O Estado de São Paulo, n.45593 , 16/08/2018. Política, p.A6

LAVA JATO FAZ CERCO À TÁTICA DO PT NA ELEIÇÃO

Ricardo Brandt

Julia Affonso

Fausto Macedo

 

 

 

Eleições 2018 Inscrição eleitoral / Procuradores pedem que Gleisi não atue no caso; Moro adia depoimento de Lula

A Operação Lava Jato reagiu à participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo eleitoral a partir de Curitiba, onde cumpre prisão pela condenação em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Lula foi registrado ontem como candidato do PT à Presidência, tendo Fernando Haddad como candidato a vice.

Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato na capital paranaense pediram à Justiça que a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, seja impedida de atuar como advogada de Lula no processo da execução da pena de 12 anos e 1 mês de prisão. Além de Gleisi, a força-tarefa cita Haddad e outros petistas que viraram advogados de Lula no processo da execução penal: Wadih Damous, Luiz Carlos Sigmaringa Seixas e Emidio de Souza.

Já o juiz federal Sérgio Moro decidiu mudar a data do interrogatório do ex-presidente Lula e de outros 12 réus na ação do sítio de Atibaia. O magistrado da Lava Jato afirmou que a alteração das audiências tem por objetivo “evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios”.

As audiências estavam marcadas para datas entre 27 de agosto e 11 de setembro. Os interrogatórios agora devem ocorrer entre 5 e 14 de novembro. Em seu despacho, Moro não cita o expresidente nominalmente, mas se refere ao petista. “Um dos acusados foi condenado por corrupção e lavagem na ação penal (...) e encontra-se preso por ordem do Egrégio Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, tendo a medida sido mantida pelos Tribunais Superiores”, escreveu.

Para os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, os petistas transformaram a cela na PF em comitê de campanha eleitoral. “As visitas não tem por objetivo a defesa judicial do apenado, senão a de possibilitar por parte de Luiz Inácio Lula da Silva, a condução e a intervenção no processo eleitoral de quem materialmente está inelegível, transformando o local onde cumpre pena – a sede da Polícia Federal –, em seu comitê de campanha”, afirma o documento encaminhado à juíza Carolina Lebbos Moura.

Gleisi criticou o pedido do MP e afirmou em perfil no Twitter que o órgão quer “transformar a Vara de Execuções em um antro de exceção”. “Jamais se viu limitar a visita de advogado ao réu. Nem na ditadura”, escreveu a senadora.

Candidato a vice, Haddad criticou a decisão de Moro de  adiar o depoimento do ex-presidente. “É curioso que na oportunidade que Lula tem de se defender, é cassado o direito dele de falar antes das eleições? Por que ele não adiou os depoimentos das testemunhas de acusação também, que nada acrescentaram?”, questionou Haddad.

Para a Gleisi, a intenção de Moro é retirar Lula da exposição pública. “Se não fosse época de eleição, ele faria isso como já fez tantas vezes. É apenas perseguição.” /COLABORARAM RICARDO GALHARDO e MARIANA HAUBERT