aponta a suspeita de que ele administra a conta em nome da irmã com o “intuito de ocultar” a própria movimentação de recursos.

Sobre o plano de previdência de Zoraidi, a Justiça entendeu que os recursos são do próprio Romário, como parte da estratégia de ocultação do patrimônio para evitar o pagamento de dívidas. Em 2015 e 2016, Zoraidi recebeu R$ 10 milhões em empréstimos: R$ 4 milhões do senador e R$ 6 milhões da RSF, empresa cujos donos no papel são a mãe e o pai de Romário.

O candidato declarou à Justiça eleitoral um patrimônio de R$ 5,5 milhões — com a casa, os bens cresceriam em 116%. O senador também tem participações societárias, um apartamento e créditos de empréstimos —não está especificado quem são os devedores dos recursos.

APARTAMENTOS LEILOADOS

Em um dos processos a que Romário responde, a dívida com o credor está em cerca de R$ 20 milhões. O mérito da questão já foi decidido, e a ação está na fase da execução do pagamento. Com a dificuldade para encontrar bens em nome do senador e recursos em contas bancárias dele, o cerco judicial se ampliou. Dois apartamentos na orla da Barra da Tijuca, no mesmo condomínio onde Romário mora, já foram leiloados, arrecadando R$ 2,8 milhões. Os imóveis ainda estavam em nome da construtora que os vendeu ao candidato.

Cinco carros de luxo, em nome da mãe e da irmã do senador, também já foram penhorados, em um total de R$ 1,4 milhão — dois destes veículos foram apreendidos no mês passado. A Justiça ainda penhorou uma lancha, registrada por Zoraidi, que fica na Marina da Glória.

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Dodge que inquérito sobre Paes na Justiça Federal do Rio

Hudson Correa

Thiago Prado

16/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Investigação trata da existência de contas no exterior que teriam abastecido campanha para prefeito em 2012

A Procuradoria-Geral da República quer que seja enviado para a Justiça Federal do Rio o inquérito que investiga se o candidato do DEM ao governo estadual, Eduardo Paes, recebeu repasses irregulares da Odebrecht no exterior para a campanha de 2012. A manifestação feita pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, diverge do entendimento do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que em maio havia remetido a investigação do caso para a Justiça Estadual do Rio após a restrição do foro privilegiado de deputados. A apuração sobre Paes estava no STF pois também cita o deputado federal Pedro Paulo Carvalho (DEM).

Procurado, Eduardo Paes preferiu não comentar o andamento da investigação. Quando o inquérito foi aberto, em abril de 2017, ele afirmou ser “absurda” e “mentirosa” a acusação de que teria recebido vantagens da Odebrecht.

Caso seja remetido para a Justiça Federal, como quer Dodge, a investigação poderia cair nas mãos do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos processos da operação Lava-Jato no Rio. Neste mês, a defesa de Paes apresentou contestação ao pedido da procuradora-geral. Aristides Junqueira, advogado de Paes, quer manter o processo no STF ou, então, enviá-lo à Justiça Eleitoral. Caso não tenha sucesso no pleito e ele seja enviado à Justiça Federal, Junqueira defende que haja livre distribuição entre as varas, por considerar que as acusações não tem relação com a operação Lava-Jato.

O inquérito apura se Paes recebeu US$ 5,75 milhões da construtora Odebrecht em contas no exterior, entre julho e setembro de 2012, durante a campanha à reeleição para a prefeitura. O executivo da empreiteira Leandro Azevedo relatou os pagamentos em delação premiada. Ele contou que, inicialmente, combinou com Pedro Paulo o repasse de cerca de R$ 11 milhões, “no caixa dois e em espécie”. E que, depois, recebeu “um envelope de Pedro Paulo (indicando) valores a serem depositados no exterior, somando US$ 5,75 milhões”, afirmou Azevedo no depoimento.

O GLOBO teve acesso à íntegra do inquérito de dois volumes e quatro apensos. Para tentar comprovar as acusações, Azevedo entregou extratos de depósitos nas contas no exterior, abertas em nome das offshores Waterford Management Group e Siwa Capital Group. Conforme os documentos, a Siwa foi contemplada com US$ 3,75 milhões no Bank Privée Espírito Santo, na Suíça, em três depósitos nos dias 17, 20 e 26 de julho de 2012.

Já a Waterford recebeu US$ 2 milhões no Banif Internacional Bank, nas Bahamas, em dois depósitos nos dias 18 e 27 de setembro. As transferências ocorreram por meio do Meinl Bank em Antígua e Barbuda, no Caribe. A Lava-Jato diz que a Odebrecht comprou esse banco para facilitar a distribuição de recursos não contabilizados no exterior.

INVESTIGAÇÃO PARADA

Além dos extratos, delatores da Odebrecht apresentaram e-mails internos da empreiteira. Uma das mensagens, de 22 de junho de 2012, dizia: “Abaixo, o cronograma e dados para pagamento de Nervosinho”. Este seria o codinome de Paes nas planilhas da Odebrecht. Aberto em abril de 2017, o inquérito no STF não avançou desde então. Os depoimentos dos envolvidos nem sequer ocorreram, e a PGR ainda não solicitou a colaboração das autoridades estrangeiras para chegar aos donos das contas.