O Estado de São Paulo, n. 4550, 04/07/2018. Política, p. A6

 

Apoio a presidenciáveis divide o DEM

Pedro Venceslau e Felipe Frazão

04/07/2018

 

 

Enquanto bancada na Câmara prefere Alckmin, líderes do Nordeste e cúpula adotam visão pragmática e defendem uma aliança com Ciro

A disputa dos presidenciáveis por apoio eleitoral deixou o DEM dividido entre um bloco que defende o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e outro que prega uma aliança com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). De um lado está a bancada de 43 deputados, que é majoritariamente pró-Alckmin, e do outro, a executiva do DEM e lideranças regionais do Nordeste, que apoiam Ciro.

Enquanto a bancada tem um perfil mais ideológico, conservador e abriga parlamentares ligados a igrejas evangélicas, agronegócio e segurança pública, os caciques nordestinos fazem um cálculo pragmático sobre a dificuldade de Alckmin conseguir votos na região.

Segundo a Coluna do Estadão a corrente pró-Ciro tem hoje o favoritismo na disputa. O prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente nacional do DEM, tem sinalizado internamente que prefere apoiar o pedetista. Ele desembarcou ontem em Brasília para buscar consenso entre as duas correntes.

O impasse do DEM contaminou os demais partidos do bloco liderado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), que reúne Solidariedade, PP e PRB. O grupo, que já esteve com Ciro Gomes, se reúne hoje noite com Alckmin em um jantar na residência do presidente do PRB, Marcus Pereira (SP).

“Enquanto subsistir a précandidatura de Rodrigo, ela tem unanimidade de apoio do partido. Caso o partido decida por outro caminho, é inegável que existem diferentes pensamentos internos. Vou procurar conduzir o partido para o caminho desejado pela maioria”, disse ACM Neto ao Estado.

Mal-estar. Dois dirigentes partidários relataram um mal-estar gerado em recente conversa entre os presidentes dos partidos, em Brasília. Após jantarem com Ciro Gomes, os dois nomes mais influentes no DEM, ACM Neto e Rodrigo Maia, debateram abertamente se conseguiriam aprovar no voto uma aliança com o pedetista em diretórios como Bahia e Rio de Janeiro e falaram sobre resistências pontuais.

Dirigentes dos demais partidos, entre eles Paulinho da Força (SD), falaram até sobre o nome do empresário Josué Alencar (PR) para vice. O rumo da conversa irritou o ex-ministro Marcos Pereira, que indicou que abandonaria o grupo se a discussão se precipitasse. Do bloco, o PRB de Pereira é o partido que mais resiste a apoiar a candidatura de Ciro Gomes. O pedetista teria hoje preferência no Solidariedade de Paulinho e no PP do senador Ciro Nogueira (PI), presente à discussão.

Para tentar reverter esse quadro, Alckmin lançou uma ofensiva junto ao Centrão. Em uma reunião com investidores na segunda-feira, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), coordenador político da pré-campanha de Alckmin, apresentou três nomes como potenciais candidatos a vice: Flávio Rocha, do PRB, Aldo Rebelo, do SD, e Mendonça Filho, do DEM.

Já Ciro tem modulado o discurso para atrair o DEM. Na semana passada ofereceu pedidos de desculpas a integrantes do partido que se sentiram ofendidos por declarações suas. Conselheiro do pedetista, o exministro Mangabeira Unger disse ao Estado que não vê DEM como um partido de direita.

 

Reunião

Encontro da Executiva do MDB, ontem, em Brasília, definiu como será divisão dos recursos do fundo eleitoral

 

“Outro caminho"

“Enquanto subsistir a pré-candidatura de Rodrigo (Maia), ela tem unanimidade de apoio. Caso o partido decida por outro caminho, é inegável que existem diferentes pensamentos.”

ACM Neto​, PRESIDENTE NACIONAL DO DEM

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PT começa a montar estrutura da campanha ao Planalto

Vera Rosa

04/07/2018

 

 

Coordenação-geral ficará com o ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli; Ricardo Berzoini cuidará das finanças

 

Mesmo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso, em Curitiba, condenado pela Lava Jato, a cúpula do PT começou a montar a estrutura de campanha do petista ao Planalto e só vai partir para o chamado “Plano B” no último minuto.

O ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli será o coordenador-geral da campanha do PT e o ex-ministro Ricardo Berzoini ficará responsável pelas finanças. O time será integrado, ainda, pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e pelos ex-ministros Luiz Dulci e Gilberto Carvalho.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad continua no comando do programa de governo e é, até agora, o nome mais cotado para assumir a vaga de candidato ao Planalto, caso Lula seja impedido de entrar na disputa por causa da Lei da Ficha Limpa. Oficialmente, no entanto, essa discussão é vetada no partido.

 

Justiça. A Executiva Nacional do PT se reuniu ontem, em Brasília, e aprovou os nomes indicados por Lula para a coordenação da campanha. Na ocasião, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente da sigla, leu uma carta escrita por ele com críticas ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, e ao juiz Sérgio Moro.

“Já não há razões para acreditar que terei Justiça”, escreveu Lula. “Se não querem que eu seja presidente, a forma mais simples de o conseguir é ter a coragem de praticar a democracia e me derrotar nas urnas”, completou. Para Lula, o seu processo foi permeado por “manobras” para tirá-lo do páreo.

Coordenador financeiro da campanha petista, Berzoini disse ao Estado que o PT não fará aliança com Ciro Gomes (PDT) porque ele adotou um programa com “posições privatistas”. Afirmou, ainda, haver hoje uma distância “irreconciliável” com o pré-candidato do PDT, que foi ministro da Integração Nacional no governo Lula. “O problema não é com Ciro, mas com certas linhas programáticas adotadas por ele, como, por exemplo, em relação à Previdência Social”, argumentou.

Embora o PSB esteja mais próximo de Ciro, Berzoini disse acreditar em um acordo com o partido. “Diferentemente da última eleição, nosso programa tem nitidez à esquerda. E é importante que a esquerda dialogue sobre o que está acontecendo no País e o que significa construir consensos, tanto sobre o candidato como em relação à questão programática”, afirmou Berzoini, também fazendo um aceno ao PCdoB. A pré-candidata do PCdoB à Presidência é Manuela d’Ávila, mas uma ala do partido prefere fazer um acordo com Ciro.

 

Diálogo

“É importante que a esquerda dialogue sobre o que está acontecendo no País e o que significa construir consensos.”

Ricardo Berzoini​, COORDENADOR FINANCEIRO DA CAMPANHA DO PT À PRESIDÊNCIA