O globo, n. 31049, 10/08/2018. País, p. 4 e 5

 

CLIMA MORNO

Marco Grillo

Fernanda Krakovics

Miguel Caballero

10/08/2018

 

 

Debate presidencial com poucas propostas

No primeiro debate entre os presidenciáveis nesta campanha eleitoral, ontem, na TV Bandeirantes, que levou oito candidatos ao embate, a discussão sobre alianças e economia teve mais destaque. O encontro ficou marcado pelos ataques mútuos e pela apresentação de propostas pouco aprofundadas. Como estratégia eleitoral, os adversários optaram pela busca de fragilidades, em vez de detalhar as ações. Supostos desvios éticos foram apontados, assim como alianças partidárias e as relações com o governo Temer.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, quarto colocado nas pesquisas, que tem o maior leque de alianças, foi o mais questionado, até a conclusão desta edição. Foi confrontado a respeito da coligação com o centrão, sobre medidas econômicas do atual governo (de quem o PSDB foi aliado) e sobre o Bolsa Família. O candidato do MDB, Henrique Meirelles, lembrou que os tucanos já chamaram o programa de Bolsa Esmola. Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro (PSL), em uma dobradinha clara, também fizeram críticas duras ao tucano. Já Ciro Gomes (PDT), em terceiro lugar lugar nas pesquisas, quase não foi alvo de perguntas.

Quando participou dos embates, Ciro tentou ligar o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, ao governo de Michel Temer. O pedetista lembrou que o PSDB apoiou a reforma trabalhista, que, segundo ele, teria agravado “terrivelmente” a situação do povo brasileiro e também perguntou se o tucano pretende mantê-la. Alckmin respondeu ser a favor da reforma. Ressalvou que a permissão para que mulheres grávidas trabalhem em locais insalubres precisa ser revista.

— A reforma trabalhista foi um avanço. Tínhamos era um grande cartório, com 17 mil sindicatos no Brasil, mantidos com imposto sindical. A maioria não fez nem convenção coletiva — disse o candidato do PSDB, que chegou a usar o termo “Bolsa Banqueiro”, utilizado por Guilherme Boulos (PSOL), ao responder a um questionamento de Meirelles sobre o Bolsa Família.

—Vamos ampliar o Bolsa Família, vamos usar o dinheiro do Bolsa Banqueiro.

Marina também buscou a polarização com Alckmin ao associá-lo ao centrão, grupo de partidos que se aliou ao PSDB. Segundo ela, alguns representantes dessas legendas têm “assaltado o povo”. Alckmin creditou o acordo à necessidade de ter uma ampla coalizão para aprovar as reformas previdenciária, política e tributária logo no início de um eventual governo. O ex-governador de São Paulo aproveitou para alfinetar Marina, ao recordar que ela saiu do PV, após a eleição de 2010. Disse que a situação com o partido era “incompatível”, embora para esta eleição tenha feito uma aliança com a mesma legenda.

Sobre a reforma da Previdência, Alckmin defendeu a equalização dos sistemas público e privado, para acabar com “sistema injusto”. Já Ciro propôsumnovomodelodecapitalização aposentadoria todos os trabalhadores, e criticou de 65 anos a propostaqueprevêaidademínimade com para o argumento idade elevada de para que quem seria exerce uma atividades no meio rural.

O principal ataque entre os candidatos ocorreu no primeiro bloco. Boulos questionou Bolsonaro sobre o fato de ele ter recebido auxílio-moradia, mesmo sendo proprietário de imóvel em Brasília, e acusou o adversário de empregar uma funcionária fantasma no gabinete da Câmara, que seria responsável por “cuidar dos cachorros” que o presidenciável teria em uma casa em Angra dos Reis (RJ).

— O Bolsonaro é a velha política corrupta. Recebeu auxílio-moradia, aprovou dois projetos e conseguiu comprar cinco imóveis. Não tem vergonha? — perguntou Boulos.

