Título: BC abre o jogo
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2012, Economia, p. 13

Agora todos vão saber como cada um dos diretores do Banco Central (BC), inclusive seu presidente, votaram em relação à taxa básica de juros da economia, a taxa Selic, decidida pelo Comitê de Política Monetária(Copom). A decisão foi anunciada ontem pelo BC, comandado por Alexandre Tombini. A medida fortalece o comando de Tombini, que tem agido em sintonia com o Palácio do Planalto, e pode pressionar os demais diretores em momentos como o atual, em que a presidente Dilma Rousseff levanta a bandeira da queda dos juros.

Em comunicado, na sua página na internet, o BC explicou que tomava essa decisão levando em conta a nova Lei de Acesso a informações. Segundo o BC, o novo regulamento do Copom vigorará a partir da próxima reunião, marcada para os dias 29 e 30 deste mês. Portanto o registro nominal e a divulgação dos votos dos membros do Comitê já serão divulgados, tanto no comunicado, que sai no dia final da reunião, quanto na ata, uma semana depois. Mas as novidades não param por aí.

Segundo a nota, o BC vai também divulgar também as informações, as apresentações e os documentos expostos como subsídios nas reuniões do Copom, após quatro anos. No caso dos documentos, o BC explicou que o prazo é retroativo, o que será um prato cheio para economistas e estudiosos. Já quem votou em que taxa só será divulgado a partir da reunião seguinte.

Mercado A medida do BC foi bem recebida pelo mercado, mas abre brecha para aumentar a pressão política sobre os membros do Copom. "Não haveria nenhum problema se os membros do Copom tivessem mandato", observou o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do BC. Como a diretoria do BC não tem mandato, Loyola argumenta que a medida pode contribuir para um maior constrangimento. "Pode ser um elemento de pressão, mas, nem por isso, acredito que um membro do Copom deixará a sua convicção de lado", afirmou.

Para Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do ABC Brasil, a pressão política já existe. "O Banco Central pode se sentir mais desconfortável num primeiro momento, mas como o voto não é segredo entre eles, acho que não muda muita coisa e logo esse desconforto passará", ponderou.

O Comitê de Política Monetária é composto pelo presidente do BC, Alexandre Tombini e seis diretores: Aldo Mendes, Política Monetária; Altamir Lopes, Administração; Anthero Meirelles, de Fiscalização; Carlos Hamilton de Araújo, Política Econômica; Luiz Awazu, de Assuntos Internacionais e que também acumula a diretoria de Normas, e Sidnei Corrêa Marques, de Liquidações.

Dos seis, quatro são funcionários de carreira das instituição. Apenas Aldo Mendes, funcionário de carreira do Banco do Brasil, e Luiz Awazu, que já foi secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda não pertencem aos quadros do BC. Com essa característica — de serem servidores públicos e técnicos —tem gente que acredita que eles podem ser mais facilmente convencidos pelo governo. Até o momento, essa corrente não venceu.

O presidente do BC tem afirmado, sempre que provocado, que as decisões do Copom são eminentemente técnicas e baseadas na montanha de dados e projeções que o próprio BC faz. E mais. Que assim como vem acontecendo nos últimos tempos o BC tem, de fato, a tão proclamada autonomia, embora não a tenha de direito.