Título: Ações contra a seca
Autor: Filizola, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2012, Brasil, p. 9

A presidente Dilma Rousseff se reuniu na manhã de ontem com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e membros da Defesa Civil para tratar de providências que possam minimizar os efeitos da pior seca das últimas quatro décadas no Nordeste. Prefeitos e representantes de cidades na Paraíba e em Alagoas também estiveram no ministério. De acordo com o último balanço da Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), 769 municípios já tiveram a situação de emergência reconhecida.

"A seca está severa e pede extrema atenção. Dilma solicitou que as ações definidas pelo governo federal cheguem o quanto antes às populações afetadas", afirmou Bezerra. Durante o encontro, o ministro reforçou a importância da participação de parlamentares, governadores e prefeitos para saber se as medidas do governo federal estão sendo cumpridas nos estados. Com mais de 2,7 milhões de pessoas afetadas pela seca e 214 municípios em situação de emergência, a Bahia apresenta o cenário mais grave. O governador Jaques Wagner esteve esta semana com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e solicitou recursos para projetos de infraestrutura hídrica. Para aliviar os danos ambientais e sociais, a Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado (Seagri) desenvolveu um projeto-piloto que levará chuva artificial a algumas cidades. Já no sertão de Pernambuco, o governo autorizou a contratação de 800 carros-pipa, enquanto o Executivo vai disponibilizar R$ 164 milhões. Atualmente, 476 municípios do Nordeste recebem água de cerca de 2.600 caminhões-pipa. Até o momento, a União já repassou R$ 2,7 bilhões para os estados mais afetados na região.

A atual situação no Nordeste, bem como as chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro no início de 2011 e em Santa Catarina em 2008 e 2011, evidenciam a falta de planejamento do governo federal para lidar com desastres já anunciados, baseados em prognósticos. Segundo especialistas ouvidos pelo Correio, esses eventos fortalecem ações pontuais de assistencialismo, que preocupam em um momento pré-eleitoral, e estimulam a chamada "indústria da seca", com a distribuição de água por carros-pipa, contruções de cisternas, entre outras ações de urgência.

Para a coordenadora nacional do movimento Articulação no Semiárido (ASA), Cristina Nascimento, o investimento público não pode ser meramente emergencial, como é o costume. "O cidadão acaba vendo a água como um benefício e não um direito. Não há um debate profundo de combate à seca em parceria com a formulação de políticas públicas", critica. Cristina alerta ainda para o perigo de candidatos municipais se "aproveitarem" do momento de dificuldade e da distribuição de recursos para se fortalecerem.

Alternativas A rede ASA, formada por 750 organizações da sociedade civil, desenvolve iniciativas de gestão e políticas de convivência sustentável com a região semiárida. A entidade realiza capacitações de famílias de agricultores para ensinar e estimular o uso de tecnologias alternativas, como cisternas e barragem subterrânea, que permitem aumentar a produção nos tempos de chuva. A agricultora Maria Joelma da Silva Pereira, 35 anos, vive em Cumaru, no agreste de Pernambuco, e desde 2004 se adequou a novas técnicas ensinadas pela ASA para garantir a renda extra nos tempos de estiagem.

Beneficiária do programa do governo federal Um Milhão de Cisternas, ela conseguiu diversificar a produção e hoje vende mel e queijo em feiras locais, já que em tempos de seca a produção de verduras, legumes e hortaliças é usada para consumo da família e alimento para os animais. Em média, a família consegue arrecadar R$ 400 nas vendas, porém, na estiagem o lucro cai pela metade. Por causa do trabalho que desenvolve em casa, Joelma se tornou uma das diretoras da Associação dos Agricultores Agroecológicos de Cumaru, criada em janeiro deste ano.