O Estado de São Paulo, n. 45607, 30/08/2018. Política, p. A10

 

Bolsonaro: 'não serei Jairzinho paz e amor'

30/08/2018

 

 

Eleições 2018 Candidatos / No Rio Grande do Sul, presidenciável do PSL faz referência à expressão cunhada por Lula durante a campanha de 2002; ONU vê perigo em discurso

O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, disse ontem que não será “Jairzinho paz e amor” nesta disputa presidencial. Bolsonaro fez referência ao slogan criado por Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha vitoriosa na eleição de 2002. O presidenciável do PSL participou de uma agenda em Porto Alegre, quando afirmou também que o País está “cansado do politicamente correto”.

As declarações de Bolsonaro têm repercutido fora do País. Ontem, Zeid Al Hussein, alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, disse que discursos como o do candidato do PSL à Presidência podem representar “um perigo” para certas parcelas da população no curto prazo e para “o País todo” a longo prazo. “Ao dar uma resposta simplista e tocando nas emoções naturais das pessoas – e talvez olhando para uma liderança mais forte, firme – é uma combinação que é bastante poderosa”, disse Zeid.

Nesta campanha, Bolsonaro não poupou ataques a adversários, principalmente Lula – condenado e preso na Lava Jato –, ao Supremo Tribunal Federal (STF), à procuradora-geral da República, Raquel Dodge e a colegas parlamentares. Ele chegou a mencionar que, se eleito, o Brasil deixaria a ONU, mas recuou dias depois afirmando que sairia apenas do Conselho de Direitos Humanos da entidade. “Não serve para nada essa instituição”, disse Bolsonaro.

Defensor da flexibilização do Estatuto do Desarmamento e da facilitação do porte de armas para a população, Bolsonaro, em suas agendas de campanha, costuma simular revólveres e espingardas com as mãos e estimular crianças a fazer o mesmo. Réu por apologia ao estupro, ele foi denunciado também por racismo.

Anteontem, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, o candidato do PSL discutiu com os apresentadores sobre temas como suas declarações relacionadas a gays, mulheres e direitos trabalhistas. Segundo ele, a entrevista no horário nobre da Globo “quase que garantiu sua presença no segundo turno”. “A entrevista me deu uma exposição enorme, já que não vou ter tempo de TV”, disse.

Entre os compromissos no Rio Grande do Sul, Bolsonaro participou da Expointer, em Esteio, e se reuniu com empresários ligados ao agronegócio no Estado. Perguntado pela organização do evento sobre sua estratégia para o segundo turno, ele citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quando fez alusão à frase de Lula – atualmente condenado e preso na Lava Jato – em 2002 .

“Não vou ser o Jairzinho paz e amor. As cartas estão na mesa. O FHC reiterou que, num possível segundo turno, se aliaria ao PT”, disse. “Quero agradecer o Fernando Henrique, que disse que se unirá com o PT para me derrotar. FHC, continue com sua marcha para liberar a maconha porque não haverá segundo turno”, disse.

 

Respeito. Um dia depois de a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciar o julgamento de uma denúncia contra Bolsonaro por racismo, o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, disse ontem que o Ministério Público “leva muito a sério” o respeito aos direitos humanos.

“Não quero antecipar o resultado do julgamento. O que eu quero mencionar é o seguinte: só o fato de um caso como esse chegar ao Supremo Tribunal Federal já sinaliza para sociedade que uma instituição como o Ministério Público leva muito a sério o dever de respeitar os direitos humanos, esta é a mensagem importante”, disse Mariz Maia, ao chegar para a sessão plenária do STF ontem.

O julgamento estava com o placar em 2 a 2 quando foi interrompido por um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes. 

Exposição

“Não vou ser o Jairzinho paz e amor. As cartas estão na mesa. O Fernando Henrique Cardoso reiterou que, num possível segundo turno, se aliaria ao PT.”

 

“A entrevista (ao Jornal Nacional, da TV Globo) me deu uma exposição enorme, já que não vou ter tempo de TV.”

Jair Bolsonaro​, CANDIDATO DO PSL