O globo, n. 31046, 07/08/2018. País, p. 6

 

Mourão: brasileiro tem 'indolência indígena' e 'malandragem africana'

Jussara Gomes

07/08/2018

 

 

No RS, vice de Bolsonaro afirma que povo gosta de ‘mártires, líderes populistas e dos macunaímas’;‘caldinho de cultura’

Em sua primeira agenda pública após ser confirmado como vice de Jair Bolsonaro ( PSL) na disputa pela Presidência, o general da reserva Antonio Hamilton Mourão afirmou, ontem, que o brasileiro herdou a “indolência” do índio” e a “malandragem” do negro. A declaração foi feita durante uma reunião na Câmara de Indústria e Comércio ( CIC) de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. Ao GLOBO, o militar afirmou que não vê racismo em sua opinião.

Em sua declaração, o general disse que o brasileiro também tem uma tendência a querer privilégios, segundo ele, uma característica herdada dos povos ibéricos, referindo-se à colonização portuguesa. De acordo com Mourão, esses atributos dificultam o país transformar seu “porte estratégico” em poder. O militar ainda defendeu que o Brasil supere seu “complexo de vira-lata”.

—Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem, Edson Rosa (vereador negro presente na mesa), nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso caldinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e dos macunaímas —disse Mourão, segundo informou o site da “Veja”.

O vice de Bolsonaro confirmou ao GLOBO sua declaração. Segundo ele, não há racismo em suas palavras, uma vez que ele mesmo é indígena.

— Isso é a realidade que a gente vê em alguns lugares. Isso faz parte do DNA do brasileiro. Nós não somos nenhuma raça pura. Somos uma amálgama dessas culturas — disse Mourão, que foi a última opção de Bolsonaro para formar a chapa após as tentativas frustradas de atrair para a sua candidatura o senador Magno Malta, o general da reserva Augusto Heleno e a advogada Janaína Paschoal.

JANAÍNA: NEM DEPUTADA

A candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, criticou general Mourão em sua conta no Twitter: “Extremismo e racismo são uma combinação perigosa. Não podemos tolerar racismo numa corrida presidencial”, escreveu.

— Não há nenhum tipo de racismo na minha declaração. Como eu mesmo disse, eu também sou indígena — rebateu o militar.

Depois de recusar o convite para ser vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), a professora de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Janaína Paschoal desistiu também de disputar um cargo na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Janaína não quis informar o motivo da desistência, ressaltando já ter comunicado ao presidente do PSL em São Paulo, Major Olímpio, sobre sua posição. Ontem, ela participou de uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a descriminalização do aborto.

— Não serei candidata a nenhum cargo.

Janaína ainda descartou que possa aceitar um ministério em um eventual governo de Jair Bolsonaro.

—Não quero falar de política hoje, mas se eu não posso mudar para Brasília para ser vice, isso também não teria sentido — afirmou. ( Colaborou Eduardo Bresciani)

“Essa herança do privilégio é ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. E a malandragem oriunda do africano. Esse é o nosso caldinho cultural”

Hamilton Mourão, general da reserva e vice na chapa de Bolsonaro