O globo, n. 31050, 11/08/2018. País, p. 6

 

MPF denuncia Palocci e Mantega por corrupção

Cleide Carvalho

Thiago Herdy

11/08/2018

 

 

Três ex-executivos da Odebrecht também são acusados em esquema que envolveu MP da Crise

A força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba apresentou denúncia contra os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antonio Palocci pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na edição das medidas provisórias 470 e 472, conhecidas como MP da Crise. Três ex-executivos da Odebrecht que não fizeram delação (Maurício Ferro, Newton de Souza e Bernardo Gradin) também foram denunciados, graças a informações levadas à Lava-Jato por Marcelo Odebrecht.

Segundo o Ministério Público Federal, as medidas beneficiaram empresas do Grupo Odebrecht, como a Braskem. Foram denunciados também o casal de publicitários João Santana e Mônica Moura, além de André Santana, filho do marqueteiro do PT.

Esta é a primeira denúncia feita contra Mantega em Curitiba. Os procuradores dizem que é inverossímil a explicação dada pelo ex-ministro para os valores mantidos em conta na Suíça. O saldo de uma delas é de US$ 1,777 milhão e a justificativa é que o valor tem origem em negócios imobiliários.

Segundo a força-tarefa, a conta “Pós-Itália”, movimentada por Mantega, teria recebido R$ 143,9 milhões entre 2013 e 2014, mas o processo inclui apenas R$ 15,1 milhões repassados aos marqueteiros do PT para a campanha de 2014.

O advogado de Guido Mantega, Fábio Tofic, informou que só vai se manifestar “quando tiver conhecimento oficial” da denúncia, o que não havia ocorrido até a noite de ontem. Os ex-executivos da Odebrecht citados na denúncia não foram localizados.

O empresário Marcelo Odebrecht afirmou em delação que Palocci, que esteve no governo até o início de 2011, foi quem inseriu Mantega no esquema. Além de Marcelo, foram denunciados também pela Odebrecht Fernando Migliaccio e Hilberto Silva.

SEM BENEFÍCIOS

Por não terem fechado acordo de colaboração premiada, os três executivos da empresa não terão direito a benefícios de uma delação.

Para o MPF, os três tiveram o mesmo papel de Marcelo Odebrecht, ao oferecer propina a Mantega e Palocci. Todos eram destinatários de mensagens de Marcelo Odebrecht que falavam da estratégia ilícita para obter os benefícios no governo.

Ferro e Souza sempre alegaram que tinham conhecimento do interesse da empresa em aprovar as medidas, mas não sabiam de tratativas ilícitas. Por isso, não fizeram acordo de delação.

Desde que saiu da prisão no fim do ano passado, Marcelo Odebrecht contesta essa versão. O empresário apresentou ao MPF elementos que ele entendeu serem importantes para a compreensão de que Ferro, que é seu cunhado, Newton de Souza e Gradin tiveram participação nos crimes agora denunciados.