Título: Gabinete de Demóstenes esvaziado
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2012, Política, p. 4

Desde que foi atingido pelo escândalo Carlos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres perdeu o posto de líder, o partido e 11 cargos que mantinha na liderança da minoria do Senado e no gabinete da liderança do DEM. Aos poucos, o parlamentar ainda assiste à desidratação de seu gabinete em Brasília. Em fevereiro, antes de ser flagrado prestando pequenos favores ao contraventor, o gabinete de Demóstenes tinha 23 funcionários — 20 comissionados e três efetivos — e o escritório de apoio em Goiânia, outros 26.

Antecipando a possibilidade de Demóstenes perder o mandato, funcionários buscam alternativas de emprego. O gabinete que há dois meses tinha 23 pessoas agora tem 13, segundo relatório da página de transparência do Senado. Em contrapartida, o apoio em Goiânia ganhou dois reforços.

As coisas não andam bem no reduto de Demóstenes. Na quinta-feira, o Correio visitou o escritório em Goiânia para verificar se no estado os funcionários mantinham a rotina de trabalho mesmo durante o processo de cassação em curso no Conselho de Ética da Casa. Em um imóvel sem identificação no Setor Sul da capital de Goiás, seis servidores — dos 26 — davam expediente.

A placa de quatro metros quadrados com o nome e o rosto do senador, que antes ficava na fachada, agora está jogada nos fundos do imóvel, suja e pichada. Há uma semana, segundo funcionário do escritório, a placa foi depredada, mas não há previsão de um novo cartaz ser afixado.

Nos fundos, centenas de pacotes com livretos do Código de Defesa do Consumidor, estampados com o rosto de Demóstenes no verso, também estão encalhados. O material foi produzido pela gráfica do Senado para que o parlamentar distribuísse o guia. À época em que fazia parte da chamada "bancada ética" do Congresso, os livretos teriam grande saída, mas agora, os cabos eleitorais de Demóstenes andam constrangidos em oferecer o material.

Sem atividade O senador, antes com fama de enciclopédia constitucionalista, transformou-se em um "parlamentar zumbi" desde 14 de março, quando fez seu último aparte, que não trazia explicações sobre suas relações com a contravenção. Nesse dia, complementou o discurso de seu ex-colega de partido José Agripino (DEM-RN) sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Os convites para relatar matérias também minguaram. Desde 14 de fevereiro, data anterior à prisão de Cachoeira, Demóstenes não assume a relatoria de nenhum projeto. A indicação derradeira foi para analisar proposta de divulgação dos salários dos servidores. Sem partido e sem a perspectiva de ser aceito em uma nova legenda, o senador já enfrenta a morte política antes mesmo de o Conselho de Ética da Casa decidir pela sua cassação. Observando de perto o cenário, o primeiro suplente de Demóstenes, Wilde Pedro de Morais, tem feito visitas cada vez mais recorrentes ao Congresso.