Título: Na história mas pela porta do escândalo
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2012, Política, p. 6

São inúmeras as formas de uma pessoa ficar famosa. Algumas participam do Big Brother, outras namoram jogadores de futebol e há as que ganham notoriedade aparecendo em um vídeo cômico do YouTube. Também existe a categoria que ilustra as páginas policiais e políticas: os que não se candidataram a um cargo, mas ganharam popularidade ao protagonizar escândalos de corrupção e participar do desvio de verdadeiras fortunas dos cofres públicos. O personagem da vez é o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, agora conhecido no país inteiro pelo apelido Carlinhos Cachoeira.

A Cachoeira somam-se outros nomes marcados na história da corrupção brasileira. Marcos Valério, o publicitário acusado de operar o esquema do mensalão no governo Lula; Nicolau dos Santos Neto, magistrado que participou do desvio de R$ 169,5 milhões na construção de um fórum em São Paulo; e Paulo César Farias, considerado o cabeça de uma organização que roubou mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos (leia quadro). Todos eles são representantes de uma classe frequente nos esquemas que se apropriam do dinheiro do contribuinte no Brasil: empresários em busca de vantagens mediante acordos com políticos.

"Essas pessoas tentam agir da maneira mais discreta possível, sempre procuram estar perto do poder sem fazer parte dele", explica Rui Tavares Maluf, cientista político e coordenador da área de pesquisa de opinião pública e inteligência de mercado da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto completa o raciocínio: "Elas pagam para ter benefícios em negócios e, quando encontram alguém que aceita a troca, a coisa acontece".

Personalidades Exemplos de empresários que viraram personalidades poderosas sem estar necessariamente no poder oficial, destaca Peixoto, são muitos em várias partes do mundo. "Porque a corrupção nunca anda sozinha, tem sempre um corrupto e um corruptor", afirma. Nos casos brasileiros, se o papel do empresário bem relacionado que num piscar de olhos multiplica a própria fortuna nem chega a causar espanto, o perfil de quem usa do cargo dado pelo povo para abrir os cofres públicos, em troca de comissões, impressiona cada vez mais. No caso Cachoeira, o principal facilitador era o senador Demóstenes Torres, conhecido pelo discurso incisivo de combate à corrupção.

Além dos personagens típicos, o roteiro dos escândalos brasileiros de corrupção tem uma outra característica. Os participantes facilmente se transformam em verdadeiros arquivos vivos, cujas informações podem detonar carreiras políticas ou histórias empresariais de sucesso. Na cena atual do Congresso, a ameaça de novas revelações, com nomes e provas, já foi feita indiretamente por interlocutores de Cachoeira. O bicheiro teria um acervo capaz de piorar a situação de alguns políticos já encrencados. O professor Tavares defende, entretanto, que apesar da fama alcançada pelos empresários envolvidos nos esquemas de desvio de dinheiro, eles não podem ser considerados mais culpados do que os políticos que os ajudaram.