Correio braziliense, n. 20205, 15/09/2018. Brasil, p. 6

 

Desenvolvimento estagnado no país

Rosana Hessel e Andressa Paulino

15/09/2018

 

 

O Brasil ficou estagnado em 2017 no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global, conforme levantamento anual divulgado, ontem, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O país manteve-se na 79ª classificação, a mesma desde 2015, com índice de 0,759, dado 0,001 acima do registrado no ano passado. Na América Latina, o Brasil ficou atrás de vários vizinhos, como Chile (em 44º lugar), Argentina (47º), Uruguai (55º), Cuba (73º), México (74º) e até Venezuela (78º). A Noruega lidera o ranking dos 189 países, com IDH de 0,953. Na lanterna, está o Níger (0,354).


Na avaliação de Kaizô Beltrão, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), o fato de a Venezuela — em recessão profunda, que fez com que 3,7 milhões de pessoas deixassem o país — estar à frente do Brasil pode ser reflexo da defasagem dos dados, que não refletem a realidade atual. “Os indicadores são relativos. Daqui para a frente, o Brasil, a Argentina e a Venezuela ainda podem cair mais nos próximos anos, se outros países melhorarem bem mais”, apostou.

Conforme os dados do Pnud, entre 1990 e 2017, houve uma melhora, e a taxa média do IDH do Brasil subiu 0,81%. A expectativa de vida aumentou 10,4 anos — para 75,7 anos —, e a média de anos de estudo subiu quatro anos, para 7,8 anos. A renda média per capita cresceu 28,6% no período. Contudo, a desigualdade ainda é elevada, principalmente, entre as mulheres, tanto que o país fica na 94ª colocação no Índice de Desigualdade de Gênero.

A recicladora Francislaine Almeida, por exemplo, sobrevive com menos de um salário mínimo e não conseguiu concluir os estudos. A jovem de 20 anos mora na Estrutural, onde há graves deficiências de serviços públicos. “Eu ganho cerca de R$ 800 com a atividade de reciclagem e recebo R$ 80 do programa Bolsa Família. Não dá para muita coisa, mas a comida em casa nunca falta, e isso é o mais importante”, contou. Com uma filha de 4 anos, Francislaine parou de estudar na quinta série do ensino fundamental, assim que descobriu a gravidez. Mas, ela tem vontade de terminar o curso de computação, que interrompeu por falta de dinheiro. “Se eu pudesse voltar a estudar e seguir a carreira dos meus sonhos, eu estaria trabalhando na área de tecnologia da informação”, afirmou.

O coordenador da área de Pessoas e Prosperidade do Pnud, Cristiano Prado, destacou que a desigualdade entre homens e mulheres continua elevada, em particular, na questão dos rendimentos. A renda média per capita medida pelo poder de paridade de compra (ppp) da mulher brasileira ficou em US$ 10.073 ao ano, 42,7% abaixo da registrada pelo homem, de US$ 17.566 anuais. “Promover a redução da diferença salarial entre homens e mulheres é um fator que vai ajudar a desenvolver o IDH da nação em termos de produtividade também, porque as mulheres têm mais estudo e condições de colaborar com a economia”, explicou.

De acordo com os dados do Pnud, a renda anual per capita no Brasil, de US$ 13.755 em 2017, está abaixo dos US$ 14.350 de 2015, apesar de registrar uma leve alta em relação à média de 2016. O economista Simão David Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP), lembrou que a renda média do brasileiro caiu 9% no auge da crise, em 2016, e, como o país cresceu 1% no ano passado e deve crescer abaixo de 1,5% neste ano, “a renda per capita está 7% a 7,5% menor do que a de 2014”.

Avaliação
O IDH mede o progresso dos países em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: saúde, educação e renda. Quanto mais próximo de 1,0, maior o nível de desenvolvimento.