O Estado de São Paulo, n. 45608, 31/08/2018. Política, p. A6

 

‘Flores não garantem paz’, diz Bolsonaro

31/08/2018

 

 

Eleições 2018 Candidatos / Candidato do PSL reage a vídeo de Alckmin que ataca proposta de facilitar o porte de armas; tucano diz faltar a adversário ‘apreço pelas pessoas’

 

 

‘Coração’. Bolsonaro participa de evento em Porto Alegre; ele disse que as mulheres deveriam usar armas para se defender

O candidato do PSL à Presidência, deputado Jair Bolsonaro (RJ), reagiu ontem a um vídeo produzido pela campanha do tucano Geraldo Alckmin que critica de forma velada o discurso do capitão reformado de flexibilizar o porte de armas como forma de combater a violência. A peça exibe temas que deverão ser enfrentados pelo próximo presidente – como desemprego e falta de saneamento – sendo alvejados por projéteis, e termina com o mote “não é na bala que se resolve”. Na véspera, Bolsonaro já havia sido chamado de “projetinho de Hitler tropical” por Ciro Gomes, do PDT.

“Armas não geram violência e flores não garantem a paz. Ele que deixe de andar com carro blindado e segurança que eu acredito na proposta dele”, afirmou o candidato do PSL, durante evento com apoiadores, a maioria mulheres, no centro de Porto Alegre. Sobre o ataque de Ciro, disse que o pedetista seria um dos culpados por “enterrar o Brasil”. “Realmente eu não sou tão conhecedor de muita coisa quanto ele, que já foi ministro do Lula e ajudou a enterrar o Brasil nesse caos ético, moral e econômico que nos encontramos.”

Ainda no evento, Bolsonaro prometeu “igualdade”, ao afirmar que mulheres devem ter posse de arma para se defender. “Queremos que vocês tenham o direito à legítima defesa. Vocês não são frágeis. O que não pode são os homens retirarem de vocês esse direito de portar algo que, além de defender a sua vida, defende a vida dos seus filhos.”

 

‘Apreço’. Em campanha na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio, o candidato do PSDB voltou a criticar o adversário do PSL. Questionado sobre o ataque de Ciro a Bolsonaro, Alckmin disse que falta “apreço” pelas pessoas e que a política precisa enxergar isso. “Um candidato que não tem apreço pelos mais pobres, pelas mulheres, pelos negros, pelos gays, pelos índios e pelas empregadas domésticas, não é possível”, afirmou Alckmin. A 1.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) avalia se aceita denúncia contra o candidato do PSL por racismo contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. Bolsonaro já é réu em outras duas ações penais no STF acusado de incitar o estupro, em caso envolvendo a deputada Maria do Rosário (PT-RS)

“A política precisa enxergar as pessoas. Não pode deixar ninguém para trás. Se não, é a incivilização. O grande massacra o pequeno. É com diálogo que vamos crescer”, disse o tucano.

Em visita a laboratório da Unicamp, em Campinas (SP), Ciro fez nova referência a Bolsonaro, ao dizer que a política nacional está cultivando “Hitlerzinhos”. “A lucidez não está na política, ela recolhe a lucidez, e a lucidez se empodera com os rumos que a população dá”, afirmou o pedetista.

 

Amoêdo. Depois de Ciro e Alckmin, Bolsonaro foi alvo de um terceiro concorrente. Candidato à Presidência pelo Novo, João Amoêdo disse que o capitão reformado tem “apenas o discurso liberal”, enquanto ele “tem a prática”. Amoêdo também sinalizou que não pretende apoiar Bolsonaro, num evento segundo turno das eleições. “Tenho dúvidas (de que ele viva) na prática uma filosofia liberal, porque não é isso que ele faz nesses anos de atuação, quase 30 como deputado federal. Acho que é muito discurso, a gente tem a prática. Qualquer alinhamento que a gente vier a fazer (no segundo turno) tem de ser em cima das ideias, não julgo nenhum político pelo o que ele fala, mas pelo o que ele fez ou pelo o que ele faz”, afirmou.

Com 1% das intenções de voto segundo pesquisa Ibope, Amoêdo tenta crescer entre os eleitores de direita, espectro em que Bolsonaro também trabalha. O candidato do Novo disse estar otimista em figurar no segundo turno no lugar de Bolsonaro e, por isso, tem sido alvo de ataques desferidos por apoiadores do deputado