O deputado retrucou e lembrou PSOL Sem Teto é líder que (MTST). do o candidato Movimento do — A Val é uma funcionária minha que mora em Angra. Ela não é fantasma, estava de férias( quando uma reportagem da“Folha de S. Paulo" tratou do assunto ). Eu teria vergonhas e tivesse invadindo casados outros. Não vi maqui par abater boca comum cidadão desqualificado como esse aí. Acrise venezuelana tambémfo item a.Meirel lese Alvar o Dias criticaram o governo do país vizinho, mas garantiram apoio humanitário. — Temos que agir para que a situação mude. Mas, até lá, o Brasil tem que continuar com apostura humanitária—disse Meirelles. Dias seguiu o mesmo tom: —Seria perverso expulsar seres humanos vítimas de uma ditadura perversa, incapaz de respeitar liberdades democráticas.

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Nos bastidores, ausência de líderes e queixas de tédio

Silvia Amorim

Sérgio Roxo

10/08/2018

 

 

Partidos não enviaram representantes de peso, e os que acompanharam os candidatos acharam que formato prejudicou debate

A ausência de lideranças partidárias na plateia marcou o primeiro debate entre os presidenciáveis da eleição de 2018 ontem, na Bandeirantes. Dos presidentes dos oito partidos aliados de Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, apenas Roberto Freire (PPS) estava na plateia da emissora. O presidente do MDB, Romero Jucá, partido de Henrique Meirelles, também não compareceu.

No lado do PDT, de Ciro Gomes, as presenças mais ilustres eram do presidente da legenda, Carlos Lupi, e da candidata a vice, Katia Abreu.

— Todo mundo está cuidando das suas campanhas. Não tem razão para estarem todos aqui. Nem convite tem para isso — afirmou o deputado Sílvio Torres (PSDB), aliado de Alckmin.

Os pedetistas reclamaram bastante do fato de Ciro não ser escolhido para responder perguntas. A mulher do candidato, Giselle Bezerra, chegou a dizer o marido era vítima de “bullying”.

Lupi se queixou que o programa estava “dando sono” e afirmou que nunca mais participará de um debate com essas regras. Reclamava que o seu candidato era preterido por ser “o mais preparado”.

—A culpa também é nossa porque aceitamos isso. Esse formato é inexequível.

Mesmo com ausência de Lula, que teve pedido para ir ao debate negado pela Justiça, dois petistas foram ao programa. O tesoureiro Emídio de Souza e o advogado Marco Aurélio Carvalho, ex-coordenador jurídico da legenda, acompanharam apenas os dois primeiros blocos. Disseram estarem entendiados ao sair. Emídio disse ter ido ao programa para denunciar que a ausência de Lula é um atentado à democracia.

Diante de uma campanha eleitoral mais curta e ainda na reta inicial, pré-candidatos à Presidência que participaram do primeiro debate na TV tinham como estratégia não partir para o confronto, o que não foi confirmado pelos desdobramentos do programa. Guilherme Boulos, por exemplo, chegou a chamar Henrique Meirelles de “raposa que toma conta do galinheiro”, referindo-se à sua participação no governo de Michel Temer. Ainda assim, aliados dos presidenciáveis avaliavam que o momento deve ser o de estudar os adversários, numa espécie de avaliação do terreno que pisará até outubro.

Hoje, as campanhas farão uma avaliação da participação dos pré-candidatos. Assessores avaliam que arriscar uma ofensiva em programa de TV pode ser mais prejudicial do que benéfico, uma vez que a performance entre os adversários nesse tipo de programa acontece pela primeira vez na TV.

Assim como previam aliados de Ciro Gomes, do PDT, o presidenciável procurou moderar seu temperamento.

