O globo, n. 31054, 15/08/2018. País, p. 8

 

Bolsonaro agora promete Bolsa Família a toda população

Dimitrius Dantas

Jussara Soares

15/08/2018

 

 

Sem explicar de onde tiraria recursos para expandir o benefício, candidato defende programa que já condenou

Antes crítico do Bolsa Família, o candidato do PSL à Presidência , Jair Bolsonaro, agora quer expandir o programa para toda a população brasileira. O presidenciável registrou ontem sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e apresentou seu programa de governo, que, além de prometer expandir o benefício social, também defende a legalização do porte de armas, a transformação da invasão de propriedades em terrorismo e a criação de um superministério econômico.

Sobre o Bolsa Família, o candidato disse que pretende instituir em seu governo um programa de renda mínima para que cada brasileiro receba o equivalente ou mais do que é atualmente pago pelo programa social.

Sem explicar de onde tiraria recursos para o benefício, Bolsonaro defendeu a proposta de forma genérica: “Vamos deixar claro: nossa meta é garantir, a cada brasileiro, renda igual ou superior ao que é atualmente pago pelo Bolsa Família”.

No mesmo capítulo, disse que o programa é inspirado em “pensadores liberais, como Milton Friedman”. Neste trecho, novamente sem se estender nas explicações, disse que irá propor a modernização do Bolsa Família, segundo ele, “com vantagens para os beneficiários”. O programa de governo também não elenca quais os benefícios possíveis.

CARTEIRAS DE TRABALHO

A proposta, no entanto, é bem diferente da forma como o então deputado federal tratava o programa iniciado na gestão do PT. Em 2011, na Câmara, o parlamentar afirmou que o programa servia para dar dinheiro “a quem se acomoda”. Na época, ele disse: “O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder”.

Em proposta de governo registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato propõe a criação de um superministério para comandar a área econômica. No chamado Ministério da Economia, Bolsonaro pretende reunir quatro pastas: Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio e Secretaria-Geral. Em todas as entrevistas, tem deixado claro que o comando, se eleito, seria do economista Paulo Guedes, que atua na sua campanha.

Ainda no programa de governo, Bolsonaro defende a criação de uma nova Carteira de Trabalho, verde e amarela, para que os jovens possam escolher entre ela e a atual, azul. A carteira tradicional respeitaria o ordenamento jurídico vigente. A carteira verde e amarela permitiria que contratos individuais prevaleçam sobre a CLT, mantendo os direitos constitucionais.

Bolsonaro também afirmou que pretende tipificar como terrorismo as invasões de propriedades rurais e urbanas em todo o país. Segundo o seu programa, essa seria uma das medidas para reduzir “homicídios, roubos, estupros e outros crimes”.

Além disso, Bolsonaro defendeu teses como “prender e deixar preso” para reduzir a criminalidade e o “excludente de ilicitude” para policiais que hoje seriam punidos, segundo ele, injustamente. O candidato atribuiu o crescimento da violência no Brasil e em outros países ao Foro de São Paulo, organização que reúne entidades de esquerda da América Latina.

“Os cinco primeiros colocados no ranking de piora: Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará, Bahia e Ceará, são regiões que passaram a ser governadas pela esquerda ou seus aliados e onde a ‘epidemia’ de drogas não foi coincidentemente introduzida”, afirma o plano.

Bolsonaro abriu seu programa de governo fazendo um aceno a um Brasil de “diversas opiniões, cores e orientações”. Segundo ele, as pessoas devem ter liberdade de fazer suas escolhas e viver com os frutos dessas escolhas. O candidato, contudo, destacou que elas não devem interferir em “aspectos essenciais da vida do próximo”. Para o deputado federal, a família, “seja ela como for”, é sagrada.

Mais tarde, ao GLOBO, negou se tratar de um aceno à comunidade LGBT:

—Não (é um aceno). Você vai no parágrafo segundo do artigo 226 da Constituição. Para efeito de proteção do Estado, é considerado família a união entre homem e mulher. Se alguém quiser achar que dois homens e duas mulheres são uma família, que proponha a mudança da Constituição.

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Candidato bate ponto e deixa Câmara

Eduardo Bresciani

Jussara Soares

15/08/2018

 

 

Bolsonaro foi fazer campanha em São Paulo e não participou de votação

O deputado e candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ) registrou presença na manhã de ontem na Câmara, mas não ficou para a sessão deliberativa. Ao meio-dia, quando o projeto em pauta foi à votação, Bolsonaro já estava dentro do avião que o levou para São Paulo.

O GLOBO acompanhou o momento em que Bolsonaro registrou presença. Eram 10h06m. Logo em seguida, o deputado deixou a Câmara. Passou rapidamente por um evento com aliados do PSL e partiu para o aeroporto. Em São Paulo, Jair Bolsonaro teve compromissos de campanha.

A prática de registrar presença e deixar a Casa é comum na Câmara. Sem o registro do ponto, o deputado que deixa de participar de sessão com votação, sem justificativa, tem o salário descontado. O subsídio dos deputados é de R$ 33,7 mil mensais. O desconto interfere em parcela referente a 62,5% do salário. Como neste mês foram realizadas sessões de votação em apenas quatro dias, quem levou falta teve prejuízo considerável.

Na sessão de ontem foi aprovado projeto que amplia medidas de proteção a mulheres vítimas de violência.

O pré-candidato afirmou que não sabia que haveria votação, mesmo informado da sessão deliberativa que aprovou a ampliação de possibilidades de medidas protetivas às mulheres:

—Pelo que sei não houve votação. Se houve lamentavelmente eu perdi. Marquei presença, tive dois eventos de manhã, estou aqui (em São Paulo) agora e não justifico minhas faltas, tá ok?