Título: Com apoio de Obama Hollande dobra Merkel
Autor: Franco, Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 18/05/2012, Economia, p. 10
As indefinições quanto à Grécia, que volta às urnas em 17 de junho, num pleito que pode resultar na saída desse país do mediterrâneo da Zona do Euro, aceleraram a agenda política global diante de mais um dia de queda nas bolsas de valores, que devem fechar a semana no vermelho. Uma saída mais suave e rápida para o impasse, com o abrandamento das medidas de austeridade impostas aos gregos em troca de empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da própria União Europeia para honrar dívidas, embora indesejada pelo mercado financeiro e pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, entrou definitivamente na pauta.
Em videoconferência ontem, os líderes do G-8 — o grupo de países mais ricos do mundo — que participam hoje e amanhã de reunião em Camp David, a residência de verão do presidente norte-americano, Barack Obama, em Maryland, acordaram medidas que visam não apenas a austeridade, mas também o crescimento de países como a Grécia. Uma derrota para Merkel, que com apoio do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, havia deixado claro que não haveria negociações em torno das medidas de austeridade. O acerto, ainda que em tom diplomático, é uma vitória do novo presidente francês, o socialista François Hollande, cujo ministro das Finanças, Pierre Moscovici, disse ontem que a França não iria ratificar o pacto europeu sobre disciplina fiscal a menos que o documento fosse alterado para incluir compromissos ambiciosos com o crescimento econômico.
A reunião em Camp David será marcada pela pressa em sair da atual zona de turbulência que emperra a economia mundial e pode comprometer, inclusive, os planos de Obama de se reeleger nas eleições em 6 de novembro. Os Estados Unidos vão presidir a 38ª reunião do G-8 que vai reunir, além de Obama, Hollande e Merkel, os primeiros-ministros do Japão, Yoshihiko Noda, do Canadá, Stephen Harper, da Rússia, Dmitri Medvedev, da Itália, Mario Monti, e do Reino Unido, David Cameron.
Também participam do encontro a representante da Política Exterior da União Europeia (UE), Catherine Ashton, o presidente do Conselho Europeu, Heman Van Rompuy, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
Hollande
Antes que a imprensa mundial noticiasse o resultado da videoconferência, o porta-voz da primeira-ministra alemã, Steffen Seibert, tratou de suavizar o resultado: “Houve um acordo de que as duas vertentes não estão em conflito, mas são ambas necessárias”. Fontes dos governos italiano e francês confirmaram o conteúdo da conversa e indicaram que houve uma “ampla convergência” entre os chefes de Governo e Estado reunidos virtualmente ontem.
O retorno dos socialistas depois de 17 anos ao poder na França, com Hollande, e a necessidade de Obama de dados positivos na economia — emprego e consumo — foram importantes para o acordo. A expectativa é que as partes divulguem ajuda financeira para a Grécia, país que contamina a imagem de outros países da Zona do Euro, como a Espanha. As bolsas estão perdendo capitais e isso terá impacto no investimento das empresas e no emprego. Por outro lado, a corrida ao dólar tira ainda mais a competitividade dos produtos norte-americanos, que mais caros, perdem espaço até no mercado doméstico para importados, assim como a fuga do euro para outros moedas prejudica a Europa.
Hollande já tinha manifestado desde a campanha eleitoral sua posição contrária ao pacto firmado por Sarkozy, com outros líderes europeus em março. O novo presidente francês discutiu pessoalmente o tema com Merkel, algumas horas após tomar posse na última terça-feira. No encontro em Berlim, Hollande, segundo seu ministro das Finanças, Pierre Moscovici, deixou claro que não abriria mão de crescimento.
“O pacto deve ser acrescido com uma parte sobre o crescimento econômico, e, quando digo isso, estamos falando de uma estratégia ambiciosa de crescimento”, afirmou Moscovici. “O que estamos dizendo — e somos todos muito pró-europeus, François Hollande é muito europeu, Jean-Marc Ayrault (primeiro-ministro) é muito europeu e eu sou muito europeu — é que devemos levar a construção da Europa a uma nova direção, sem desvalorizar a responsabilidade orçamentária... para nós responsabilidade orçamentária e crescimento econômico não são contrários.”
Tsipras
O líder radical de esquerda grego Alexis Tsipras disse ontem que vai combater as políticas “bárbaras” de austeridade que, segundo ele, estavam levando a nação à falência. Cada vez mais preocupados com o futuro da Grécia na zona do euro, os credores estrangeiros e os partidos tradicionais têm intensificado os alertas de que o país corre o risco de perder uma ajuda financeira internacional se não conseguir cumprir os cortes de gastos incluídos no seu mais recente pacote de resgate. Tsipras, de 37 anos, líder do partido Syriza e estrela ascendente da política grega, prometeu que não iria ouvir nenhum grupo.
“Nós nunca iremos participar de um governo para resgatar o pacote de socorro financeiro”, disse o líder do Syriza, que lidera as pesquisas de intenções de voto.
» Uma semana no vermelho
As bolsas europeias caminham para sua maior queda semanal desde novembro de 2011, depois de recuarem pela quarta sessão seguida ontem, como reflexo de uma escalada da crise bancária na Espanha e das indefinições na Grécia, que adiciona preocupação à situação da Zona do Euro. O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações europeias, fechou em queda de 1,05%, aos 982 pontos, seu menor nível no encerramento em cinco meses. Já em Londres, o indicador referencial atingiu, por sua vez, queda de 1,2%, no nível mais baixo de fechamento em seis meses. Todas bolsas europeias apontaram recuo, assim como as da Ásia. Uma semana no vermelho era a expressão mais se ouvida nos pregões, com analistas duvidando de uma grande reversão no pregão de hoje.