Título: Polícia toma o Santo Amaro
Autor: Mariz, Renata; Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2012, Brasil, p. 10

As ruas do Morro Santo Amaro, localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro, próximo ao bairro da Glória e da praia do Flamengo, foram palco da primeira operação do programa Crack, é possível vencer, lançado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro do ano passado. Com a ajuda de 150 homens da Força Nacional, policiais civis e militares tomaram a comunidade e as imediações. O objetivo, além de combater a venda e o consumo da pedra fabricada a partir da pasta base de cocaína, é preparar o local para receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Além do foco repressivo, a medida pretende convencer os usuários a deixarem o vício. Só ontem foram recolhidos 101 moradores de rua, dos quais 89 adultos e 12 crianças e adolescentes. Todos foram levados para abrigos municipais.

O pé do Santo Amaro, que abriga uma pequena cracolândia, onde cerca de 50 usuários costumam se reunir, foi escolhido pelo governo estadual para dar início às ações do plano nacional. Na ocupação da comunidade, ontem, os agentes de segurança descobriram outro ponto de consumo, no alto do morro. Eles identificaram ainda uma instalação de gatonet, como são chamadas as gambiarras de TV a cabo, com mais de mil assinaturas. A operação contra o crack não tem data para acabar. Caberá ao Rio demonstrar como enfrentará o problema, até para ser copiado pelos demais estados que já aderiram ao programa federal — Pernambuco, Rio Grande do Sul e Alagoas. O Distrito Federal deve ser o próximo a assinar convênios do plano.

Coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Trajano critica a ação promovida no Morro Santo Amaro. "É um modelo de operação muito ostensivo e desnecessário. Tem um impacto midiático, mas não resulta em nada. De qualquer forma, só o fato de a operação envolver a abordagem da saúde, já é um pequeno avanço", diz o especialista. Para a iniciativa vingar, entretanto, diz ele, será necessário trabalhar melhor o usuário. "Não adianta simplesmente recolher e acolher os usuários. Eles devem ter um espaço contínuo para o tratamento e devem querer fazê-lo."

O consultor em segurança pública George Felipe Dantas vê um propósito positivo na presença policial. "Uma operação como essa tem o poder de tornar as forças policiais simpáticas aos olhos da comunidade. Os agentes, que têm o monopólio da força, começam a se confundir com outros operadores que sem dúvida promovem ações positivas, como agentes de saúde, psicólogos e assistentes sociais", diz. Segundo Dantas, o mérito do governo no programa Crack, é possível vencer foi o de promover ações conjuntas. "As autoridades perceberam que certos problemas de segurança pública não são casos de polícia, e sim de política", reforça.

Monitoramento Ações importantes estão previstas na operação contra o entorpecente, entretanto, ainda não saíram do papel. No foco da repressão, por exemplo, está programada a compra de 100 câmeras, que serão instaladas em pontos de consumo. O objetivo é monitorar a rotina dos locais, bem como identificar traficantes. Na parte da saúde, considerada a grande inovação, investimentos vêm sendo feitos, mas a rede pública de atendimento ainda sofre com falta de estrutura. Ao todo, o governo federal pode liberar até R$ 9 milhões para ajudar o Rio a combater o problema. Os recursos para cada estado que aderir ao programa nacional variam, conforme o tamanho do problema.

PMs denunciados por tortura Dois policiais militares — Renan Ribeiro de Souza e Cid Lima dos Santos — foram denunciados ontem por tortura praticada contra uma moradora da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, já ocupada pelas forças de segurança. Um terceiro militar, Rodrigo Bernardo Gama de Almeida, também foi processado, mas por falso testemunho, com outra moradora, Francisca Pereira de Sousa. Os dois, segundo denúncia do Ministério Público, confirmaram uma versão mentirosa sobre os fatos apresentados pela dupla. Souza teria agredido a vítima com socos, chutes e uma espécie de revista íntima para procurar drogas ou armas. Santos teria feito tortura psicológica.

R$ 9 milhões Previsão de investimento