O globo, n. 31046, 07/08/2018. País, p. 8

 

‘CONGRESSO DANÇA A MÚSICA DO PRESIDENTE’

Alvaro Dias

Amanda Almeida

Francisco Leali

Robson Bonin

07/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Senador de 73 anos defende a refundação da República e diz que corrupção existe no Parlamento por causa do presidente, o ‘corruptor’. Para ele, acordo do centrão com Alckmin é ‘vender alma’

Escolhido pelo Podemos para a Presidência, o senador Alvar o Dias, de 73 anos, acredita que pavimentarás eu caminho ao segundo turno como quixotesco discurso de refundação da República. Provocado a explicar comore organizará apolítica com os atuais líderes do centrão e suas práticas, ele revela-se otimista: “Eu acho que eles podem mudar”. Enquanto sonha coma conversão da banda fisiológica do Congresso, Dias mira o PT e o PSDB. Afirma que Geraldo Alckmin “vendeu a alma da nação” ao lotear o futuro governo com o centrão. Sobre a viabilidade eleitoral do ex-presidente Lula, é direto: “O presidiário está inelegível”. Ele ainda sugere ao presidente Michel Temer suspender a intervenção no Rio após as eleições para votar a reforma da Previdência. Também defende o direito ao porte de arma.

O senhor já sente o interesse do eleitor pela campanha eleitoral?

Há uma distância enorme entre o processo eleitoral e a sociedade. É preciso aproximar, mas não sei se teremos a competência suficiente para isso. O desconhecimento sobre os candidatos é muito grande. Por isso questiono muito as pesquisas. A interpretação está equivocada. Se você tem 60% de indecisos, não há como dizer que alguém tem 30% dos votos. Essa interpretação de pesquisa, inclusive, influenciou a formação das alianças. Esse ajuntamento de siglas se deu em função do interesse de manutenção do sistema atual. É a reedição da tragédia que estamos vivendo.

O senhor fala da aliança de Geraldo Alckmin com o centrão?

É o maior ajuntamento de siglas. Virou uma sopa de letrinhas para o eleitor digerir na campanha, com uma prioridade: a manutenção desse sistema. Porque, se for substituído, muitos políticos não sobreviverão.

O senhor critica a aliança de Alckmin, mas, em 2014, fez campanha com 17 partidos, entre eles PP, PR, DEM e SD. A fotografia se tornou trágica por que não é com o senhor?

A crítica que faço não é à coligação, mas o que a fez se constituir. Na campanha ao Senado, em 2014, não teve negociação. Não assumi compromissos. Conversei com esses partidos agora, mas a minha proposta não convenceu. Você não condena sigla, só o que ela esconde.

O que eles queriam para apoiar o senhor agora?

Não houve detalhamento. Mas tinha a reclamação: “A gente ganha, mas não leva”.

Não leva os cargos?

Sim. “Vamos ganhar, mas não vamos ocupar. Seremos tropa de combate, mas não de ocupação”. Frases próprias do mundo da política.

Alckmin levou porque aceitou essa proposta?

Tenho certeza. Venderam a alma da nação nesse ajuntamento. Alguém pode dizer que convivi com esse sistema. Mas onde eu estava? Combatendo o sistema. Só fui governo quatro anos, quando governei o Paraná, e durante sete meses do segundo mandato do FH. O meu itinerário todo foi na oposição, contestando. Mudei várias vezes de sigla, para não mudar de lado, por coerência. Nunca barganhei as minhas convicções.

O senhor vai entregar ministério ao centrão?

Para nenhum partido. Vou escolher ministros qualificados. Não importa de onde venham.

Em 2019, o senhor terá no Congresso os mesmos caciques partidários desse sistema que o senhor critica. Vai refundar a República com esses mesmos chefes de partidos?

Você acha que eles não mudam, mas eu acho que eles podem mudar. É fácil dizer que tem corrupção no Congresso. Tem, mas não podemos generalizar. Por que há corrupção no Congresso? Porque, do outro lado da rua, está o corruptor, o presidente da República. Nesse presidencialismo de muito poder, o Congresso dança a música que o presidente toca. O presidente tem que ter coragem de promover mudanças se valendo da credibilidade obtida nas urnas. Se a sociedade apoiar, ele vai ter o Congresso ao lado. O Congresso vai reabilitar sua imagem. Não vai remar contra a maré. Isso é ingênuo? Alguns podem imaginar que seja. Temos de ser otimistas.

Vai soltar Lula, como Ciro Gomes defendeu?

Se cometeu crime, o lugar dele é na cadeia. Não há outra alternativa. A ideia fundamental da refundação da República é que todos devemos nos submeter às leis.

Como avalia a liderança de Lula nas pesquisas?

Contesto essa liderança. Como alguém lidera as pesquisas com 50% de rejeição? O presidiário ( em referência a Lula) está inelegível. Uma minoria insignificante o apoia. Temos de olhar o Brasil decente. Isso é uma afronta ao Brasil. É como se o PCC se transformasse em partido e o Marcola ( líder) fosse candidato à Presidência. Esse é o Brasil que queremos? Lula tem méritos? Claro. Mas o que vale é o conjunto da obra. E ele foi perverso, destruiu sonhos e esperanças. Não sempregos e salários.

O senhor vai fazer a reforma da Previdência?

De tudo que se produz no país, 40% circulam nos cofres públicos e 65% disso desaparece com a Previdência e com a folha de pessoal. O ajuste fiscal é urgente. Vou propor que o presidente Temer, depois das eleições, suspenda o decreto da intervenção no Rio e vote a reforma no Congresso em outubro. Se houver segundo turno, os dois candidatos a presidente vão apoiar.

Vetaria o aumento do Judiciário e acabaria com o auxílio-moradia?

Não tenha a menor dúvida. E cortaria o auxílio nos três poderes. Eu não uso auxílio-moradia.

O que o senhor pensa sobre a posse de arma?

Temos que respeitar a população. Houve um plebiscito e 63% foram favoráveis à venda de arma. É um direito do cidadão ter uma arma em sua casa, para permitir a autodefesa. Mas isso não elimina a responsabilidade do Estado na segurança. Não é política de segurança pública. Isso é o respeito ao livre arbítrio.