Título: Aposta no crescimento europeu
Autor: Franco, Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2012, Economia, p. 16

O novo presidente francês François Hollande disse ontem, depois de encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca, que o crescimento econômico deve ser prioridade na Zona do Euro, ainda que os países da região tenham que adotar medidas de austeridade fiscal. Hollande afinou com Obama o discurso que deverá fazer hoje, na reunião do G-8, o grupo dos países mais ricos do mundo, em Camp David, residência de férias do presidente norte-americano, anfitrião do encontro de cúpula.

Obama destacou, em coletiva, a importância de a Grécia se manter na Zona do Euro, assim como Hollande, mas evitou opinar sobre as divergências entre Hollande e a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que também participará do encontro. Merkel tem se mostrado intransigente na defesa das medidas de austeridade na Grécia em troca de apoio financeiro da própria União e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e tinha no ex-presidente francês Nicolas Sarcozy seu principal aliado.

Merkel, porém, tem reafirmado esforços para manter o país do Mediterrâneo entre os 17 que usam a moeda comum, e desmentiu ontem informação de que teria sugerido aos gregos a realização de referendo se querem ou não ter o euro como moeda. A reunião que começa hoje terá a participação, além de Hollande, Obama e Merkel, de primeiros-ministros e chefes de Estado do Japão, Espanha, Reino Unido, Itália, Rússia e Canadá, além de delegação da UE. Ao desembarcar nos EUA, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, fez um apelo aos países que compõem a Zona do Euro "para que adotem ações decisivas para conter a crise da dívida" e defendeu o que Merkel negou "os gregos devem decidir se querem ficar ou não no bloco monetário".

Independentemente das declarações e até das decisões que possam sair do encontro dos líderes globais, nos Estados Unidos, as autoridades europeias estão trabalhando em planos de contingência no caso de a Grécia sair da Zona do Euro, afirmou ontem o comissário comercial da União Europeia (UE), Karel De Gucht, enquanto Berlim disse estar preparada para todas as eventualidades.

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, um dos críticos mais ferrenhos da Grécia, disse que a turbulência do mercado, alimentada pela crise da dívida na região, pode durar um ano ou dois.

"Quanto à crise de confiança no euro ... em 12 a 24 meses, vamos ver uma calmaria nos mercados financeiros", garantiu Schaeuble. "Um ano e meio atrás, talvez houvesse o risco de um efeito dominó", disse De Gucht ao jornal belga em língua holandesa De Standaard. "Mas hoje há no Banco Central Europeu, bem como na Comissão da UE, serviços que trabalham em cenários de emergência se a Grécia não conseguir. A saída grega não significa o fim do euro, como alguns dizem", afirma.

» Protesto em casa

A polícia alemã dispersou ontem manifestantes contrários às medidas de austeridade impostas ao países da Zona do Euro em vários pontos de Frankfurt. São quatro dias de protestos que encerram hoje. Cerca de 50 manifestantes foram detidos próximos da sede do Goldman Sach"s na capital financeira da Alemanha, onde exibiam o cartaz: "Fome? Coma um banqueiro". Os protestos preocupam os partidos aliados da primeira-ministra Angela Merkel, que têm perdido votos nas eleições primárias, o que pode colocar em risco o futuro da mulher que hoje comanda as principais decisões da Zona do Euro.