O Estado de São Paulo, n. 45607, 30/08/2018. Política, p. A8
‘Não tenham medo’, diz Marina a ruralistas
Renan Truffi e Camila Turtelli
30/08/2018
INFOGRÁFICO/ESTADÃO FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS
Setor. Acand ida taàP residência da República pela Rede, Marina Silva, fala durante encontro promovido pela C NA
A candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, fez ontem um aceno a representantes do agronegócio em evento promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. Ex-ministra do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina é vista com reserva pelo setor.
Na sabatina promovida pela instituição com diversos candidatos, Marina pediu para não ser vista como uma ameaça. “Sei que os senhores têm muitas dúvidas em relação à minha pessoa, mas não precisam ter medo de mim”, assinalou a candidata, em tom descontraído, para uma plateia repleta dos principais representantes do setor. “Quando a gente sabe o que está fazendo onde está pisando, fica mais fácil resolver os problemas.”
Também presente na sabatina, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) prometeu reeditar uma medida provisória (MP) criada no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2000, que proíbe que terra invadida seja desapropriada para efeito de reforma agrária. “O FHC fez uma medida correta dizendo que o caminho não é invasão de propriedade. Vou reeditar uma MP contra a invasão (de terras) e dobrar o prazo. Propriedade invadida fica impedida de entrar na reforma agrária por quatro anos”, afirmou.
No caso de Marina, seu aceno público ao setor é parte de uma estratégia da campanha da Rede para desconstruir o “mito”, nas palavras de integrantes do partido, de que ela é inimiga do agronegócio ou vai dificultar o desenvolvimento desse segmento, caso seja eleita. “Acho que estar frente um setor que representa 44% das nossas exportações e tem uma contribuição enorme na geração de renda do nosso país é uma oportunidade muito grande”, disse a candidata – a sinalização repercutiu bem entre alguns dos nomes presentes na sabatina.
Ainda assim, a candidata tentou calcar seu discurso em princípios da sustentabilidade ambiental, um dos motes principais da sigla que fundou. Ela elogiou o setor citando o aumento da produtividade da agricultura e da pecuária brasileira nos últimos – que faz com que o País produza mais, em áreas menores – e falou sobre a recuperação de áreas degradas.
Compromissos. Além de ouvir e conhecer melhor a opinião dos candidatos, o evento da CNA serviu para que o setor apresentasse suas demandas para os presidenciáveis. O combate à criminalidade no campo, reformas tributária e previdenciária, regularização fundiária, priorização do seguro rural, revogação de tabelamento de frete rodoviário, além de políticas públicas para o crescimento sustentável são alguns dos pedidos apresentados pela entidade no documento O Futuro é Agro – 2018 a 2030. O texto foi elaborado pelas 15 entidades que integram o Conselho do Agro, grupo criado pela própria CNA.
Participaram da sabatina também os candidatos do MDB, Henrique Meirelles, e do Podemos, Alvaro Dias. As defesas das reformas da previdência e tributária foram praticamente unânimes entre os quatro presidenciáveis que falaram aos integrantes da entidade.
Ex-ministro da Fazenda do governo Michel Temer, Meirelles defendeu a simplificação tributária, com a redução do número de impostos, e criticou o excesso de burocracia no País. “As empresas brasileiras gastam, em média, 2.600 horas por ano para pagar impostos”, afirmou. O emedebista elogiou o setor agrícola e disse que “nos últimos anos, o setor tem representado o que nós temos de excelência na economia brasileira. Mesmo em momento em que o País vai mal, ele (o setor) vai bem”, afirmou.
Alvaro Dias, por sua vez, falou de sua proposta para a política de juros para como forma de facilitar as atividades desse segmento. “Se adotarmos uma política com taxas de juros compatíveis com a nossa realidade, o governo não precisaria subsidiar o crédito rural”, disse. O candidato do Podemos sinalizou, ainda, que deve dar mais atenção à agropecuária. “Os governos ainda não entenderam o valor e a importância da agricultura”, disse.
' Presidenciáveis
“Sei que os senhores têm muitas dúvidas em relação à minha pessoa, mas não precisam ter medo de mim. Quando a gente sabe o que está fazendo onde está pisando, fica mais fácil resolver os problemas.”
Marina Silva, CANDIDATA DA REDE
“Se adotarmos política com taxas de juros compatíveis com a nossa realidade, o governo não precisaria subsidiar o crédito rural. Os governos ainda não entenderam o valor e a importância da agricultura.”
Alvaro Dias, CANDIDATO DO PODEMOS
“Nos últimos anos, o setor tem representado o que nós temos de excelência na economia brasileira. Mesmo em momento em que o País vai mal, o setor agrícola vai bem.”
Henrique Meirelles, CANDIDATO DO MDB
“O FHC fez uma medida correta dizendo que o caminho não é invasão de propriedade. Vou reeditar uma MP contra a invasão (de terras) e dobrar o prazo. Propriedade invadida fica impedida de entrar na reforma agrária por 4 anos.”
Geraldo Alckmin
CANDIDATO DO PSDB
PROPOSTAS PARA OS PRESIDENCIÁVEIS
● Setor mantém trajetória de crescimento nos últimos anos
Macroeconomia
Reformas tributária e previdenciária, menor número de impostos, unificação da alíquota interestadual do ICMS e fim de medidas como o tabelamento do frete rodoviário
Política agrícola
Ampliação do seguro rural e demais instrumentos de gestão de riscos; diversificação de fontes de financiamento, inclusive com recursos externos
Mercado externo
Acordos comerciais e parcerias com importadores, com a China, Estados Unidos e Aliança do Pacífico, por exemplo; estabelecer Acordo de Facilitação de Comércio
Sustentabilidade dos sistemas de produção
Regulamentação dos usos dos recursos naturais; efetivação de regras como o Novo Código Florestal (Lei 12.651/12)
Segurança Jurídica
Coibição de invasões, marco regulatório de reintegração de posses, redução da criminalidade no campo com uso de sistemas de identificação
Pesquisas
Desenvolvimento de novas tecnologias da comunicação, geociência e biotecnologia com o resgate da autonomia dos Centros de Pesquisas
Logística
Atração de investimentos privados para integração dos diversos modais e ainda a variados incentivos à armazenagem, com reforma de armazéns da Conab
Agroenergia
Políticas públicas para produção de biocombustíveis; reforma tributária e discussão sobre ICMS para manutenção da competitividade atual do Etanol frente à gasolina
Defesa agropecuária
Definir legalmente as prioridades de registro dos mais variados defensivos agrícolas para o manejo das pragas de maior importância para a agricultura
Assistência tecnológica
Ampliar o leque de recursos para melhorar a difusão de tecnologias e a gestão das propriedades rurais; melhoria dos sinais de telefonia e internet no campo