Título: Críticas à falta de cara e voz do PMDB
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2012, Política, p. 6

Uma divergência entre o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim e o vice-presidente da República, Michel Temer, marcou ontem o encontro do PMDB para discutir as eleições municipais de outubro. Jobim reclamou que o partido perdeu a "cara e a voz", não tem resposta para as principais questões do país e desistiu de ousar desde 1989, quando lançou Ulysses Guimarães candidato à Presidência da República. "Quem não ousa, não tem voz e não tem cara. Quem se curva acaba tomando um pontapé", reclamou Jobim.

Escalado para acabar com o mal-estar, Temer defendeu a legenda. "O nosso partido é fundamental para garantir a governabilidade e tem se posicionado em todos os assuntos importantes para o país", defendeu. Para o vice-presidente, não é o momento de a legenda perder-se em discussões futuras: é hora de concentrar-se nas eleições municipais de outubro. "Nosso primeiro objetivo é eleger o maior número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores do país." O projeto não para aí e chega à sucessão nas Mesas Diretoras do Congresso. "Temos que ter o controle das duas Casas do Congresso no ano que vem. Nós precisamos controlar o Congresso Nacional", conclamou Temer. O recado é dirigido especialmente ao PT, já que setores do partido defendem um rompimento do acordo firmado de alternância no comando da Câmara.

Para Temer, presidir a Câmara e o Senado é fundamental para que o partido tenha condições de dar as cartas. "O Executivo só executa as leis que o Legislativo legisla. O Judiciário só julga as leis que o Legislativo cria", completou, superdimensionando o poder do parlamento na estrutura presidencialista brasileira.

Royalties Segundo interlocutores do partido, Jobim apenas expôs publicamente opiniões já explicitadas internamente. Ele pontuou algumas questões, como o fim do Fundo de Participação dos Estados (FPE), o debate dos royalties — "no qual existe uma clara disputa entre a União, os estados e os municípios", na opinião de Jobim — e a relação pouco eficiente do partido com o governo federal. "A nossa relação com o governo federal é zero, assim como é zero a relação dos nossos ministros com as bancadas da Câmara e do Senado", completou. Para o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o partido beneficiou-se, nos últimos anos, dessa ausência de definições em assuntos espinhosos. "Não ter posição tem sido uma característica típica do PMDB. Talvez por isso a gente sempre tenha crescido sempre", alegou.