Título: Câmara promete o fim dos salários extras
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Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2012, Política, p. 2

Levantamento do Correio com os deputados federais aponta: se a votação do projeto que acaba com o 14º e 15º dos parlamentares ocorresse hoje no plenário da Casa, o texto receberia mais de 257 votos e, assim, seria aprovado

A maioria dos deputados federais apoia o fim do pagamento do 14º e do 15º salários. O Correio contatou os 513 parlamentares que compõem a Câmara. Conseguiu obter a resposta de 310. Nesse universo, 258 congressistas se declararam a favor da extinção dos salários-extras, instituídos pela Constituição de 1946 como uma ajuda de custo concedida no início e no fim de cada Legislatura, e perpetuado no formato atual, que onera o Congresso em R$ 31,7 milhões por ano. Se o texto fosse submetido hoje ao plenário, o número de votos favoráveis seria suficiente para derrubar o benefício, uma vez que o projeto necessita de maioria simples (257 votos) para ser aprovado. Assim, os rendimentos extras estariam extintos de uma vez, pois o texto já passou pelo Senado.

Apesar da longa campanha para acabar com a benesse, iniciada com a pressão popular sobre a Câmara Legislativa do Distrito Federal, e da aprovação unânime do projeto pelo plenário do Senado, 48 parlamentares declararam não ter opinião formada sobre a proposta, ou por desconhecer seu mérito ou por ainda aguardar uma decisão unificada de suas bancadas partidárias.

A falta de um posicionamento sinaliza, em alguns casos, o constrangimento de quem é contra o fim da mordomia, mas se vê diante da cobrança da sociedade pelo fim de um benefício restrito à atuação parlamentar, uma vez que nenhuma outra atividade tem acesso a tal benesse. Os motivos são claros: o Legislativo costuma ser o Poder atingido de forma mais direta pela pressão popular. Essa "sensibilidade" à opinião pública se mostra ainda mais clara em ano eleitoral. O mesmo comportamento foi registrado na tramitação do texto no Senado.

Benefício Apenas seis deputados que responderam ao levantamento do jornal se declararam contrários ao fim da mordomia. Para o deputado Silvio Costa (PTB-PE), por exemplo, votar pela extinção do benefício seria, na maior parte dos casos, um "ato de demagogia". "Quem vota a favor do fim desses salários deveria também restituir o que já recebeu de 14º e 15º nos anos anteriores. Quero saber quem iria aceitar fazer isso", questiona. Devanir Ribeiro (PT-SP) apela para seu passado sindicalista para justificar o voto contrário. "Sempre batalhei para elevar o valor de salários e pela conquista de benefícios. Por que iria me comportar de forma diferente agora?", diz.

Adriana Caitano, Guilherme Amado, Juliana Braga, Júnia Gama, Karla Correia, Marianna Rios e Priscilla Leonel