Título: Lobby para facilitar processos no DNPM
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2012, Política, p. 4
OPERAÇÃO MONTE CARLO
Gravações da PF mostram que Cachoeira pediu a intervenção política de Demóstenes Torres no Departamento Nacional de Produção Mineral, com intuito de favorecer a Delta
Nem o subsolo brasileiro escapou das articulações do contraventor Carlinhos Cachoeira. Escutas telefônicas da Operação Monte Carlo, realizadas pela Polícia Federal com autorização judicial, mostram que o bicheiro pediu a intervenção política do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) perante o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para acelerar processos de pesquisas e lavras favorecendo empresas ligadas a seu esquema, especialmente a empreiteira Delta — Cachoeira é apontada como sócio oculto da construtora.
As investigações da Polícia Federal registraram a insistência de Cachoeira em marcar “audiência” no DNPM para discutir a pendência de um negócio do grupo. Dois telefonemas que mostram o bicheiro cobrando atuação de Demóstenes foram registrados em abril e outro no início de maio do ano passado. Em um dos diálogos, Cachoeira afirma que o assunto deve ser tratado no DNPM de Goiás. “Doutor, vamos marcar lá no DNPM em Goiânia”, registra o grampo. “O negócio lá do DNPM para mim era em Brasília, mas é o DNPM de Goiânia”, acrescenta o contraventor. Demóstenes responde que não estará na cidade na data pretendida. “Você me avisa aí. Quer que eu faça o quê?”, diz o senador. O bicheiro ressalta a importância da presença do parlamentar na audiência. “Quero que marca lá, mas você não vai estar aqui, eu volto a te ligar.”
Três meses depois do registro das conversas telefônicas entre Cachoeira e Demóstenes acordando audiência no DNPM de Goiânia, a Delta abriu processo de requerimento de licença na superintendência do órgão de mineração em Goiás pedindo o direito de explorar cascalho no município de Jataí, cidade que fica a 320km de Goiânia. A Delta atua no município em obras federais de adequação da BR-060, pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A empreiteira tem 20 processos de exploração de lavras no DNPM distribuídos em seis estados: Pernambuco, Goiás, Piauí, Sergipe, Ceará e Alagoas. Para a empreiteira, os minerais de maior interesse são cascalho, granito, saibro, arenito e laterita, para a construção civil. Em resposta ao Correio, a assessoria de imprensa da Delta afirmou que “desconhece” qualquer tipo de intermediação política envolvendo o processo de exploração de cascalho no DNPM.
“O cascalho é matéria-prima básica para qualquer obra de construção civil. A exploração do subsolo só pode ser feita mediante autorização do DNPM. Assim como toda empresa de construção civil que age dentro da legalidade, a Delta Construção solicita autorização do DNPM para fazer extração de cascalho e qualquer outra exploração de minerais do subsolo. A empresa desconhece totalmente qual o interesse do senador e do empresário ao conversarem sobre o DNPM e a exploração do subsolo. Eles certamente responderão sobre isso. Agindo dentro da legalidade, a Delta acionou o órgão público responsável por outorgar autorizações para exploração mineral”, traz a nota.
Compromissos Assim como ocorre em outros estados, o DNPM de Goiás sofre grande influência política do PMDB. O atual superintendente do departamento, Dagoberto Pereira Souza, foi uma indicação do prefeito de Aparecida de Goiás, Maguito Vilela. O prefeito é citado nas gravações da Operação Monte Carlo durante conversas entre Demóstenes e Cachoeira sobre supostos compromissos assumidos por Maguito com o contraventor. Os elos do peemedebista com a Delta também passam por contrato de coleta de lixo firmado entre a empreiteira e o município administrado por Maguito.
Procurado pelo Correio, o superintendente do DNPM de Goiás negou qualquer “agendamento” de audiência com Demóstenes e Cachoeira e alega que sua gestão é posterior aos grampos, registrados em abril e maio. Dagoberto assumiu o cargo em novembro. “Comigo não teve agendamento, eu tomei posse em novembro, não me reuni nem com o senador Demóstenes nem com o senhor Cachoeira. Em nome da Delta não há lavra aqui, em Goiás. O que ocorre é que a lavra pode estar no nome do dono da terra, mas em nome da Delta, não tem.”
O antecessor de Dagoberto no cargo, Washington Ribeiro, afirma que apesar de as escutas da investigação indicarem que o senador marcou audiência com o superintendente do DNPM à época em que ocupava o órgão afirma que nunca se reuniu com Demóstenes e só passou a conhecer Cachoeira por fotos, depois do escândalo que atingiu o bicheiro. “Nunca recebi o Demóstenes. Foi outra pessoa, então. Nunca conversei com esse moço (Cachoeira), mas já me apaixonei por ele de tanto ver fotografia”, disse. A assessoria de imprensa do senador Demóstenes Torres não se manifestou até o fechamento desta edição.
Nunca recebi o Demóstenes. Foi outra pessoa, então. Nunca conversei com esse moço (Cachoeira), mas já me apaixonei por ele de tanto ver fotografia” Washington Ribeiro, ex-superintendente do DNPM em Goiás]]>