O globo, n. 31050, 11/08/2018. País, p. 12

 

Assessor da Câmara do Rio atua para Bolsonaro

Bruno Abbud

Igor Mello

Juliana Dal Piva

11/08/2018

 

 

Empregado no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro no Rio, dono de página no Facebook que ataca adversários do presidenciável não frequenta o Legislativo carioca, mas trabalha para a campanha do candidato do PSL

Assessor pessoal de Jair Bolsonaro (PSL) durante toda a pré-campanha para a presidência, Tercio Arnaud Tomaz, dono de ao menos uma página de apoio ao capitão da reserva no Facebook, além de outra no Instagram, recebe salário da Câmara dos Vereadores do Rio desde dezembro de 2017 sem trabalhar de fato no legislativo carioca.

Tercio foi nomeado para o cargo de auxiliar de gabinete, com salário de R$ 3.641, pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSL), filho do presidenciável. A função do assessor, no entanto, é acompanhar Jair Bolsonaro para a produção de vídeos e textos do candidato do PSL em redes sociais.

Na terça-feira, dia 7, a reportagem do GLOBO contatou o gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal. Um funcionário informou que Tercio não costuma cumprir expediente no local. Outras duas fontes próximas a Bolsonaro confirmaram a informação.

—Ele é externo. Ele acompanha o deputado Jair, entendeu? Fica externo — disse Edivaldo Souza da Silva, funcionário do gabinete de Carlos Bolsonaro no Rio.

No ar desde junho de 2015, a página “Bolsonaro Opressor 2.0” promove o candidato por meio de memes agressivos contra seus adversários, além de publicar mensagens de apoio ao presidenciável do PSL.

A página também promoveu críticas pesadas à vereadora Marielle Franco um dia depois do seu assassinato, em 14 de março. Em um texto que anunciava a intenção da irmã de Marielle de se lançar na política, a legenda dizia: “Do jeito que tá indo, vão empalhar o cadáver e levar em comício”.

Desde a semana passada, a reportagem vem procurando Tercio nos gabinetes de Carlos, Eduardo e Jair Bolsonaro. Na Câmara do Rio, uma funcionária afirmou não conhecer nenhum Tercio. Em Brasília, um servidor do gabinete do deputado Eduardo disse que Tercio “não havia chegado ainda".

R$ 27 MIL EM SALÁRIOS

Segundo fontes ouvidas por O GLOBO, a verdadeira ocupação do assessor parlamentar é a produção de conteúdo digital da campanha do capitão da reserva. O material produzido por Tercio e outros auxiliares com função semelhante é remetido para o gabinete de Jair Bolsonaro, onde dois funcionários editam. As postagens são aprovadas por Jair Bolsonaro antes de publicadas. A página “Bolsonaro Opressor 2.0” acumula mais de 1 milhão de seguidores no Facebook e 211 mil no Instagram.

A nomeação de Tercio foi publicada no Diário Oficial da Câmara dos Vereadores em 14 de dezembro de 2017, uma semana após sua exoneração do gabinete de Jair Bolsonaro. Desde então, o auxiliar recebeu, em valores brutos, ao menos R$ 27,6 mil. Tercio esteve nomeado entre abril e dezembro de 2017 no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, onde recebia R$ 2,1 mil mensais.

Formado em biomedicina em Campina Grande —mesma cidade de Julian Lemos, presidente do PSL na Paraíba e aliado de primeira hora de Bolsonaro —, Tercio trabalhava como recepcionista em um hotel antes de ser convidado a integrar o gabinete do deputado em Brasília.

— Ele pediu para sair, conseguiu uma proposta melhor — diz Edilma Gaudino, sua antiga chefe.

Jair Bolsonaro foi procurado por telefone e mensagens de texto, mas não retornaram os contatos. O chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro, Jorge Luiz Fernandes, negou que Tercio trabalhe na campanha do capitão da reserva:

— Ninguém do gabinete do Carlos trabalha na précampanha de Jair.