Título: Vaccarezza de saída da CPI
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2012, Política, p. 6

A situação do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) como integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (PCI) mista do Cachoeira se aproximou do insustentável depois que ele foi flagrado mandando uma mensagem de texto na qual tranquiliza o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), um dos possíveis convocados para depor no colegiado. Agora, a cúpula do PT só vê uma saída para que o deputado tente se redimir: pedir o desligamento do colegiado. Caso contrário, não está descartada a substituição dele por um correligionário. O descuido de Vaccarezza reforça a versão defendida pelos parlamentares da oposição, de que a base aliada está concentrada em manter as investigações distantes dos partidos governistas, principalmente PT e PMDB.

Na sessão de anteontem, uma equipe do SBT filmou Vaccarezza enviando um SMS para Cabral: “A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)”, dizia o texto recebido pelo governador fluminense. O desconforto na relação entre os dois maiores partidos da base aliada estourou na semana passada, quando o PMDB não concordou em abraçar os dois principais pleitos de boa parte dos petistas que integram a CPI: atacar publicamente o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e votar a favor da convocação de jornalistas para prestarem depoimentos. Essa seria a fatura cobrada pelo PT para continuar poupando Cabral do comparecimento à comissão.

O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), já havia procurado Vaccarezza, na quarta-feira, para pedir que ele não alterasse o foco proposto pelo relator do colegiado, o deputado petista Odair Cunha (MG), cujo plano de trabalho limitava a investigação à seccional da construtora Delta no Centro-Oeste, que mantinha diversos contratos com o governo de Goiás, do tucano Marconi Perillo. Além disso, Pinheiro orientou os senadores Jorge Vianna (PT-AC) e José Pimentel (PT-CE), representantes da legenda na CPI, a segurarem o ímpeto de Vaccarezza. Agora, a veiculação do contato entre o deputado e Cabral gerou revolta dentro do PT.

Além de descredibilizar a atuação do partido na CPI, o passo em falso de Vaccarezza empurrou Cabral para o centro das atenções novamente. Isso já havia ocorrido quando foram divulgadas fotos do governador dançando e com guardanapos na cabeça ao lado de Fernando Cavendish, um dos donos da construtora Delta, que teria o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, como sócio oculto. “Vimos uma declaração de amor flagrada por uma câmera indiscreta. Esse fato só acrescenta argumentos à defesa da convocação do Cabral. Essa declaração de cumplicidade explícita reforça a tese de que os governadores devem comparecer. Essa confissão de blindagem pegou muito mal para a comissão”, argumentou o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).

Pressão

Na próximo encontro da CPI, a oposição vai voltar a carga contra Vaccarezza e o PT, tentando pressioná-lo a entregar a cadeira no colegiado. “Que papelão. Ele (Vaccarezza) revelou explicitamente o que estava nos bastidores, a blindagem. Vimos um investigador trocando mensagens com um investigado em potencial. Isso compromete muito. O ideal, agora, seria o PT afastá-lo. Se não ocorrer, vamos ver algum tipo de medida. Queremos saber do senhor Vaccarezza ‘quem é nosso e quem é seu’”, reforçou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).

Em meio aos ataques, a base aliada agora tentar sustentar que a atitude do deputado petista não reflete o posicionamento de seus aliados. “Aquela é uma mensagem de um amigo para outro, um contato pessoal do Vaccarezza dizendo que não vê elementos para que o Cabral seja convocado. Eu não sei de acordo nenhum entre PT e PMDB. Aquilo foi um movimento do Vaccarezza, não da CPI”, afirmou o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).

Ontem, Vaccarezza emitiu nota oficial dizendo apenas que não há blindagem na CPI e que Cabral não aparece entre os investigados da Polícia Federal e do Ministério Público. Afirma ainda que o “texto da mensagem refletiu minha preocupação pessoal com tensionamentos pontuais entre o PT e o PMDB. Meu objetivo era deixar claro ao governador Sérgio Cabral que, apesar das discordâncias pontuais, a boa relação entre nossos partidos deve ser mantida”.

Leia sobre os erros de português na mensagem de Vaccarezza no Blog da Dad

A defesa de Demóstenes O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltou a aparecer no Congresso ontem e foi sucinto ao comentar a defesa no processo por quebra de decoro que responde no Conselho de Ética devido ao envolvimento com Carlinhos Cachoeira. “Estou estudando, trabalhando o dia todo nisso, com meu advogado”, afirmou o parlamentar. Ele chegou ao Senado pela manhã e, depois de ser vacinado contra a gripe no serviço médico da Casa, foi ao plenário, onde cumprimentou os colegas Paulo Paim (PT-RS) e Fernando Collor (PTB-AL).

"Vimos uma declaração de amor flagrada por uma câmera indiscreta. Essa declaração de cumplicidade explícita reforça a tese de que os governadores devem comparecer" Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado