Título: Crise global espanta investidores da bolsa
Autor: Bonfanti, Cristiane; Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 20/05/2012, Economia, p. 11

Temor de que problemas em países como a Grécia contagiem a economia brasileira leva investidores a buscar aplicações mais seguras. Queda do Ibovespa na semana chegou a 8,3%, em meio a incertezas sobre a Zona do Euro. Mas especialistas recomendam paciência Cristiane Bonfanti Mariana Mainenti

O temor de que a Grécia deixe a Zona do Euro e leve consigo outros países, como Itália, Portugal e Espanha, fez com que a bolsa brasileira fechasse em queda de 8,3% na semana. O derretimento das ações levou os investidores a sacarem, dia após dia, parcelas expressivas dos recursos que estavam investidos em papeis de empresas, com medo de que tivessem perdas ainda maiores. Só na terça-feira, os estrangeiros retiraram R$ 299,6 milhões. Nas corretoras, cresceram os saques das aplicações em bolsa e aumentou a procura de clientes por investimentos que proporcionem alguma segurança. Acostumados a aplicar por conta própria, homebrokers não conseguiram tirar os olhos da tela do computador.

"Fico o tempo todo vendo o que acontece lá fora. Se um banco quebrar na Grécia, o temor é que se crie um contágio e outros bancos comecem a quebrar. Se isso acontecer, as ações de bancos brasileiros vão cair. Eu ia fazer uma operação hoje de manhã, mas deixei para amanhã. Quero esperar as notícias após o fechamento do mercado hoje", disse na quinta-feira o administrador de empresas Mário Lúcio Castellano, 54 anos, enquanto o Ibovespa, índice da bolsa brasileira, caía 2%. Castellano opera desde 2007 como homebroker e também com auxílio de especialistas.

Para momentos de nervosismo dos mercados, como agora, Mário recomenda paciência. "O dinheiro do investidor pode desaparecer em segundos, por uma operação malfeita. As pessoas físicas perdem, muitas vezes, por nervosismo. E o momento atual é imprevisível, ninguém pode dizer o que vai acontecer daqui a 10 minutos com a bolsa", alertou.

Segundo ele, os saques que os gregos vêm efetuando em massa ameaçam a segurança do sistema financeiro. "Está acontecendo na Grécia o mesmo que ocorreu durante a crise argentina. As pessoas estão fazendo saques nos bancos e há boatos de que o mesmo possa acontecer na Espanha. Se isso ocorrer, o sistema bancário começa a ficar sem recursos disponíveis para as próprias operações e há o risco de contágio. Por isso, as ações dos bancos brasileiros estão em queda", apontou.

Atento ao movimento do mercado, o bancário Roberto Felício, 43 anos, vendeu todas as ações de sua carteira de curto prazo — formada basicamente por papéis da Petrobras e da Vale — e está esperando o momento oportuno para voltar a investir. "Eu analisei os índices e vi que a tendência é de queda. Vou esperar cair mais para comprar novamente", afirmou. Felício diz que, apenas ao longo do tempo, aprendeu a ficar tranquilo nos momentos de oscilação da bolsa. Investidor há sete anos, ele chegou a perder R$ 20 mil em um dia durante a crise econômica de 2008. "Mas também já houve vezes em que ganhei isso. Eu era muito agressivo. Hoje, sou moderado. O que faz uma pessoa ganhar ou perder na bolsa é a ganância ou o medo", ensina.

Crédito imobiliário

Ansioso com a queda das bolsas e com a crise na Europa, o bancário Francisco Porepp, 25 anos, começou a vender ações há duas semanas e concentrou todo o investimento na Petrobras. "Uma semana antes da queda, eu havia comprado ações da Vale por R$ 40 e vendi a R$ 34. Mesmo com o prejuízo, decidi vender. No caso da Petrobras, por mais que os índices caiam, vou receber dividendos", explica. "Para quem não investe, este não é o melhor momento para entrar na bolsa. E, para quem está no início, o melhor é seguir as dicas do corretor", orienta.

Na corretora Ativa, em Brasília, houve grande procura de clientes de bancos, preocupados com o baixo desempenho da bolsa, pelos produtos oferecidos pela empresa de gestão de recursos. "Esse quadro de juros em queda com um momento ruim da bolsa está fazendo com que os clientes busquem alternativas", disse Luciana Lima de Brito, gerente comercial da Ativa. "Nesses casos, temos recomendado, por exemplo, que eles migrem de ações para letras de crédito imobiliário (LCI), que apresentam rentabilidade melhor e estão protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito Operante", explicou Pedro Azzam, analista da corretora.

Azzam considera o momento internacional difícil: "A situação da Europa é como um câncer com metástase, que pode se espalhar por outros países". Para o analista João Pessini, da Ativa, mesmo nesse cenário o investidor que quiser manter posições em bolsa deve optar por papéis de empresas que pagam bons dividendos. "Com os juros em queda, o crescimento do país será maior e muitas companhias vão ir bem. Seria um bom momento para aplicar em ações. Mas as pessoas ficam com medo e acabam, ao contrário, saindo da bolsa", considerou.