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No primeiro encontro, amor, ódio e pregação

10/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Presidenciáveis testam seus estilos com declarações ácidas, provocações, ironias e até discursos religiosos; em atitude poucos comum em debates, houve até quem escolheu abrir mão de seu tempo de discurso

Com oito participantes, o debate da TV Bandeirantes apresentou ao grande público doses do estilo de cada presidenciável. De cabo a capitão, de médico a economista, eles disseram o que pensam — do jeito que bem entenderam.

Assim, telespectadores ouviram que o grande problema da sociedade brasileira é a “falta de amor”. A pregação é do deputado federal Cabo Daciolo, do Patriota.

Já Guilherme Boulos, do PSOL, atacou diretamente o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, logo no primeiro bloco, o chamando de “racista, machista e homofóbico”. Depois, falou que ali estavam presentes “50 tons de Temer”, em referência a ex-aliados do presidente.

Após responder sobre uma funcionária sua suspeita de ser fantasma, Bolsonaro tomou uma atitude rara em debates eleitorais —ainda mais para quem terá poucos segundos de propaganda na televisão. Ele disse que não iria “bater boca com um cidadão desqualificado” e devolveu a palavra ao mediador, o jornalista Ricardo Boechat, muito antes do tempo regulamentar.

Ciro Gomes, do PDT, mais calmo do que em outras aparições, foi menos escolhido, mas, quando falou, deixou logo claro como quer se distanciar do governo do presidente Michel Temer, chamando a reforma trabalhista de “selvageria”.

Ex-ministro de Temer, Henrique Meirelles(MDB) cumpriu o seu script. Confrontado sobre a ligação com o atual governo, afirmava sempre ser o “candidato do emprego, da renda e do crescimento”.

Marina Silva (Rede) atacou o teto de gastos, medida que é marca de Meirelles.

Geraldo Alckmin, do PSDB, repetiu o mantra “emprego e renda”, defendendo a reforma trabalhista, e Álvaro Dias (Podemos) anunciou diversas vezes seu convite ao juiz Sérgio Moro para ser ministro, mesmo sem resposta.

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Em carta, Lula diz que 'direito do povo é violado' no debate

10/08/2018

 

 

Haddad, Manuela D’Ávila e Gleisi fazem encontro paralelo ao da Band

Impedido pela Justiça de participar do debate na Band, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, publicou uma carta na noite de ontem. O comunicado foi lido no início do debate paralelo transmitido pelo PT nas redes sociais, com participação do ex-prefeito de São Paulo e candidato a vice-presidente pelo partido, Fernando Haddad, da presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, e de Manuela D’Ávila, do PCdoB.

Na carta, Lula afirmou que o veto à sua participação no debate “viola o direito do povo e também dos outros candidatos” de ouvir e criticar suas propostas. Nas palavras assinadas pelo expresidente, a proibição também viola a liberdade de imprensa, “proibindo o público de exercer seu direito de ser informado”.

Lula, também proibido pela Justiça de dar entrevistas, participou do debate paralelo por meio de vídeos com entrevistas e pronunciamentos antigos. Haddad, Gleisi, Manuela e Gabrielli comentaram algumas declarações dos presidenciáveis no debate da Band e também citaram realizações de Lula quando presidente.

Numa das poucas referências diretas ao debate da Band, Haddad citou Jair Bolsonaro em tom de ironia após uma declaração do candidato do PSL sobre o desemprego (“As pessoas têm que optar pelo emprego ou pela reforma trabalhista”).

—Com o Bolsonaro existe uma dificuldade de comunicação. Ele sempre remete para um economista (Paulo Guedes) as respostas sobre economia —disse Haddad.

Na maior parte da transmissão, os participantes citaram realizações de Lula como presidente em áreas como saúde, educação e geração de empregos. Insistiram que a popularidade do ex-presidente ainda é alta e transmitiram entrevistas e vídeos recentes nos quais Lula cita seus projetos:

— O povo se deu conta de que Lula só está preso porque ia ganhar a eleição — afirmou Manuela.